Seja bem-vindo para conhecer e aprender. Hoje é

domingo, 17 de fevereiro de 2013

425 mil ações que dependem do STF estão paradas em todo o país.

Levantamento do próprio Supremo em 14 tribunais foi atualizado em janeiro.
Na próxima quarta (20), STF analisa 2 processos com 'repercussão geral'.

Mariana Oliveira Do G1, em Brasília

Levantamento realizado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) mostra que mais de 425 mil processos judiciais estão parados em 14 tribunais do país à espera de decisões da Suprema Corte. Os dados foram atualizados em janeiro deste ano e fazem parte das estatísticas sobre ações que tiveram repercussão geral reconhecida.
AÇÕES PARALISADAS À ESPERA DO STF
Tribunal
Processos parados
Tribunal Regional Federal da 1ª Região
8.657
Tribunal Regional Federal da 2ª Região (considerando somente Juizado Especial Federal)

8.683
Tribunal Regional Federal da 3ª Região (considerando somente Juizado Especial Federal)
33.325
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (considerando os dados do Juizado Especial Federal)
63.929
Tribunal Regional Federal da 5ª Região (considerando somente Juizado Especial Federal)
15.775
Superior Tribunal de Justiça
2.016
Tribunal Superior do Trabalho
26.054
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
16.015
Tribunal de Justiça de Pernambuco
1.104
Tribunal de Justiça de Santa Catarina
2.858
Tribunal de Justiça de São Paulo
192.310
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro
6.554
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte
834
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul
47.085
Fonte: STF
Quando um tema alvo de muitos questionamentos judiciais chega ao Supremo, a Corte pode definir que há repercussão geral, ou seja, que a decisão tomada pelo plenário deve ser seguida nas instâncias inferiores. Com isso, os processos sobre o assunto ficam sobrestados (paralisados) até que o STF decida.
Na próxima quarta-feira (20), o Supremo volta a analisar processos com repercussão geral e que influenciam a vida de milhares de brasileiros. Durante todo o segundo semestre de 2012, o tribunal esteve dedicado ao processo do mensalão, que terminou com 25 condenados.
Estão na pauta da próxima quarta processo que pede a validade da revisão da aposentadoria e outro que definirá de quem é a competência para julgar processos sobre previdência privada.
Segundo o ministro Marco Aurélio Mello, a definição de processos desse tipo é uma preocupação para o tribunal.
"Nos preocupamos muito com isso porque processos versando sobre a mesma matéria nos tribunais do país estão sobrestados, e as partes aguardando decisão do Supremo", destacou Marco Aurélio.
Dos 425.199 processos parados nos 14 tribunais conforme a última atualização do Supremo, cerca de 500 se referem à revisão de aposentadoria.
Em um recurso que será julgado, uma mulher pediu o direito de mudar a data de início do benefício, uma vez que isso aumentaria o valor de seu vencimento. Ela esperou para se aposentar com mais idade, em 1980, e percebeu que a aposentadoria foi menor do que se tivesse pedido antes, em 1979, quando já havia atingido os requisitos mínimos para pleitear o benefício. Ela pede ainda o direito a receber a diferença nos mais de 30 anos que se passaram.
Ao analisar o caso, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) afirmou que não há previsão legal para revisar a aposentadoria sem que haja irregularidade na concessão. A aposentada disse que a decisão fere o artigo 5º da Constituição, que estabelece que "a lei não prejudicará o direito adquirido".
O processo foi discutido pelo plenário do Supremo em fevereiro do ano passado, mas a decisão acabou sendo adiada por um pedido de vista (mais tempo para analisar o processo) do ministro Dias Toffoli.
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) argumentou que, caso o Supremo conceda o pedido, isso poderá aumentar ainda mais o déficit nas contas da Previdência Social.
Na ocasião, a ministra relatora do processo, Ellen Gracie, chegou a conceder o direito da revisão, mas negou o pagamento retroativo. Como Ellen Gracie já votou, a ministra Rosa Weber, que entrou no lugar dela, não votará sobre o tema, segundo a assessoria do Supremo.
Outras 9,7 mil ações paralisadas nos tribunais abordam a competência de tribunais sobre a previdência privada. Nesta semana, o Supremo pode julgar um recurso da Fundação Petrobras de Seguridade Social (Petros) que questiona a competência do Tribunal Superior do Trabalho (TST) para decidir sobre a previdência privada decorrente de contratos de trabalho. Para a Petros, a Constituição atribui à Justiça comum esse papel.
O pedido da Petros está na pauta da corte e caberá ao presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, decidir se levará o processo a discussão.
Planos econômicos
O maior número de processos paralisados nos 14 tribunais sobre os quais o Supremo tem informações se refere ao julgamento de ações que contestam os índices de correção monetária decorrentes dos planos econômicos Bresser, Verão, Collor I e II.
Dos 425 mil processos parados, 226.137 mil são referentes aos planos econômicos. Não há previsão para que as ações referentes ao tema sejam incluídas na pauta do plenário, mas a expectativa é de que isso ocorra ainda neste ano.

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Atividades do cotidiano fazem tão bem quanto ir à academia.

Pesquisa concluiu que exercícios físicos proporcionam benefícios à saúde independentemente do tipo de atividade. Ir à academia pode ser tão saudável quanto subir escadas ou limpar a casa.

Atividade física: Exercitar-se não quer dizer somente frequentar uma academia, mas também ser fisicamente ativo no dia-a-dia, como subindo mais escadas e passando menos tempo sentado
Atividade física: Exercitar-se não quer dizer somente frequentar uma academia, mas também ser fisicamente ativo no dia-a-dia, como subindo mais escadas e passando menos tempo sentado (Thinkstock)

Ser fisicamente ativo não quer dizer necessariamente frequentar uma academia vários dias na semana. Pode também significar realizar uma série de exercícios curtos do cotidiano, como subir escada ou varrer a casa, ao longo do dia. E, ao menos de acordo com os resultados de um novo estudo da Universidade Estadual de Oregon, nos Estados Unidos, esses dois tipos de atividade física são igualmente benéficos à saúde — capazes de prevenir a pressão e o colesterol altos. Essa pesquisa está presente na edição deste mês do periódico American Journal of Health Promotion.

Conheça a pesquisa

TÍTULO ORIGINAL: Association Between Biologic Outcomes and Objectively Measured Physical Activity Accumulated in ≥10-Minute Bouts and <10-Minute Bouts
ONDE FOI DIVULGADA: periódico American Journal of Health Promotion
QUEM FEZ: Paul Loprinzi e Bradley Cardinal
INSTITUIÇÃO: Universidade Estadual de Oregon, Estados Unidos
RESULTADO: Cumprir os 150 minutos semanais de atividade física reudz o risco de síndrome metabólica, independentemente se cumpridos com exercícios regulares feitos na academia, por exemplo, ou se com atividades do cotidiano, como subir escadas e limpar a casa.

Paul Loprinzi, coordenador da pesquisa, e sua equipe avaliaram os dados de 6.321 pessoas entre 18 e 85 anos que haviam participado do Observatório Nacional de Exames em Saúde e Nutrição (NHANES, na sigla em inglês) entre 2003 e 2006. Os pesquisadores avaliaram fatores de saúde dos participantes como níveis de colesterol, triglicérides e açúcar no sangue, e também mediram os níveis de atividade física praticados pelos indivíduos com a ajuda de um acelerômetro (aparelho que mede a intensidade de exercícios feitos ao longo do dia).
De acordo com os resultados, 43% das pessoas que não frequentavam a academia em dias predeterminados cumpriam, mesmo assim, as recomendações mínimas de exercícios (150 minutos por semana). Após levarem em consideração fatores como idade e índice de massa corporal (IMC), os autores do estudo concluíram que cumprir esse tempo mínimo de atividade física por semana — se com exercícios de academia ou com a realização de atividades do cotidiano — reduz o risco de síndrome metabólica da mesma forma.
A síndrome metabólica é caracterizada por um grupo de fatores que predispõem às doenças cardiovasculares, ao diabetes e, quando as doenças ocorrem associadamente, à morte prematura. Para ser diagnosticado com síndrome metabólica, o paciente deve se enquadrar em três ou mais das seguintes características: hipertensão, açúcar elevado no sangue, excesso de gordura abdominal, baixo nível de bom colesterol e índices elevados de ácidos graxos.
Leia também:
Atividade física de lazer aumenta a expectativa de vida em até sete anos
Caminhada rápida ou corrida reduzem pela metade o risco de síndrome metabólica
Para emagrecer, o melhor é praticar somente exercícios aeróbicos
Ficar muito tempo sentado pode dobrar o risco de diabetes
"Nossa pesquisa sugere que um estilo de vida ativo pode ser tão benéfico quanto uma abordagem estruturada de prática de exercícios para a melhora de uma série de fatores de saúde", diz Loprinzi. Segundo o pesquisador, os resultados devem incentivar que as pessoas busquem se exercitar o máximo possível no dia a dia, como "andar pela casa enquanto falam ao telefone em vez de permanecerem sentadas ou então optar por andar de escada, e não de elevador, sempre que possível. Nosso estudo dá opções realistas para que as pessoas atinjam as recomendações diárias de atividade física de uma forma natural", diz.

Seis formas de driblar o sedentarismo:

Levante da cadeira de tempos em tempos

Em 2008, uma pesquisa australiana divulgada no periódico Diabetes Care mostrou que o aumento do número de pausas em momentos sedentários que um indivíduo faz, como levantar da cadeira após mais de uma hora e meia sentado, proporciona a perda da circunferência abdominal e a redução do índice de massa corporal (IMC) e nos níveis de glicose no sangue. Para o ortopedista Sérgio José Nicoletti, as pessoas não devem passar mais do que uma hora sentadas sem se levantar. A cada hora, portanto, é importante levantar, caminhar pela casa ou pelo escritório e alongar-se quando possível. Esse hábito alivia o incômodo provocado pelas horas na cadeira e ativa a circulação sanguínea. Alarmes e recados em lugares visíveis ajudam um indivíduo a lembrar de sair da cadeira. No trabalho, criar o hábito de andar até a mesa de algum colega em vez de mandar e-mail ou telefonar para ele ou fazer o caminho mais longa até o banheiro são opções que ajudam a ampliar o tempo de movimento.

