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terça-feira, 24 de julho de 2012

Harvard para as massas

De todas as promessas de revolução, a da educação on-line está cada vez mais próxima.
E não sou eu quem diz isso. Mas o pessoal de Harvard, MIT, Princeton, Stanford. Essas e outras universidades americanas de excelência estão fazendo um movimento histórico de transferir seus cursos para plataformas digitais e oferecê-los para o mundo todo, boa parte deles, gratuitamente.
Você só precisa de duas coisas para acessar esses templos do ensino: falar inglês e ter uma conexão digital. São duas coisas que você já precisa "anyway".
Com o inglês e a conexão digital, você pode entrar nos sites coursera.org (para se inscrever em cursos gratuitos de Stanford, Princeton, Caltech, Rice, Johns Hopkins e outras universidades de ponta) ou edxonline.org (para cursos em Harvard e MIT) e escolher sua poltrona preferida para acompanhá-los.
Harvard e MIT começam a oferecer seus cursos no edX a partir de setembro e esperam educar nada menos de 1 bilhão de pessoas com seu serviço digital. Ou um em cada sete habitantes do planeta educados por Harvard ou pelo MIT. Isso não é uma revolução?
Essas universidades prometem uma nova experiência na educação on-line, com maior interatividade aluno-professor e um intenso "feedback" que possa ajudá-las a reprogramar seus currículos para a maciça audiência global.
Não sou um educador, mas, como embaixador da Unesco e membro do Todos pela Educação, sou um empregador comprometido com a educação. Vejo frequentemente no meu setor a necessidade de reformar o ensino para aproximá-lo do mercado de trabalho. A revolução da educação on-line pode ajudar muito nesse processo ao aproximar a educação das pessoas e as pessoas, da educação.
Um professor da Universidade de Michigan disse ao "New York Times" que estava animadíssimo porque 40 mil alunos do mundo todo tinham baixado o vídeo do seu curso, o que, nas contas, dele era uma audiência que só alcançaria em 200 anos de aulas tradicionais. A Coursera conseguiu 700 mil alunos on-line em poucas semanas de atividade.
Como tanta coisa nesta era da comunicação, este é um momento disruptivo na educação. E estamos vendo só o começo do começo. O diretor acadêmico de Harvard previu que daqui a cinco anos a educação on-line será completamente diferente do que temos hoje. O que não parece que vai mudar é a tendência de acesso cada vez maior, brutalmente maior, à educação via web.
Isso me anima vendo o mundo do Brasil.
Depois dos saltos que demos nas últimas duas décadas, fica claro que a maior carência do nosso país e o trampolim inescapável para o próximo salto de desenvolvimento é a educação.
Já temos uma mão de obra numerosa e fantástica. O brasileiro trabalha muito, é dedicado, empreendedor, criativo. Quem não conhece aquele camarada que tem dois, três empregos e vai firme para todos; ou aquele pequeno empreendedor, muitas vezes informal, se virando como pode, com uma flexibilidade aguda, natural e muito valiosa para os negócios.
O que falta a eles para o salto transformador é a educação. Esse empresariado emergente, com acesso à educação e às melhores práticas de gestão, levará a economia brasileira a outro patamar. Os cursos on-line são a forma mais rápida, barata e eficaz de fazê-lo.
Nossas universidades púbicas, que formam a elite do ensino brasileiro e já têm iniciativas no mundo on-line, poderiam radicalizar seu caráter público com cursos digitais gratuitos pela web para todo o país, eventualmente apoiados por corporações que tanto se beneficiarão da revolução da educação.
Vivemos uma nova era de grandes descobrimentos. O homem só descobriu que a Terra era azul ao sair do planeta. Educar-se é sair de si mesmo em busca de um conhecimento do mundo e das coisas. Essa viagem da educação é a viagem da sua vida. Você se descobre outro depois dela.
Nosso país se descobrirá de novo depois dela.
A diferença é que desta vez seremos nós a nos descobrir. Será a nossa verdadeira emancipação, a nossa emergência definitiva.

Nizan Guanaes Nizan Guanaespublicitário baiano, é dono do maior grupo publicitário do país, o ABC. Escreve às terças-feiras, a cada duas semanas, na versão impressa de "Mercado".

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/colunas/nizanguanaes/1124844-harvard-para-as-massas.shtml


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Anatel anuncia suspensão de venda de chips da Oi, Claro e TIM.

Decisão foi anunciada nesta 4ª pelo presidente da Anatel, João Rezende.
Empresas terão de apresentar planos de investimento para reverter decisão.