Mesmo sentado, se movimente

Há determinados exercícios que podem ser feitos por uma pessoa enquanto ela está sentada e que conseguem amenizar alguns problemas decorrentes do sedentarismo. Os médicos recomendam que as pessoas contraiam e relaxem o abdome seis vezes seguidas e por várias vezes ao dia para fortalecer o músculo da região e melhorar a postura. Eles também indicam que, sempre que possível, as pessoas mexam e estiquem os joelhos para evitar problemas na região a longo prazo; girem pés e tornozelos para os dois lados; façam movimentos para cima a pera baixo com as mãos e alonguem braços, ombros e pescoço. Por fim, procure arrumar sua postura todas as vezes que se lembrar.

Fique sentado em uma posição adequada

De acordo com Nicoletti, a posição em que uma pessoa permanece sentada pode interferir no risco dos problemas acarretados pelo sedentarismo. O médico indica que a cadeira não tenha apoio dorsal completo, ou seja, que o seu encosto não envolva todas as costas, para que, assim, a coluna faça sua curvatura normal ao sentarmos. Além disso, é importante que o centro da tela do computador esteja na mesma altura dos olhos e que os pés estejam apoiados no chão e que a dobra dos joelhos forme um ângulo de 90º.

Use os momentos de lazer a favor da sua saúde

De acordo com um artigo publicado em 2010 no periódico Diabetes, cada hora que um indivíduo passa sentado em frente à televisão aumenta em 11% o risco de morte. Se o trabalho de uma pessoa exige que ela fique sentada durante horas, o mesmo não vale para os momentos de lazer. Prefira realizar atividades que exijam movimento, como andar de bicicleta ou caminhar no parque, em vez de ficar em frente à televisão ou jogar videogame, por exemplo.

Pratique atividade física regularmente

Segundo o novo estudo australiano, ter o hábito de praticar alguma atividade física diminui o risco de mortalidade relacionado ao tempo prolongado no qual alguém fica sentado. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que os adultos pratiquem ao menos 30 minutos de alguma atividade física, como caminhada rápida, todos os dias, além de algum exercício que fortaleça músculos e ossos duas vezes por semana. Esse hábito reduz o risco de diversas doenças, melhora a saúde óssea e muscular, além de gastar a energia que consumimos e não gastamos nos momentos de sedentarismo. "Trabalhar com a nossa musculatura diminui as dores e os problemas acarretados pelo período prolongado de tempo em que ficamos sentados. O músculo abdominal fortalecido, por exemplo, melhora a postura e nos protege de dores nas costas", diz o médico ortopedista Márcio Passini.

Caminhe mais

Falta de tempo e de vontade para ir à academia não deve ser desculpa para que uma pessoa deixe de praticar as atividades físicas necessárias em um dia. "Meia hora de esteira pode ser substituída por uma caminhada do estacionamento, ponto de ônibus, metrô ou trem até o trabalho: por exemplo, é só parar o carro em um lugar mais longe ou parar em estações mais distantes do que a que está acostumado. Subir escadas em vez de usar o elevador e ir a pé, e não de carro, para lugares próximos também são saídas", diz o ortopedista Nicoletti. Para controlar a quantidade de exercício que você faz no dia a dia, cronometre por quanto tempo você caminha ou conte os passos que dá (existem aplicativos de celular, por exemplo, que fazem isso por você) e compare essa quantidade com os passos dados quando anda durante 30 minutos na esteira. "No entanto, é preciso ressaltar que fragmentar o tempo de atividade física diária durante o dia, embora seja eficaz para saúde, não ajuda uma pessoa que quer emagrecer", afirma Passini.

Em  http://veja.abril.com.br/noticia/saude/atividades-do-dia-a-dia-sao-tao-beneficas-quanto-ir-a-academia






Análise científica sugere restrição ao diclofenaco.

De acordo com os autores, a droga, que é um anti-inflamatório não esteroide amplamente utilizado ao redor do mundo, apresenta mais riscos à saúde cardiovascular do que outros remédios do tipo.

Depois do infarto: tratamento com analgésicos da classe dos antiinflamatórios não-esteróides podem elevar os riscos cardíacos
Diclofenaco, um analgésico da classe dos antiinflamatórios não-esteróides, eleva risco cardíaco mais do que outras drogas do tipo, diz análise (Thinkstock)

Uma análise publicada nesta quarta-feira no periódico PLoS Medicine sugere que o diclofenaco, um anti-inflamatório não esteroide, deixe de fazer parte das listas nacionais de medicamentos essenciais devido ao seu alto risco cardiovascular. Os autores do trabalho também afirmam que seria importante que as autorizações para o marketing do remédio ao redor do mundo fossem revogadas. "O diclofenaco não oferece maiores vantagens em termos de segurança gastrointestinal. Dada a disponibilidade de alternativas mais seguras, o remédio deveria ser removido da lista de drogas essenciais dos países", escreveram os pesquisadores.

Conheça a pesquisa

TÍTULO ORIGINAL: Use of Non-Steroidal Anti-Inflammatory Drugs That Elevate Cardiovascular Risk: An Examination of Sales and Essential Medicines Lists in Low-, Middle-, and High-Income Countries
ONDE FOI DIVULGADA: periódico PLoS Medicine
QUEM FEZ: Patricia McGettigan e David Henry
INSTITUIÇÃO: Instituto de Pesquisa William Harvey,  Londres, e Instituto para Ciências de Avaliação Clínica, Canadá.
RESULTADO: O diclofenaco não apresenta maior segurança gastrointestinal do que outros anti-inflamatórios não esteroides. No entanto, promove um risco cardiovascular maior do que os outros, e semelhante ao apresentado pelo Vioxx, remédio que saiu de circulação devido ao seu risco ao coração. O diclofenaco é amplamente utilizado ao redor do mundo e chega a ser o anti-inflamatório não esteroide mais usado em alguns países. Por esse motivo, a análise sugere que o medicamento deixe de fazer parte das listas nacionais de drogas essenciais.

Os anti-inflamatórios não esteroides são uma classe de medicamentos prescritos para controlar a dor, a febre e a inflamação. Também fazem parte dessa classe drogas como o ácido acetilsalicílico, o ibuprofeno e o naproxeno. De acordo os autores do trabalho, já é sabido há algum tempo que alguns anti-inflamatórios não esteroides elevam o risco de uma pessoa sofrer algum evento cardiovascular, como ataque cardíaco ou derrame cerebral. E, da mesma forma, os especialistas também sabem que o diclofenaco parece aumentar essa chance mais do que outros remédios do tipo, como o naproxeno, por exemplo. Mesmo assim, em países como Canadá e Inglaterra, o diclofenaco é prescrito até três vezes mais do que o naproxeno.

Leia também: Estudo liga uso de analgésicos ao aborto espontâneo

Perigo conhecido — Ainda de acordo com o trabalho, o risco cardiovascular do diclofenaco é equivalente ao apresentado pelo Vioxx (rofecoxib), que um dia já foi o anti-inflamatório mais vendido no Brasil e cuja venda foi proibida em 2004 justamente pelo risco que apresentava ao coração. Segundo um estudo feito em 2000 pelo próprio fabricante do Vioxx, o laboratório Merck & Co., o consumo diário de 24 miligramas da droga por mais de 18 meses dobrava as chances de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
A análise publicada nesta terça-feira avaliou os medicamentos utilizados em 15 países de diferentes níveis socioeconômicos e descobriu que o diclofenaco é o anti-inflamatório não esteroide mais utilizado em todos eles. De acordo com a pesquisa, o diclofenaco também faz parte da lista de remédios essenciais de 74 países de baixa, média e alta renda.
A análise foi feita por especialistas do Instituto de Pesquisa William Harvey, em Londres, e do Instituto para Ciências de Avaliação Clínica, no Canadá. Os autores acreditam que esses dados revelam que os riscos associados ao diclofenaco não estão sendo passados para a população de uma forma clara e eficiente.

Opinião do especialista

Carlos Alberto Machado
Cardiologista e diretor de de promoção de saúde cardiovascular da Sociedade Brasileira de Cardiologia

"Todo anti-inflamatório não esteroide apresenta um risco para a saúde cardiovascular, mas cada um o faz com intensidades diferentes. Isso porque esses remédios inibem a dilatação dos vasos e, portanto, podem impedir que a artéria permaneça aberta. Além disso, esses medicamentos danificam os rins, especialmente dos idosos, que compõem a maioria dos pacientes que fazem uso dessa droga.
O diclofenaco é um dos anti-inflamatórios não esteroide mais antigos e, portanto, um dos mais receitados. O fato de ele apresentar um risco maior do que os outros não quer dizer que os cuidados com o uso desses remédios devam ser diferentes. Os cuidados são um só.
Assim, e isso vale para todos os anti-inflamatórios não esteroides, o paciente que fizer uso de um medicamento do tipo deve ter um acompanhamento médico e não pode tomar o remédio por um tempo prolongado e de forma indiscriminada. Além disso, o médico deve informar o indivíduo sobre os riscos da droga. Penso que esses medicamentos deveriam ser vendidos somente com a apresentação da receita médica."

Em http://veja.abril.com.br/noticia/saude/analise-cientifica-sugere-restricao-ao-diclofenaco

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Por que os homens têm cada vez menos espermatozoides?

Estudos mostram queda na qualidade do sêmen ao longo dos anos em todo o mundo, inclusive o Brasil. Stress, obesidade, poucas horas de sono e poluição do ar, entre outros fatores ligados à vida moderna, podem ser os culpados.

Juliana Santos
Espermatozoides
Estudos de diversos países têm mostrado reduções na quantidade e qualidade dos espermatozoides (Thinkstock)

Nos últimos anos, estudos de diversos países chegaram a uma conclusão preocupante: a quantidade e a qualidade dos espermatozoides no sêmen dos homens estão diminuindo. Ainda não é possível afirmar se a fertilidade está sendo afetada por esse fenômeno, mas essa redução não deixa de ser alerta importante sobre a saúde masculina. O sêmen é considerado um "termômetro" da saúde do homem, de forma que a queda na sua qualidade, mesmo que não implique em dificuldades de reprodução, não é um bom sinal.
Um dos estudos mais relevantes, realizado com 26.609 homens na França e publicado em dezembro do ano passado no periódico Human Reproduction, mostrou uma redução de 32% na concentração dos espermatozoides em um período de 17 anos. A média para homens de 35 anos de idade caiu de 73,6 milhões por mililitro de sêmen para 49,9 milhões.
Na Espanha, um estudo comparou 273 amostras de sêmen de 2001 e 2002 com 215 amostras de 2010 e 2011 e observou uma redução na concentração de espermatozoides de 72 milhões por mililitro de sêmen para 52,1. A Finlândia mostrou um padrão parecido: um estudo com 858 homens mostrou que a concentração espermática, que em 1998 era de 67 milhões por mililitro de sêmen, caiu para 48 milhões em 2006.
Além da quantidade de espermatozoides por mililitro, denominada concentração espermática, outros fatores importantes para a qualidade do sêmen são a motilidade e a morfologia. A primeira se refere à capacidade de movimentação do espermatozoide: aqueles com mais chances de realizar a fecundação são os que "nadam" rápido e em linha reta. Já a morfologia se refere à forma do gameta, como o tamanho da cabeça em relação à cauda.
Leia também: Muita televisão prejudica a fertilidade masculina, diz estudo
Um estudo realizado na Dinamarca e publicado no periódico British Medical Journal (BMJ), concluiu que apenas um quarto dos homens tinha qualidade espermática ideal, levando em consideração os fatores explicados acima. A pesquisa contou com a participação de 4.867 homens, com idade média de 19 anos, e mostrou também que um em cada quatro homens deve levar um tempo prolongado para conseguir engravidar a parceira e 15% apresentam alto risco de precisar de tratamento de fertilidade.
No Brasil, um estudo realizado por pesquisadores da clínica de reprodução assistida Fertility analisou 2.300 amostras de sêmen de homens com idade média de 35 anos, com um  intervalo de 10 anos (743 amostras de 2000-2002 e 1536 de 2010-2012). Os resultados mostraram uma redução na concentração de espermatozoides por mililitro de 61,7 milhões para 26,7. A quantidade de espermatozoides morfologicamente normais caiu de 4,6% para 2,7%.
Edson Borges, especialista em reprodução humana e Diretor Cientifico da clínica Fertility, que coordenou o estudo, explica que os números brasileiros são menores do que os resultados dos outros países porque a pesquisa foi realizada com homens que procuraram a clínica para tratamento de fertilidade, o que significa que a probabilidade de que eles já apresentem uma quantidade menor de espermatozoides é maior. Ainda assim, a tendência de queda observada é semelhante a dos outros estudos.
A pesquisa, que será apresentada no Congresso Anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia (ESHRE), em julho de 2013, mostra também um aumento na azoospermia, ausência de espermatozoides no sêmen. No período estudado, a quantidade de homens com esse quadro aumentou de 4,9% para 8,5%. Além disso, foi encontrado um aumento na quantidade de homens com alteração seminal grave (problemas na concentração, morfologia e mobilidade dos espermatozoides): de 15,7% para 30,3%.
Mudança de parâmetros — Em 2010, os parâmetros estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para análise do sêmen se tornaram menos rígidos. A partir dessa data, a concentração mínima de espermatozoides por mililitro de sêmen para o homem considerado normal passou de 20 milhões, no manual de 1999 da OMS, para 15. Já a porcentagem mínima necessária de gametas considerados morfologicamente normais passou de 14% para 4%
Isso significa que os homens com concentração espermática entre 20 e 15 milhões de espermatozoides, por exemplo, que antes seriam considerados abaixo do normal e, por isso, deveriam realizar diversos exames para determinar as causas da concentração baixa, passam a ser considerados pacientes dentro da média. Para Conrado Alvarenga, urologista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e do Hospital Sírio Libanês, o impacto dessa modificação ainda é incerto, mas pode levar a um atraso na busca por ajuda médica. De acordo com ele, cerca de 40% de homens com espermograma alterado antes de 2010 passaram a ser considerados normais.
A redução nos valores de normalidade para os parâmetros seminais ocorreu devido aos resultados de um estudo multicêntrico, realizado pela própria OMS, que mostrou que os valores encontrados na média dos homens considerados férteis eram menores do que  aqueles que estavam sendo adotados como normais. "Antes de 2010 era comum os médicos sentirem que os critérios da OMS eram muito rígidos. A gente via vários homens nos consultórios que conseguiam engravidar a esposa mesmo estando abaixo dos valores determinados", diz Conrado. "O estudo de 2010 mostrou para o mundo que os valores normais não são tão altos quanto se achava antes."
Uma crítica feita por especialistas ao estudo da OMS é o fato e que ele não incluiu amostragem de participantes latinos, de modo que é possível que os valores continuem inadequados para a população desses países, inclusive o Brasil.
De acordo com Aguinaldo Nardi, presidente da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU), a entidade está desenvolvendo um estudo que busca descobrir os valores normais de espermograma dos brasileiros, que deve ficar pronto em cerca de 10 meses. "O estudo também servirá para futuras comparações em relação à qualidade e quantidade de espermatozoides no sêmen", diz Aguinaldo.
Fertilidade – Segundo a definição da OMS, um homem só pode ser considerado infértil se ele não consegue engravidar sua companheira (desde que ela seja normal no que se refere à fertilidade) em até 12 meses de tentativa, uma vez que esse é o período em que 90% dos casais conseguem atingir o objetivo. Isso significa que um homem não pode ser considerado infértil com base nos resultados da análise de sêmen, a não ser em casos extremos, como a azoospermia, ausência total de espermatozoides no sêmen ejaculado.
Por essa razão, apesar das diversas evidências científicas apontando para a redução na quantidade e piora na qualidade dos espermatozoides, ainda não se pode afirmar se isso provocou ou não o aumento da infertilidade. "Os estudos são realizados com base em espermogramas. Esse exame não é um carimbo de fértil ou infértil, ele é um sinal indireto de que alguma coisa não está bem", explica Conrado. "Um individuo com concentração espermática menor que 15 milhões por mililitro de sêmen, por exemplo, não é infértil. Ele pode engravidar a esposa, mas ele pode demorar mais que um ano, ou pode ser que ele tenha dificuldades mesmo."
De acordo com os especialistas, o aumento da procura por tratamentos para infertilidade e reprodução assistida também é uma realidade, mas ainda não é possível avaliar o impacto que a queda na qualidade dos espermatozoides pode ter nesse crescimento. Outros fatores, como as mulheres estarem engravidando cada vez mais tarde e um aumento do poder aquisitivo de classes mais baixas, que tornou esse tipo de tratamento mais acessível do que no passado, podem ter um peso maior nesse aumento do que a queda na qualidade seminal.
Alerta – Os dados existentes até o momento, apesar de não demonstrarem um comprometimento da fertilidade, são motivo de preocupação para os especialistas. Além de suas funções reprodutivas, o sêmen é considerado uma espécie de termômetro para saúde do homem, de forma que a queda da sua qualidade pode ser um reflexo de outros problemas de saúde. "Será que a piora na qualidade seminal não é um reflexo da piora da saúde no mundo, mesmo nos países desenvolvidos?", questiona Conrado Alvarenga.
Para os especialistas, tudo indica que a resposta é positiva, e as possíveis causas estão associadas àquilo que se convencionou chamar de "vida moderna". "O estereótipo do homem moderno é aquele mais gordinho, estressado, ejaculador precoce, muitas vezes impotente, que não tem tanto interesse sexual e que está as três da manhã checando o celular. Esse homem pode ficar cada vez mais infértil", afirma Conrado.
Carlos Petta, coordenador do Centro de Reprodução Humana do Hospital Sírio-Libanês, relaciona as causas dessa redução com a vida nas grandes cidades: "Essa situação é quase um retrato dos homens de cidade grande. Muitas vezes esses efeitos são maiores nas grandes cidades, porque o estilo de vida que a gente tem hoje é pior do que era há vários anos atrás. Só numa cidade como São Paulo, em termos de poluição, o quanto essa poluição está afetando várias funções do nosso organismo, inclusive a produção e qualidade dos espermatozoides?"
Estilo de vida — As principais causas apontadas por especialistas para a queda na qualidade do sêmen são: poluição do ar, obesidade, estresse, consumo de bebidas alcoólicas, cocaína e crack, tabagismo, alimentação deficiente e sedentarismo.  Esses fatores, que mais recentemente têm sido relacionados com prejuízos na produção de gametas, já são conhecidos há mais tempo por serem prejudiciais para a saúde e a qualidade de vida.
A obesidade e o sedentarismo, por exemplo, ajudam a intensificar a conversão de hormônio masculino (testosterona) em hormônio feminino (estrogênio) no homem. Uma quantidade elevada de gordura na região do púbis também ajuda a elevar a temperatura dos testículos, o que é prejudicial para a espermatogênese. Além disso, tanto a obesidade quanto o stress provocam um desequilíbrio hormonal, que exerce efeitos negativos sobre a produção dos espermatozoides.
A relação entre a obesidade e a piora da qualidade seminal foi observada por um artigo de revisão, que analisou 21 estudos sobre o assunto, publicado em dezembro de 2012 no periódico Human Reproduction. A pesquisa concluiu que tanto a obesidade quanto o fato de estar acima do peso estão relacionados com o aumento da prevalência de azoospermia.
Já a poluição do ar, tabagismo e uso de drogas, como a cocaína e o crack, provocam o aumento da produção de substâncias que são tóxicas para os testículos, enquanto uma alimentação deficiente leva à diminuição da produção de antioxidantes, que combatem os radicais livres e seus efeitos negativos na produção dos espermatozoides.
Previsões – A maior parte dos estudos sobre o assunto ainda é muito recente, e mais pesquisas serão necessárias para que se possa ter uma ideia mais clara da dimensão que essa redução da qualidade do sêmen pode atingir no futuro.
"Não deu tempo ainda de falar 'temos dez anos de estudos mostrando que o homem moderno está ficando infértil'. Tudo está surgindo agora, 2012, 2010, para a ciência é ontem, é muito recente", afirma Conrado Alvarenga. "A gente está acompanhando a queda nos parâmetros seminais no dia a dia."
Para Daniel Zylberstejn, urologista e assessor técnico de análise seminal do laboratório Fleury Medicina e Saúde, o potencial reprodutivo do homem é um fator decisivo para determinar o quanto ele será afetado pelos estímulos externos. "Ainda é difícil de entender o quanto isso pode significar uma perda de potencial reprodutivo no futuro. Provavelmente aqueles que já nascem com potencial baixo podem ser mais afetados por esses agravos, mas talvez esses fatores não causem tantos efeitos naquele homem que tem potencial reprodutivo muito alto", afirma.
Se, por enquanto, a queda na qualidade seminal não pode ser considerada um problema reprodutivo, ela é mais um sinal de que hábitos pouco saudáveis, principalmente os relacionados ao estilo de vida moderno, podem afetar a saúde de diversas formas. "Essa redução pode ser transitória e melhorar. Mas é óbvio que a vida moderna traz consequências ruins para os espermatozoides", afirma Aguinaldo Nardi.