Alexandro Martello Do G1, em Brasília

Veja em quais estados as operadoras vão interromper a venda de serviços
Claro

Santa Catarina
São Paulo
Sergipe
Oi

Amazonas
Amapá
Mato Grosso do Sul
Rio Grande do Sul
Roraima
TIM

Acre
Alagoas
Bahia
Ceará
Distrito Federal, Espírito Santo
Goiás
Maranhão
Mato Grosso
Minas Gerais
Pará
Paraná
Paraíba
Pernambuco
Piauí
Rio de Janeiro
Rio Grande do Norte
Rondônia
Tocantins
Estão suspensas, a partir da próxima segunda-feira (23), as vendas de chips das empresas de telefonia móvel Oi, Claro e TIM em vários estados do país. A decisão foi anunciada nesta quarta-feira (18) pelo presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), João Rezende. As empresas, porém, não serão multadas – a não ser que descumpram a determinação de suspender as vendas.
No caso da TIM, a decisão vale para 19 estados brasileiros, enquanto que para a Oi são 5 os estados. Para a Claro, as vendas serão suspensas em três estados. Juntas, de acordo com dados da Anatel, essas empresas respondem por 70,12% do mercado de telefonia móvel do país. A suspensão foi motivada por reclamações registradas na Anatel entre janeiro de 2011 e junho deste ano.

A decisão, no que se refere à Claro, engloba os estados de Santa Catarina, Sergipe e São Paulo. Sobre a Oi, a decisão da Anatel abrange os estados de Amazonas, Amapá, Mato Grosso do Sul, Roraima e Rio Grande do Sul. No caso da TIM, a suspensão da venda de chips engloba os seguintes estados: Acre, Alagoas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rondônia e Tocantins.
Mesmo antes do anúncio formal da decisão, as ações da Oi e TIM já sofreram perdas nos negócios desta quarta na Bolsa de Valores de São Paulo. A Anatel informou que a TIM tem a pior média nacional e é a "pior" operadora em 19 estados. Ao mesmo tempo, os estados com maior número de reclamações foram Rio de Janeiro, Minas Gerais, Distrito Federal, Pernambuco e Goiás.
A decisão, que engloba os serviços de voz e dados, foi motivada por problemas na qualidade dos serviços prestados, informou a Anatel. As avaliações são relativas à interrupção das chamadas, qualidade de rede e atendimento ao cliente. As vendas poderão ser retomadas, segundo Rezende, somente após as empresas apresentarem planos de investimentos, o que deverá ser feito dentro de até 30 dias, contendo metas para resolver problemas apresentados. De acordo com o presidente da Anatel, a agência terá de aceitar as condições desses planos.
"É uma medida extrema para arrumação do setor. Queremos que as empresas dêem uma atenção especial a qualidade da rede, principalmente com relação às constantes interrupções que têm sido sentidas no mercado. É uma solução extrema", declarou o presidente da Anatel, João Rezende. Ele lembrou que o país terá desafios nos próximos anos, com o início do serviço 4G, com a Copa das Confederações e, também, com a Copa do Mundo de 2014.

Segundo Rezende, o mercado de telefonia móvel tem apresentado constante crescimento no país, sendo cada vez mais demandado pela população brasileira, principalmente com relação à internet móvel. "Os aplicativos sociais têm exigido cada vez mais serviços, cada vez mais rede para os usuários. Eles têm demandado muito esse serviço, exigindo qualidade nos serviços das operadoras", acrescentou ele. De acordo com o presidente da Anatel, os serviços, em alguns estados do país, chegam a registrar índices de reclamação de 100% no que se refere à qualidade da rede.

A Anatel também informou que, embora não tenham de suspender a venda de chips, as operadoras Vivo, CTBC e Sercomtel também deverão apresentar um plano de melhoria dos serviços em suas áreas de atuação. Segundo o superintendente de Serviços Privados da Anatel, Bruno Ramos, essas operadoras também podem vir a ter a venda de chips suspensa caso não apresentem este plano.

Posição das operadoras
A Oi argumenta que a análise da Anatel está defasada. "O entendimento da Oi é que a análise está defasada em relação à evolução recente percebida na prestação dos serviços. Os dados não consideram o esforço e a concentração de investimentos realizados nos últimos 12 meses", disse a operadora em comunicado.

A empresa citou como exemplo investimentos de R$ 290 milhões realizados este ano no estado do Rio Grande do Sul - um dos cinco estados nos quais será proibida de vender serviços. "Os dados divulgados não refletem, por exemplo, a situação real do Rio Grande do Sul", diz a operadora destacando que R$ 76 milhões foram dedicados à expansão e melhoria da rede de telefonia móvel no estado este ano. A empresa informou que investimento total dedicado à expansão de sua rede, entre 2012 e 2015, é de R$ 24 bilhões, sendo R$ 6 bilhões somente em 2012.

Em comunicado, a Vivo comentou que “realiza constantes avaliações sobre o impacto que seus produtos e planos de serviço têm no aumento de tráfego da rede antes de serem lançados”. A empresa acrescentou que segmenta esses planos de acordo com o perfil de uso de seus clientes.

A TIM considerou a medida da Anatel extrema e anticompetitiva. “Tal medida desproporcional da Anatel certamente afetará a competição no setor de telecomunicações no País em beneficio de alguns concorrentes e em prejuízo aos mais de 200 milhões de usuários [de telefonia móvel no país]”, declarou a empresa em comunicado.