Como prevenir a queda na qualidade do sêmen

Especialistas ouvidos pelo site de VEJA indicam hábitos saudáveis que, além de fazerem bem para a saúde de forma geral, ajudam a evitar danos à qualidade dos espermatozoides.

Atividade física

A obesidade e o sedentarismo colaboram para o desequilibro hormonal, que prejudica a formação dos gametas. São recomendados pelo menos 30 minutos de atividades, três vezes por semana.

Parar de fumar

As substâncias tóxicas presentes no cigarro também afetam a produção de espermatozoides. Deixar de lado esse hábito é um passo importante para a melhora da saúde e qualidade de vida, e muitas vezes pode ser necessária ajuda médica para atingir esse objetivo.

Reduzir o consumo de álcool

Não há uma medida certa para consumir álcool, mas os especialistas recomendam uma redução para a menor quantidade possível.

Evitar o stress

A modernidade e, especialmente a vida nas grandes cidades, cria essa cultura de que “tudo é para ontem”. O stress também é responsável pelo desequilíbrio hormonal, e deve ser evitado. A atividade física pode ser um meio de diminuir a carga de stress, além de atividades de relaxamento, como a yoga.

Dormir melhor

O sono é essencial para regular o bom funcionamento do organismo. Apesar da quantidade ideal variar de acordo com cada pessoa, a recomendação básica é de oito horas diárias de sono. Desligar o celular durante a noite, se possível, pode ajudar a ter um sono mais tranquilo.

Alimentação balanceada

Uma alimentação rica em todos os nutrientes necessários para o organismo ajuda a evitar uma série de doenças, que podem prejudicar a qualidade do sêmen.  As vitaminas e os nutrientes mais relacionados à produção e espermatozoides são: vitamina A, C, E zinco e ômega 3.

Em http://veja.abril.com.br/noticia/saude/por-que-os-homens-tem-cada-vez-menos-espermatozoides

Em 1934, USP nasceu para formar a elite intelectual brasileira.

FELIPE ODA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
A USP nasceu em 1934 com o objetivo principal de educar filhos de políticos, advogados, engenheiros, médicos e fazendeiros de café -a elite paulista. Um decreto reuniu sob um mesmo nome a Faculdade de Direito, de 1827, a Escola Politécnica, de 1893, e a Faculdade de Medicina, de 1912.
Segundo pesquisadores, mais de 90% dos primeiros alunos tinham concluído o ensino básico na rede pública. "Colégio particular era para os menos inteligentes", explica Marilda Nagamini, pesquisadora do Centro de História da Ciência da USP e coautora do livro "Fuvest 30 anos", de 2007.
Se em 79 anos esse índice caiu de mais de 90% para menos de 30% é porque a USP se tornou, ao longo das décadas, um reflexo do próprio sistema educacional brasileiro.
Os especialistas não sabem precisar quando o ensino público passou a perder do ensino particular -nem quando houve o aumento de alunos da USP egressos de particulares. Mas, para Shozo Motoyama, doutor em história social pela USP e autor de "USP 70 anos" (2006), os anos sob a ditadura (1964-1985) foram determinantes.

Origem na Elite

Faculdade de Direito da USP (Universidade de São Paulo) no Largo São Francisco

Com o intuito de fazer propaganda do progresso nacional, o regime militar investiu para ampliar o acesso ao ensino superior. Ao mesmo tempo, explica José Sérgio de Carvalho, professor da Faculdade de Educação da USP, as bases da educação ficaram de lado.
O mercado viu, então, oportunidades na criação de escolas pagas. "As particulares eram, na maioria, confessionais [ligados a igrejas]. Após a década de 1960, a educação básica virou um negócio", diz Maria do Rosário Mortatti, professora da Unesp e pesquisadora sobre as universidades paulistas. "Com a escola pública oferecendo formação ruim, famílias com condições financeiras buscaram uma alternativa."
O perfil dos uspianos sofreu a maior mudança de sua história --em 2012, vale lembrar, 28% dos matriculados concluíram a educação básica em colégios públicos.
VESTIBULAR
Mesmo com mais repasses do governo, que garantiam mais vagas, a USP não conseguia dar conta da demanda. Veio, então, a necessidade de criar um mecanismo que restringisse o acesso: o vestibular.
Considerado o embrião da Fuvest, o Cescem (Centro de Seleção de Candidatos às Escolas Médicas) passou a recrutar alunos em 1964. Outros dois órgãos de seleção de universitários surgiram em 1967 e 1969.
Os três foram responsáveis pelo processo seletivo da USP até dezembro de 1976, data da primeira prova da Fuvest. A partir daí, a fundação assumiu o vestibular. No último exame registrou mais de 159 mil inscritos para menos de 11 mil vagas.
A alta concorrência na Fuvest e a baixa qualidade da educação pública criaram um abismo entre a universidade e os alunos da rede pública.
"A maioria dos alunos da rede pública ou não coloca a USP no horizonte ou sabe que, pela trajetória, será quase impossível", resume Wilson Mesquita, 36, doutor em sociologia pela USP e autor do livro "USP para todos? Estudante com desvantagens socioeconômicas e educacionais e fruição da universidade pública", de 2009.

Em http://www1.folha.uol.com.br/saopaulo/1224407-em-1934-usp-nasceu-para-formar-a-elite-intelectual-brasileira.shtml

Desiludido, Tiririca quer voltar a ser palhaço.

Publicidade
MÁRCIO FALCÃO
ANDREZA MATAIS
DE BRASÍLIA
Deputado mais votado no país em 2010, Tiririca (PR-SP) quer voltar a ser só palhaço. Desiludido com a política, ele disse à Folha que não disputará mais eleições e, findo seu mandato, em fevereiro de 2015, irá se desfiliar do PR.
Na metade da legislatura, Tiririca, que se elegeu com a promessa de descobrir o que faz um deputado, disse que já entendeu que "não dá para fazer muita coisa".

O desalento, no entanto, não é a razão para deixar o salário de R$ 26,7 mil, verba de gabinete de R$ 97.200 e direito a apresentar R$ 15 milhões em emendas.
A justificativa é a falta de tempo para se dedicar ao que mais gosta: fazer shows (que lhe rendem mais dinheiro do que a Câmara). "Eu sou artista popular. Aqui me prende muito. A procura pelos shows é enorme e não dá para fazer", afirma ele.

Em http://www1.folha.uol.com.br/poder/1225928-desiludido-tiririca-quer-voltar-a-ser-palhaco.shtml

É proibido proibir?

É um dos vícios do mundo moderno: a crença patética de que tudo é possível, tudo é permissível. Ou, como diziam os filhos do maio de 68, é proibido proibir.
Um caso ilustra esse vício com arrepiante precisão: as "barrigas de aluguel".
Li a excelente matéria de Patrícia Campos Mello publicada nesta Folha no domingo. E entendo a pergunta que anima o negócio: se um casal não pode ter filhos por infertilidade da mulher, por que não contratar os serviços de uma "mãe de aluguel", que terá o seu óvulo fecundado pelo espermatozoide do pai adotivo?
Na Índia, a pergunta virou turismo: só na cidade de Anand, conta a jornalista, nasce uma criança a cada três dias para "exportação". Os "clientes" costumam ser americanos, britânicos, japoneses, canadenses. Mas também há brasileiros na lista de espera. Que dizer do cortejo?
Começo pelas questões éticas básicas: será que um filho deve ser comprado (US$ 20 mil na Índia) como se compra uma mala Louis Vuitton ou um par de sapatos Manolo Blahnik?
E será legítimo, ó consciências progressistas, transformar as pobres do mundo em incubadoras dos filhos dos ricos? Não é preciso ter lido Kant para saber que os seres humanos devem ser tratados como um fim em si, não como um meio para.
Fato: o negócio é voluntário. Todas as partes participam dele com "autonomia", para usar ainda a linguagem kantiana. Mas o argumento da autonomia, mil perdões, não chega.
Se chegasse, nada impediria que um ser humano optasse autonomamente por ser escravo de outro. Vamos permitir o regresso da escravidão, mesmo que voluntária, desde que o escravo e o seu senhor exerçam os seus papéis autonomamente?
Não creio. Até porque falar em "autonomia" para gente em situação de pobreza extrema não passa de uma piada de mau gosto: a "mãe de aluguel" indiana e a mãe adotiva americana não habitam o mesmo planeta. A segunda escolhe comprar porque pode. A primeira praticamente é forçada a vender pela miséria da sua situação.
Na discussão das "barrigas de aluguel", parece que só os direitos das mães adotivas têm verdadeira força ética -o direito a serem felizes; o direito a terem filhos; o direito a comprá-los; e etc. etc.
Mas como responder aos direitos das "mães de aluguel"? Ou até dos "filhos comprados"? Será que essas duas entidades têm direitos, no sentido prosaico do termo?
Tempos atrás, quando em Portugal se debatia a "maternidade de substituição" (um processo semelhante às "barrigas de aluguel", mas sem dinheiro envolvido), lembro-me de formular algumas questões a respeito que se aplicam com maior força às "mães de aluguel" a aos "filhos comprados" de Anand.
Que direitos terá uma "mãe de aluguel" depois de entregar o filho biológico ao casal adotivo? Poderá visitar a criança? Será obrigada a afastar-se dela? Como? Por quê? Com que legitimidade?
E se, durante a gestação, a "mãe de aluguel" se recusar a entregar o filho porque desenvolveu uma ligação emocional com ele? Haverá forma de a coagir a cumprir o negócio? Em caso afirmativo, será isso tolerável? Será, no mínimo, decente?
Melhor ainda: o que acontece, para citar alguns casos que ficaram célebres nos Estados Unidos, quando o feto apresenta uma malformação uterina e a mãe adotiva pretender abortá-lo contra a vontade da "mãe de aluguel"? Pode? Não pode? Deve? Não deve?
Sem falar do próprio filho, aqui transformado em mero brinquedo sem rosto ou dignidade própria. Quais são as consequências para uma criança quando ela é separada precocemente da sua mãe biológica? Que impacto isso terá no seu desenvolvimento psicológico ou social? Alguém sabe? Alguém se interessa?
Aliás, como irá essa criança reagir quando, mais tarde, ela souber que foi o produto de uma "encomenda"? Será que deve saber? Será que não deve?
As perguntas não são apenas minhas. Elas encontram-se na vastíssima literatura ética sobre o assunto --e cada uma dessas perguntas foi motivada por um drama concreto, vivido por gente concreta, que entrou no negócio por acreditar que um filho é precisamente isso: um negócio.
Não é. Exceto para cabeças ocas que transformam qualquer desejo em "direito" --e qualquer "direito" em exploração dos mais pobres.

 Em:

João Pereira Coutinho, escritor português, é doutor em Ciência Política. É colunista do "Correio da Manhã", o maior diário português. Reuniu seus artigos para o Brasil no livro "Avenida Paulista" (Record). Escreve às terças na versão impressa de "Ilustrada" e a cada duas semanas, às segundas, no site da Folha de SP.

'O balcão fechou', diz ministro sobre pedidos de vagas de medicina.

FLÁVIA FOREQUE
DE BRASÍLIA
As novas regras para criação de cursos de medicina no país vão garantir o "interesse público" da sociedade ao priorizar a expansão em cidades e regiões onde hoje há baixa oferta de vagas e médicos em relação ao tamanho da população.
Governo vai decidir onde serão criadas escolas de medicina
Análise: Prioridade deveria ser o investimento dos cursos existentes
O argumento é do ministro Aloizio Mercadante (Educação), que defendeu a mudança na política de criação de cursos de medicina no país. Reportagem da Folha publicada nesta terça-feira revelou que, a partir de agora, o governo federal vai determinar onde serão abertos novos cursos da graduação. Hoje, a demanda parte das instituições de ensino superior.
"Essa lógica não assegura necessariamente o interesse público da sociedade. O interesse da instituição pode ser do mercado de medicina, mas não do interesse público no sentido de boas práticas médicas, com equipamentos disponíveis. (...) O balcão [para pedidos de criação de vagas] fechou", disse Mercadante em coletiva de imprensa.
A pasta vai analisar os pedidos de abertura de curso de medicina que chegaram até o final de janeiro. Ao todo, 6.096 vagas aguardam análise do ministério. Dessas, 4.594 (75,3%) estão em novas escolas de medicina. As demais decorrem de pedido de aumento de vagas em cursos já existentes. Mercadante afirmou que a "ampla maioria" dos pedidos, entretanto, será negada.
O secretário de Regulação e Supervisão do MEC, Jorge Messias, afirmou ainda que as atuais vagas de medicina estão passando por um processo de supervisão --o uso acadêmico de leitos SUS (Sistema Único de Saúde), por exemplo, será analisado. No próximo ano, se encerra o ciclo de avaliação de cursos de saúde, entre eles medicina. O resultado desse ciclo pode culminar no fechamento de vagas da graduação.
"Não interessa ao MEC promover uma saturação acadêmica do campo de prática. Ele [estudante] tem que ter condições mínimas asseguradas para oferta qualitativa do curso", disse Messias.
FINANCIAMENTO
O ministro da Educação disse que o governo pode conceder linhas de financiamento do BNDES para estimular que instituições renomadas se candidatem aos editais de chamamento --os primeiros serão publicados entre março e abril.
Para definir quais cidades serão foco dos primeiros editais, o MEC dividiu o país em três áreas: aquelas em situação favorável à expansão de novas vagas, em situação 'semicrítica' e crítica. Os municípios no primeiro grupo serão os prioritários. A pasta preferiu não divulgar a relação de cidades.

Em http://www1.folha.uol.com.br/educacao/1226193-o-balcao-fechou-diz-ministro-sobre-pedidos-de-vagas-de-medicina.shtml

Consumidor pode fazer consulta gratuita de nome sujo pela internet.

Publicidade
DE SÃO PAULO

Os consumidores agora podem descobrir rapidamente e de maneira gratuita se o nome está sujo na praça.
O serviço é oferecido pela Boa Vista Serviços, administradora do SCPC (Serviço Central de Proteção ao Crédito).


Para checar os dados, basta acessar o site da empresa e se cadastrar na parte consulta de débito. Feito isso, basta inserir o login e senha.
No caso dos consumidores que possuírem dívidas, pelo site, também é possível encontrar detalhes como nome da empresa onde o pagamento está pendente.

Em  http://www1.folha.uol.com.br/mercado/1226317-consumidor-agora-pode-fazer-consulta-gratuita-de-nome-sujo-pela-internet.shtml

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Naturalista inglês diz que humanos são 'praga sobre a Terra'.

David Attenborough, de 86 anos, deu a declaração em entrevista à revista britânica 'Radio Times', e se mostrou preocupado com a superpopulação.

David Attenborough, apresentador de Tv
David Attenborough, apresentador de TV: "Se não fizermos nada, a natureza vai fazer" (Getty Images)

O naturalista inglês David Attenborough, famoso apresentador de documentários sobre a natureza, acredita que os humanos são "uma praga sobre a Terra" e disse que é preciso controlar o crescimento da população para garantir a sobrevivência, segundo afirmou em entrevista à revista semanal britânica Radio Times. Uma das produções mais importantes feitas por Attenborough é a série Vida, da BBC.
O respeitado naturalista, de 86 anos, mostrou seu pessimismo com relação ao futuro do planeta, o qual, em seu critério, não será afetado apenas pela mudança climática, mas também pela superpopulação humana, para a qual talvez não haja recursos suficientes. "Não se trata só da mudança climática. É também uma questão de espaço, se haverá lugares suficientes para cultivar alimentos para fornecer a essa enorme multidão", explicou Attenborough.
Attenborough pediu, além disso, que seja controlado o crescimento da população antes que o próprio planeta faça isso, como "já ocorre" em algumas zonas da África assoladas pela crise de fome. "Seguimos desenvolvendo programas contra a fome na Etiópia, lá é onde está acontecendo isso. Há muita gente ali. Eles não conseguem se manter e não é desumano dizê-lo em voz alta. É a realidade", disse o veterano apresentador da BBC.
O naturalista, que recebeu o prêmio Príncipe de Astúrias em 2009, prevê que os efeitos do crescimento desenfreado e a contaminação serão visíveis em 50 anos e que, enquanto não houver uma linha de atuação coordenada por todos os países, a situação no planeta "ficará ainda pior".
A crença de que será o próprio humano que destruirá o planeta é um argumento habitual que o apresentador, reconhecido defensor do meio ambiente, expressou em diversas ocasiões em seus documentários.
Fora de moda — Em seus mais de 60 anos de profissão, Attenborough realizou diversas séries centradas na vida da Terra que lhe renderam vários prêmios dentro e fora do Reino Unido, uma forma de trabalhar que, segundo Attenborough, está em período de extinção.
"É muito mais barato você colocar alguém na frente da câmera descrevendo um comportamento animal do que mostrá-lo de fato. Este leva muito mais tempo. Este tipo de programa feito sob medida, quando a narração trabalhada combina devidamente com as imagens está fora de moda, igual a um chapéu velho", comentou o apresentador, que atribuiu as mudanças à economia.
No entanto, rejeitou qualquer tipo de nostalgia quanto a seu método de trabalho, já que não "acredita que seja necessário um novo Attenborough". Na próxima terça-feira, ele estreia um novo programa chamado Natural Curiosities (Curiosidades da Natureza) na TV britânica.

"Os humanos são uma praga"

Reprodução
Agente Smith, personagem do filme 'Matrix'
"Eu tentei classificar sua espécie e me dei conta de que vocês não são de fato mamíferos. Todo mamífero neste planeta desenvolve instintivamente um equilíbrio natural com o ambiente em que vive, exceto os humanos. Vocês se mudam para um local e se multiplicam e multiplicam até que todos os recursos naturais sejam consumidos e a única maneira de sobreviver seja se espalhar para outra área. Existe outro organismo neste planeta que segue o mesmo padrão. Você sabe qual é? Os vírus. Os seres humanos são uma doença, um câncer para este planeta. Vocês são uma praga e eu sou a cura."

Agente Smith, durante diálogo com Morpheus, em Matrix

Pessimismo injustificado — A superpopulação, a falta de recursos como água e alimentos em muitas regiões empobrecidas do planeta é uma realidade, mas não tão feia como o pessimismo de David Attenborough faz acreditar. Outro britânico, o economista Thomas Malthus (1766-1834), previu no século 19 que a população humana iria crescer em progressão geométrica, o que não se concretizou nem de longe.
Relatórios mais sérios desautorizam previsões de massas famélicas vagando pelo planeta. Um estudo publicado em 2008 pela IIASA - International Institute for Applied Systems Analysis (Insiituto Internacional para Análise Aplicada de Sistemas), organização não-governamental austríaca, estima que o mundo terá metade dos habitantes atuais em 2200 e mal chegará a 1 bilhão em 2300.  
Quanto às áreas para plantio, cada vez mais a agrotecnologia quebra recordes, produzindo mais em espaços cada vez mais reduzidos. É bom lembrar que antes dos fertilizantes e agrotóxicos, previsões desastrosas eram feitas sobre a capacidade da humanidade de produzir alimentos. Todas caíram por terra. Na prática, a produção de grãos cresceu 250% entre as décadas de 1950 e 1980. Apesar de ótimo naturalista, a fala catastrófica de Attenborough fica melhor na boca de personagens fictícios.
(Com Agência EFE)

Em http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/naturalista-ingles-diz-que-humanos-sao-praga-sobre-a-terra

Ter um amigo que bebe é o principal fator de risco para jovem experimentar álcool.

Estudo mostrou que amigos têm mais influência do que histórico de alcoolismo na família na hora de um adolescente dar o primeiro gole de bebida alcoólica.

Álcool: Segundo estudo americano, ter amigo próximo que bebe é o principal fator de risco para que um jovem experimente bebida alcoólica
Álcool: Segundo estudo americano, ter amigo próximo que bebe é o principal fator de risco para que um jovem experimente bebida alcoólica (Thinkstock)

Um novo estudo da Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, mensurou a influência que os amigos têm na hora de um adolescente experimentar bebida alcoólica. Segundo a pesquisa, ter um colega que bebe dobra o risco de um jovem dar o primeiro gole de álcool — e a influência das amizades nesse sentido é mais forte do que possuir histórico de alcoolismo na família, por exemplo. O trabalho foi publicado nesta segunda-feira na revista Pediatrics.
De acordo com Samuel Kuperman, que coordenou o estudo, o que o motivou a realizar esse trabalho foram os resultados de um levantamento que indicou que um terço dos estudantes americanos de 13 a 14 anos afirmou já ter experimentado bebida alcoólica. Entre os jovens de 15 anos, mais da metade relatou já ter bebido e, entre adolescentes de 16 a 17 anos, essa prevalência foi de mais de 70%.
Leia também:
Atividade cerebral pode indicar predisposição de jovem ao alcoolismo
Beber muito, mesmo que de vez em quando, pode ser tão prejudicial quanto o alcoolismo

Para entender o que está levando cada vez mais jovens a experimentarem bebida alcoólica, Kuperman e sua equipe se basearam em dois estudos sobre o consumo de álcool entre adolescentes. Os pesquisadores concluíram que os principais fatores que podem predispor um adolescente a começar a beber são: problemas de comportamento, histórico de alcoolismo na família, baixo nível socioeconômico e ter amigos que bebem. A partir dessa conclusão, a equipe avaliou 820 jovens de 14 a 17 anos.
Influência — Entre todos os fatores de risco, ter um amigo de consome bebida alcoólica foi o mais determinante para que um adolescente começasse a beber — quatro em cada dez jovens que relataram já ter bebido afirmaram que seu melhor amigo também consumia bebida alcoólica. Além disso, segundo o estudo, ter algum parente alcoólatra não necessariamente influi no primeiro gole de álcool do adolescente, mas sim no quão ele vai beber ao longo da vida.
“Quando uma pessoa começa a beber, mesmo crianças que possuem algum familiar alcoólatra, ela geralmente não obtém o primeiro gole de álcool de algum parente, mas sim de um amigo. Se o jovem tem um amigo que possui acesso à bebida alcoólica, então será mais fácil de experimentá-la”, diz Kuperman.

Em http://veja.abril.com.br/noticia/saude/ter-um-amigo-que-bebe-e-o-principal-fator-de-risco-para-jovem-experimentar-alcool

Sob a égide da ética do crime. Ou: A ética dos Renans, dos Dirceus e um livro. Ou: É permitido matar a velha a machadadas?

Resolvi manter este texto, publicado às 18h42 de ontem, no alto da home. Abaixo dele, há os posts da madrugada deste sábado.
Renan Calheiros (PMDB-AL), reconduzido à Presidência do Senado, resolveu exibir musculatura filosófica no discurso oficial como candidato ao posto. E disparou: “A ética não é um objetivo em si mesma. O objetivo em si mesmo é o interesse nacional. A ética é meio, não é fim”. Que coisa! O candidato falava, então, em termos abstratos, conceituais, e a paixão especulativa poderia nos devolver lá a Aristóteles, passando por Kant e chegando a Spinoza — depois de devidamente desprivatizado, já que, no Brasil, Marilena Chaui se quer a intérprete oficial do autor; se a obra de Spinoza fosse “A Valquíria”, Marxilena se apresentaria como Maria Callas… Mas que se deixe a abstração de lado. O voo teórico de Renan se fez ética encarnada na voz do senador Lobão Filho (PMDB-MA), que chegou à Casa como suplente de Lobão Pai, hoje ministro das Minas e Energia: “Nessa Casa não há nenhuma vestal. A última vestal que tentou ser vestal nessa Casa foi desossado pela imprensa. Não há ninguém a levantar o dedo para o senador Renan Calheiros”. O Lobinho é o homem do Lobão!
Ele se referia certamente a Demóstenes Torres, defenestrado por bons motivos do Senado, como todo mundo sabe. Mas que se note: Demóstenes não perdeu o mandato porque se apresentasse como vestal; ele foi cassado porque não praticava, na vida pública, aquilo que enunciava e anunciava. Quando aquele senador caiu, os valores éticos não caíram com ele. É espantoso! Hoje em dia, intelectuais de esquerda, os petistas e tipos como Lobinho passaram a demonizar o discurso da ética e da moralidade públicas. Ele seria sempre e necessariamente falso; só poderia se exercer como moralismo de fachada. Nessa perspectiva, não se deve mais censurar este ou aquele pelo crime cometido; cumpriria, então, indagar: “Mas por que ele fez tal coisa? O fim é nobre?”.
De fato, a ética não é uma finalidade em si, mas um instrumento. Só que há uma consideração que certamente não passa pelo amoralismo de Renan Calheiros e dos setores da esquerda que são hoje seus aliados: os meios empregados qualificam os fins. Se Maquiavel retirou a política da esfera quase celeste e a devolveu à terra ao constatar que, na vida real, os fins acabam justificando os meios, tomada tal perspectiva como um norte ético, mergulha-se, então, no vale-tudo.
Não, meus caros! Nem Aristóteles, nem Espinosa, nem Kant. O livro que trata de forma mais viva e cruenta a questão da ética é o magistral “O Zero e o Infinito”, escrito pelo ex-comunista Arthur Koestler, que veio à luz em 1941. Ele precisou de muito menos tempo do que outros para constatar os crimes do comunismo. O centro da obra é justamente um questionamento ético. Entre 1936 e 1938, Stálin — tratado no livro como o “Nº 1” — liquida boa parte da velha-guarda revolucionária no curso dos chamados “Processos de Moscou”, uma farsa judicial espantosa para se consolidar como a única fonte de poder da União Soviética. Os “processos” são especialmente espantosos porque conduzidos de forma a criar uma maquinaria argumentativa que levava os acusados a confessar a sua culpa, embora soubessem que isso não os livraria da morte, à qual já estavam condenados. A acusação essencial: conspirar contra o estado soviético, a revolução socialista e o partido.
É esse clima que Koestler reproduz em seu livro. Rubachov é um comunista revolucionário de primeira hora que está preso, acusado de conspiração e traição. Somos apresentados a seus diálogos com seus algozes, todos eles a serviço do partido e da causa. Ocorre que se formara ele também na certeza de que o partido não errava nunca e de que não se iria construir uma nova humanidade sem cometer alguns atos condenados pela moral burguesa.
Um trecho do livro é particularmente significativo. Rubachov conversa com Ivanov, um policial do regime com certas pretensões filosóficas. Este faz algumas considerações sobre Raskolnikov, o jovem assassino de “Crime e Castigo”, de Dostoiévski, aquele que mata uma velha exploradora a machadadas para supostamente usar o seu dinheiro em benefício da humanidade. Raskolnikov acaba confessando a sua culpa e busca a reabilitação.
Para Ivanov, o policial, “Crime e Castigo” é um livro que deveria ser queimado porque não propõe nenhuma questão relevante. Entende que Raskolnikov “é um louco, um criminoso, não porque se comporte logicamente ao matar a velha, mas porque está fazendo isso por interesse pessoal”. E acrescenta: “O princípio de que o fim justifica os meios é e continua sendo a única regra da ética política. Tudo o mais é conversa fiada e se derrete, escorrendo por entre os dedos. Se Raskolnikov tivesse matado a velha por ordem do Partido (por exemplo, para aumentar os fundos de auxílio às greves ou para instalar uma imprensa clandestina), então a equação ficaria de pé, e o romance, com seu problema ilusório, nunca teria sido escrito, e tanto melhor para a humanidade”.
Como vocês percebem, para Ivanov, o assassinato mais torpe se enobrece se a causa é considerada não exatamente justa, mas útil.  O programa do computador deu pau (daí a demora em voltar…), e estou digitando trechos do livro. Rubachov responde que, no poder, os revolucionários conseguiram criar uma sociedade pior do que aquela que buscavam substituir, que as condições de vida se deterioram dramaticamente em todas as áreas, que as pessoas sofrem muito mais.
Ivanov então responde: “Sim, e daí? Não acha maravilhoso? Alguma vez já aconteceu algo mais prodigioso na história? Estamos tirando a pele velha da humanidade e lhe dando uma nova. Não é uma ocupação para gente de nervos fracos”. O policial já havia dito ao líder comunista que caíra em desgraça que só há duas éticas no mundo, opostas e inconciliáveis: uma é a cristã e humana, que declara que o homem é sagrado e que os princípios da aritmética não podem ser aplicadas a unidades humanas; a outra é a coletiva, que subordina cada homem às necessidades do coletivo; esta outra, que é a sua, diz ele, “não somente permite como pede que o indivíduo seja de todas as maneiras subordinado e sacrificado à humanidade”.
De volta a Renan
E o que Renan tem com isso? É um legítimo representante ou herdeiro da esquerda, por acaso? Até namorou com o PC do B quando jovem, mas isso não tem importância. Relembro “O Zero e o Infinito” porque nenhuma  obra levou tão longe e de maneira tão viva o questionamento ético. A elite dirigente que hoje comanda o país transformou em norte moral a máxima de que o fim justifica, sim, os meios empregados. Essa visão de mundo contamina setores da imprensa. Quantos não são aqueles que justificam a aliança da velha com a nova oligarquia em nome do interesse nacional?
A “ética” de que fala Ivanov é aquela que entrega a um partido, a um ente, o destino da humanidade e de cada homem. Sim, ele está certo na constatação, entendo eu, de que, a rigor, só existem duas éticas: a que sacraliza o indivíduo e a que o transforma em peça de uma narrativa contada por aquele ente de razão. O que nos distingue, por óbvio, é que fico com a primeira, e ele, com a segunda.
O Brasil passa por um momento particularmente infeliz no que diz respeito à ética porque, com efeito, o PT é herdeiro moral do vale-tudo bolchevista — sem mais ser, por óbvio, comunista. E, em nome do que vende como “causa da humanidade”, não só pratica os piores crimes como os transforma em ferramenta de progresso social, como faz Ivanov. Esse amoralismo redentor, que apela a amanhãs gloriosos, se casou perfeitamente com os interesses das elites reacionárias brasileiras, de que são expressões os Renans, os Sarneys etc.
Se uns nunca tiveram têmpera revolucionária, os outros a empregam como farsa. Porque, de fato, se os reacionários nunca tiveram como perspectiva um novo mundo, os supostamente revolucionários queriam era dividir o comando da reação. E conseguiram. Os dois grupos se dizem hoje irmanados na defesa do bem comum, em nome do qual tudo é permitido.
O conjunto explica por que José Dirceu sai proclamando aos quatro ventos que as críticas a Renan derivam do moralismo udenista. Dirceu é o candidato a Ivanov dessa nova ordem. E Ivanov já disse: Raskolnikov, o que matou a velha a machadadas, só não era um herói porque não agiu sob o comando do partido, de uma causa.
Não sei se daqui a dois, seis, 10, 14 ou mais anos… Um dia essa gente será apeada do poder. E poderemos, ou outros poderão, refletir com ainda mais rigor sobre a era em que vivemos sob a égide do crime sem castigo. Os que chamamos as coisas por seus respectivos nomes fazemos a crônica de um tempo.
Por Reinaldo Azevedo em Veja Online

Se em meu ofício, ou arte severa,/ Vou labutando, na quietude/ Da noite, enquanto, à luz cantante/ De encapelada lua jazem/ Tantos amantes que entre os braços/ As próprias dores vão estreitando —/ Não é por pão, nem por ambição,/ Nem para em palcos de marfim/ Pavonear-me, trocando encantos,/ Mas pelo simples salário pago/ Pelo secreto coração deles. (Dylan Thomas — Tradução de Mário Faustino)

MP de São Paulo recebe amanhã acusações que Marcos Valério faz a Lula. Ou: O dia em que Marilena Chaui comparou o Apedeuta a uma deusa grega

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, encaminha amanhã à seção paulista do Ministério Público Federal as acusações que o empresário Marcos Valério, principal operador do mensalão, faz a Lula. Não é pouca coisa. Valério não só diz que o Apedeuta sabia de tudo e sempre esteve no controle do mensalão como sustenta que foi um dos seus beneficiários. O dinheiro para seu uso pessoal teria sido depositado na conta do faz-tudo Freud Godoy. Com efeito, a CPI dos Correios encontrou repasse da agência de Valério para  o carregados de malas.
Muito bem! O procurador que receber o papelório vai decidir se abre investigação ou se pede o arquivamento do caso. Os petistas tratam como um atentado à democracia a possibilidade de Lula vir a ser investigado e se tornar réu numa ação criminal.
Há nisso muito de politicagem vulgar, mas também há uma espécie de crença, em vários setores do PT, na infalibilidade de Lula, quem sabe na sua divindade. E ele não faz por menos, como é sabido: expõe-se à adoração. Tivesse atravessado o Mar Vermelho com Moisés, não duvidem: teria liderado a turba contestadora, impaciente com a demora do Patriarca, e seria o primeiro a propor um de ídolo de ouro: em vez do bezerro, ofereceria a si mesmo como modelo. Se não conseguisse destituir Deus, daria um jeito de, quando menos, tirar Moisés da história…
Não pensem que isso começou com o, como chamarei?, “petismo popular”. De jeito nenhum! O povo é muito menos mistificador do que aqueles que se dizem “intelectuais petistas”, essa contradição dada pelos termos. Contradição? Não pode haver petista culto? Claro que sim! Eu me refiro a “intelectuais” como pessoas comprometidas com a ciência e com o pensamento. Ou bem se busca servir à verdade ou bem se busca servir a um partido.
Muito bem! Em julho de 2003, Marilena Chaui — uma das inventoras da tese vigarista de que a denúncia do mensalão era uma tentativa de golpe — concedeu uma entrevista à revista Primeira Leitura, que eu dirigia. Conversou com o jornalista Fernando Eichenberg, em Paris. Ele lhe dirigiu, então a seguinte pergunta:
A sra. não acha que Lula despolitiza talvez em demasia sua própria trajetória, repisando o mito do homem milagreiro, do político milagreiro, do evento milagreiro, mais ou menos nos termos pela sra. apontados no livro “Brasil, Mito Fundador e Sociedade Autoritária”?
A resposta de Marilena, aquela que já afirmou que, quando Lula fala, o mundo se ilumina, foi fabulosa. Ela comparou seu líder à deusa grega Métis (vocês saberão detalhes). Vale a pena ler a íntegra da resposta. Volto depois.
*
Há no Lula um traço que é a marca ocidental do homem político. Há um trabalho feito nos anos 80, pelo Jean Pierre Vernant, sobre um aspecto da cultura grega clássica, segundo o qual os gregos consideravam a prática, contraposta à inteligência teórica. Essa inteligência prática ficava sob a proteção de uma deusa chamada Métis. As características da pessoa dotada de Métis, ou dessa inteligência prática, eram as seguintes: golpe de vista certeiro, ou seja, ela era capaz de, num único golpe de vista, perceber o todo; tinha o senso da oportunidade, ou o sentimento do kairós, do momento oportuno, em que momento intervir, em que a ação seria eficaz; tinha a capacidade de encontrar ou de criar um caminho onde não havia caminho: diante da aporia, do aporós, abre um caminho; e era dotada da capacidade da espreita, de saber observar de longe, de espreitar e de produzir uma estratégia para intervir.
Os gregos consideravam que havia alguns tipos sociais que eram dotados de Métis: os capitães de navio, os médicos, os caçadores e os estrategistas militares. Mas a figura que reunia todos os traços da Métis, que era a Métis praticamente encarnada, era o político. O homem político grego era dotado dessas características da Métis. Eu considero o Lula um animal político. Na medida em que ele é dotado dessas características que são constitutivas da figura ocidental do político, ele não pode despolitizar, mesmo que ele queira, porque o modo de ver o mundo é um modo político. É vê-lo como totalidade, como tempo aberto, como conjunto de dificuldades e de aporias, como aquilo que se tem de observar e sobre o que se tem de intervir.
Em relação ao discurso do Lula, alguns dizem que é um discurso populista. Ora, o líder populista é aquele que pertence ou à classe dominante ou ao setor aliado da classe dominante. E é aquele que se apresenta para o povo como o protetor, o guardião, como se esse povo fosse imaturo, vivesse na minoridade, incapaz de se conduzir a si mesmo. Isso é o populismo. Nenhuma dessas características se pode atribuir ao Lula. Ele não vem da classe dominante; ele não se dirige a um povo imaturo e incapaz de se dirigir; ele não se propõe a ensinar a esse povo esse bom caminho, porque, se ele tivesse de fazer isso, não teria sido eleito presidente, na medida em que ele é a expressão desse povo. Então, há uma impossibilidade lógica, para usar uma expressão do Paulo Arantes, de que ele seja um líder populista. É dito também que ele é um líder messiânico. O messianismo possui duas grandes características no Brasil. Primeiro, é milenarista, coisa ausente do discurso ou da ação do Lula. A segunda característica é a componente teológico-política, ou seja, de que o governante é um representante de Deus, que ele transcende a sociedade e a controla por mandato divino, o que Lula também não diz.
O fato de que, no discurso, Lula invoque Deus, é porque ele é um homem religioso. Nem é uma invocação ao reino de mil anos de felicidade, produzido pela ação justiceira dos santos, nem é ele representante de Deus na Terra. É má-fé dizer que ele é messiânico, sobretudo porque é chamado de messiânico por quem faz ciências sociais e que, portanto, sabe o que é o messianismo. O Lula tem uma estrutura discursiva que vi sendo empregada por ele desde 1978. É a maneira que tem de se exprimir. Sobretudo, quando se diz que ele improvisa, não lê, vai falando qualquer coisa. Uma vez, conversei com ele, e ele me disse que, para poder realmente se dirigir a um interlocutor, precisa perceber o que o está pensando, sentindo, precisa do olhar do interlocutor. A escrita rompe a relação. Isso é uma das coisas mais definidoras do discurso político, porque é aquele que se dirige diretamente ao outro; não é à toa que a política nasceu na assembleia democrática. O Lula fala a interlocutores determinados, estabelece o vínculo típico de quem fez aprendizado na assembleia, porque é assim que ela funciona. Isso é uma característica muito marcante dele.
Outra coisa é o fato de ele usar metáforas e provérbios. Qualquer um de nós que tenha nascido e vivido no interior do país sabe que o homem do interior, seja o sertanejo ou o caipira paulista, por exemplo, fala por provérbios. A minha bisavó, que era baiana, falava por provérbios e metáforas. O [Monteiro] Lobato, falando do caipira paulista, fala por provérbios. Peguem-se as grandes personagens do Guimarães Rosa, elas falam por sentenças, máximas e provérbios. Isso é constitutivo da cultura popular brasileira. Quando eu era ainda adolescente, li, em algum lugar, o [Jean-Paul] Sartre dizendo que sempre ficou muito impressionado com os provérbios e as máximas populares porque exprimem uma sabedoria pessimista sobre o ser humano. Não necessariamente, mas, de um modo geral, sim. Vou usar um provérbio. O provérbio “é confiar desconfiando”. Há uma maneira popular de se exprimir, universal, e é por provérbios e por máximas. Depois, essa é uma maneira pela qual a cultura popular no Brasil se exprime. Então, tem-se um nordestino, do interior do país, que é formado nessa cultura e exprime por meio dessa cultura. Portanto, dizer que é um discurso imbecilizante, paralisante, estúpido, ignorante, é repetir o preconceito, a exclusão e a divisão levada ao seu extremo. O que se exige dele é que se desfaça do direito de se exprimir a partir de onde se formou. Penso que, das críticas preconceituosas feitas ao Lula, essa tem sido para mim a mais chocante, porque ignora de onde ele veio. Como ele não produz uma frase em francês, um conceito em inglês ou boutade em alemão, diz-se que é um inculto que diz coisas imbecis, quando, na verdade, é uma maneira de organizar o mundo.
É interessantíssimo, porque Guimarães Rosa é valorizadíssimo por ter sabido operar com isso. Aquele mesmo que se desvanece diante do trabalho que Guimarães fez sobre esse modo de falar fica horrorizado quando encontra alguém que fala como o Riobaldo. Acho isso inacreditável. Uma pesquisadora portuguesa fez um estudo sobre as discriminações sociais no Brasil pelo uso dos provérbios, das sentenças e das máximas. Ela diz que a classe dominante se dá o direito de produzir máximas, mas não admite a produção nem de máximas nem de sentenças pelos dominados e repudia os provérbios. Quando se ouve intelectuais de esquerda a dizer isso, dói. Dói no estômago.
Voltei
Marilena, a douta professora de filosofia, como se vê, transforma, literalmente, Lula numa divindade, dotado de um saber natural, que ele extrai das pessoas. Não tendo como negar os aspectos obscurantistas da fala do seu líder, ela os atribui, então, ao “povo”. Tem-se, pois, como corolário, e isto está mais do que sugerido na resposta, que criticar Lula corresponde a rejeitar o próprio povo.
Escrevi, à época, um textinho na revista explicando quem era, afinal, a tal Métis. Reproduzo em azul:
Há algo de curioso, até engraçado, na associação que a professora Marilena Chaui faz entre a deusa Métis e Lula. Talvez seja preciso cavoucar um pouco os simbolismos. Métis é o nome grego de Prudência, a versão latina da deusa que foi a primeira mulher de Zeus (Júpiter). Foi ela quem deu uma poção a Cronos (Saturno), que o fez vomitar, junto com uma pedra, todos os filhos que houvera engolido. Zeus a seduziu. Ao saber que estava grávida e que estava destinada a ter um filho que seria rei dos deuses e dos homens, ele não teve dúvida: engoliu a mulher grávida. Passou mal, com uma terrível dor de cabeça. Pediu a Hefestos (Vulcano) que lhe abrisse o cérebro, e, de dentro, brotou Palas Atena (Minerva), deusa da sabedoria, da guerra, da ciência e das artes, que tomou assento no conselho dos deuses e passou a ser a principal conselheira do pai. O pássaro predileto de Palas Atena é a coruja. Assim como a inteligência ilumina os problemas, os olhos da ave atravessam a escuridão. Se Lula é mesmo Métis, tomara que se deixe “engolir”, no melhor sentido possível, pelas instituições e que seja a democracia o resultado dessa fusão. Por enquanto, o risco de que se torne mero petisco dos antigos vícios políticos parece grande. Por enquanto, como Cronos, Lula só engole os próprios filhos — no pior sentido possível.
Concluindo
Era julho de 2003. Lula estava no poder havia apenas sete meses, e a maquinaria ideológica que tentaria transformá-lo num ente acima da política e das paixões humanas já estava em curso — Primeira Leitura estava atenta a ela. Naquele primeiro ano de governo, o Apedeuta enfrentava mesmo era a oposição do petismo, e os principais esteios de Antonio Palocci no Congresso, acreditem!, eram o PSDB e o PFL… Não sem certa razão: os dois partidos resistiam ao PT mais rombudo, que queria fazer bobagem na economia. A oposição fazia bem em dar apoio ao que, afinal, era o mais racional em economia, mas já errava brutalmente ao não politizar as promessas que Lula, felizmente, ia quebrando.
Mas volto a Marilena e ao mito. Aquele que a petista vê como uma divindade está associado ao que há de pior na política brasileira e é, em último caso, o arquiteto da chegada de Renan Calheiros à Presidência do Senado. Vamos ver se o Ministério Público e a Justiça lhe devolvem a humanidade e o confrontam, finalmente, com parte de sua obra.
Por Reinaldo Azevedo em Veja Online

Caso de Polícia – A Petrobras, a compra escandalosa de uma refinaria e um prejuízo bilionário para a estatal: Ministério Público decidiu investigar a lambança.

Vocês se lembram de um post publicado no dia 15 de dezembro intitulado “ESCÂNDALO BILIONÁRIO NA PETROBRAS – Resta, agora, saber se, ao fim da apuração, alguém vai para a cadeia! Ou: Quem privatizou a Petrobras mesmo? Mais ou menos? Ok. Recupero a história em 13 passos e avanço depois, porque já há novidades. Quem tem tudo na memória pode ir direito para o entretítulo “Voltei”.
1: Em janeiro de 2005, a empresa belga Astra Oil comprou uma refinaria americana chamada Pasadena Refining System Inc. por irrisórios US$ 42,5 milhões. Por que tão barata? Porque era considerada ultrapassada e pequena para os padrões americanos.
2: ATENÇÃO PARA A MÁGICA – No ano seguinte, com aquele mico na mão, os belgas encontraram pela frente a generosidade brasileira e venderam 50% das ações para a Petrobras. Sabem por quanto? Por US$ 360 milhões! Vocês entenderam direitinho: aquilo que os belgas haviam comprado por US$ 22,5 milhões (a metade da refinaria velha) foi repassado aos “brasileiros bonzinhos” por US$ 360 milhões. 1500% de valorização em um aninho. A Astra sabia que não é todo dia que se encontram brasileiros tão generosos pela frente e comemorou: “Foi um triunfo financeiro acima de qualquer expectativa razoável”.
3: Um dado importante: o homem dos belgas que negociou com a Petrobras é Alberto Feilhaber, um brasileiro. Que bom! Mais do que isso: ele havia sido funcionário da Petrobras por 20 anos e se transferiu para o escritório da Astra nos EUA. Quem preparou o papelório para o negócio foi Nestor Cerveró, à frente da área internacional da Petrobras. Veja viu a documentação. Fica evidente o objetivo de privilegiar os belgas em detrimento dos interesses brasileiros. Cerveró é agora diretor financeiro da BR Distribuidora.
4: A Pasadena Refining System Inc., cuja metade a Petrobras comprou dos belgas a preço de ouro, vejam vocês!, não tinha capacidade para refinar o petróleo brasileiro, considerado pesado. Para tanto, seria preciso um investimento de mais US$ 1,5 bilhão! Belgas e brasileiros dividiriam a conta, a menos que…
5:… a menos que se desentendessem! Nesse caso, a Petrobras se comprometia a comprar a metade dos belgas — aos quais havia prometido uma remuneração de 6,9% ao ano, mesmo em um cenário de prejuízo!!!
6: E não é que o desentendimento aconteceu??? Sem acordo, os belgas decidiram executar o contrato e pediram pela sua parte, prestem atenção, outros US$ 700 milhões. Ulalá! Isso foi em 2008. Lembrem-se que a estrovenga inteira lhes havia custado apenas US$ 45 milhões! Já haviam passado metade do mico adiante por US$ 360 milhões e pediam mais US$ 700 milhões pela outra. Não é todo dia que aparecem ou otários ou malandros, certo?
7: É aí que entra a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ela acusou o absurdo da operação e deu uma esculhambada em Gabrielli numa reunião. DEPOIS NUNCA MAIS TOCOU NO ASSUNTO.
8: A Petrobras se negou a pagar, e os belgas foram à Justiça americana, que leva a sério a máxima do “pacta sunt servanda”. Execute-se o contrato. A Petrobras teve de pagar, sim, em junho deste ano, não mais US$ 700 milhões, mas US$ 839 milhões!!!
9: Depois de tomar na cabeça, a Petrobras decidiu se livrar de uma refinaria velha, que, ademais, não serve para processar o petróleo brasileiro. Foi ao mercado. Recebeu uma única proposta, da multinacional americana Valero. O grupo topa pagar pela sucata toda US$ 180 milhões.
10: Isto mesmo: a Petrobras comprou metade da Pasadena em 2006 por US$ 365 milhões; foi obrigada pela Justiça a ficar com a outra metade por US$ 839 milhões e, agora, se quiser se livrar do prejuízo operacional continuado, terá de se contentar com US$ 180 milhões. Trata-se de um dos milagres da gestão Gabrielli: como transformar US$ 1,204bilhão em US$ 180 milhões; como reduzir um investimento à sua (quase) sétima parte.
11: Graça Foster, a atual presidente, não sabe o que fazer. Se realizar o negócio, e só tem uma proposta, terá de incorporar um espeto de mais de US$ 1 bilhão.
12: Diz o procurador do TCU Marinus Marsico: “Tudo indica que a Petrobras fez concessões atípicas à Astra. Isso aconteceu em pleno ano eleitoral”.
13: Dilma, reitero, botou Gabrielli pra correr. Mas nunca mais tocou no assunto.
Voltei
José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras e hoje ocupando uma secretaria no governo baiano, chegou a emitir uma nota dizendo que não havia nada de errado com a negociação, mas preferiu não explicar a mágica. Felizmente, o Ministério Público se interessou pelo assunto, segundo informa Danilo Fariello, no Globo. Leiam trechos. Encerro depois.
*
O Ministério Público Federal (MPF) deve abrir uma investigação criminal para apurar irregularidades no processo de aquisição, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006, com base em indícios levantados por procuradores do MPF que atuam no Tribunal de Contas da União (TCU). Desde a compra da refinaria, a petrolífera investiu US$ 1,18 bilhão nesse negócio, apesar de ela não processar um só barril de petróleo brasileiro e de a estatal não conseguir obter um retorno significativo do investimento feito.
Em novembro, os procuradores solicitaram à Petrobras esclarecimentos sobre o processo de aquisição. Após um pedido da Petrobras de prorrogação de prazo para resposta, que foi aceito pelo órgão de controle, a estatal entregou cerca de 700 páginas com documentos, dos quais boa parte já foi analisada. Segundo uma fonte que teve acesso ao conteúdo entregue pela empresa ao TCU, durante o recesso de fim de ano, até agora não apareceram argumentos convincentes para justificar o investimento, tanto do ponto de vista financeiro quanto pelo aspecto estratégico.
“Há várias decisões questionáveis, que podem levar o MPF a abrir um procedimento para verificar se há ocorrência de crime. Pode até pedir auxílio à Polícia Federal, uma vez que havia uma pessoa ligada à Petrobras que fazia parte da empresa belga (Astra Oil, de quem a estatal brasileira foi sócia na refinaria)”, disse a fonte.
(…)
Encerro
Os números da operação são aqueles que vocês viram, nunca contestados pela Petrobras. Alguém tem alguma dúvida de que estamos diante de um óbvio caso de polícia?

Por Reinaldo Azevedo em Veja Online

Quer ver algo?