A operadora, que conta com 68 milhões de clientes e foi impedida de vender seu serviço em 19 estados, argumentou que tem se destacado nos indicadores de qualidade de rede e desempenho de atendimento da Anatel (IDA). A operadora informou ter reduzido em 36% a taxa de reclamações no primeiro trimestre de 2012 em relação a igual período do ano passado. “Nos últimos quatro anos, a companhia investiu cerca de R$ 3 bilhões ao ano na melhoria de sua capacidade e expansão de rede”, ressalta a empresa.

A Claro informou que “apresentará prontamente à Anatel o seu plano de investimentos que busca manter a constante excelência do serviço”. A operadora afirmou que o critério da agência para impedir a venda de seus chips em três estados “está relacionado a problemas pontuais de atendimento no call center que atendem esses estados, cujas ações de melhorias já apresentaram resultados nos indicadores da Anatel do mês de junho”.

O Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel Celular e Pessoal (SindiTelebrasil) também questiona as bases analisadas pela Anatel para determinar as sanções às operadoras. "A decisão foi baseada em queixas apresentadas ao Call Center da Anatel, que não revelam as reais condições das redes que suportam os serviços. A Anatel considerou dados dos últimos meses, que não refletem os investimentos realizados pelas prestadoras nesse período", afirmou em comunicado.

Na avaliação do sindicato que representa as operadoras, a proibição da venda "pode afetar uma série de pequenas empresas, que têm como principal fonte de receita a venda de chips de celulares, comprometendo inclusive a oferta de postos de trabalho."

Fonte: http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2012/07/anatel-anuncia-suspensao-de-venda-de-chips-da-oi-claro-e-tim.html

Resenha leve:

SERÁ QUE SURTIRÁ EFEITO? SERÁ QUE ALGUMA ESMPRESA REALMENTE SERÁ MULTADA?

Fico aqui com minhas pestanas no frio imaginando esta prosopopeia do Governo em tempos próximos às eleições, e me indago que realmente (pelo menos aos olhos mais infantis possíveis) foi uma medida muito boa, e a "coragem" da ação (se for concretizada e levada a sério, quiçá se a justiça deixar de conceder mais liminares para estas famigeradas empresas de telefonia) repercutiu muito.

O que todos esperamos é que, como consumidores, sejamos respeitados, pois pagamos um dos serviços mais caros do mundo em telefonia móvel (sem falar e fixa, internet, tv a cabo, etc, que são na maioria das mesmas empresas) e temos um dos piores serviços prestados em qualidade do mundo, e nem o povo (que pelo menos passou a se manifestar mais, nem que seja pelas redes sociais) e o Governo brasileiro tomavam ações concretas para desbancar estes carteis exploradores capitalistas selvagens ineficientes.

Agora, era para derrubar geral, ou seja, TV a cabo, net banda larga, telefone fixo, até estas mega empresas prestarem um serviço descente a todos nós.

 

terça-feira, 17 de julho de 2012

A incrível saga do bóson de Higgs.

Anúncio da partícula na quarta-feira coroa esforços de milhares de cientistas ao redor do mundo ao longo de décadas.

Marco Túlio Pires
O bóson de Higgs é a unidade fundamental de um mecanismo que explica como as partículas ganham massa
O bóson de Higgs é a unidade fundamental de um mecanismo que explica como as partículas ganham massa (Hemera/Thinkstock)

A confirmação da existência de uma partícula que tem grandes chances de ser o bóson de Higgs nesta quarta-feira representa o ápice de uma longa saga científica. Mais do que completar um complexo quebra-cabeças teórico proposto no início da década de 1970, o anúncio dessa misteriosa partícula coroa os esforços de milhares de cientistas ao redor do mundo que dedicaram suas vidas a entender como o maquinário fundamental do universo funciona. A verificação experimental do bóson de Higgs não trará a cura da aids nem resolverá o problema da fome do mundo, mas não deixa de ser uma vitória do homem sobre a natureza. É bom que a civilização tenha espaço para esse tipo de empreendimento.

Saiba mais

MODELO PADRÃO
O Modelo Padrão é a melhor descrição do mundo subatômico. Existem outras, mas nenhuma que tenha tido tanto sucesso em experimentos para prever e descrever as partículas e as forças de suas interações. O Modelo Padrão oferece ferramentas teóricas para o avanço de tecnologias. A cura do câncer ou a construção de uma nave interestelar passam, em última análise, pelo sucesso de um modelo que descreva o comportamento da natureza no mais fundamental dos níveis.
BÓSON DE HIGGS
O bóson de Higgs é uma partícula subatômica prevista há quase 50 anos. Após décadas de procura, os físicos ainda não conseguiram nenhuma prova de que ela exista. O Higgs é importante porque a existência dele provaria que existe um campo invisível que permeia o universo. Sem o campo, ou algo parecido, nada do que conhecemos existiria. Os cientistas não esperavam detectar o campo, mas sim uma pequena deformação nele, chamada bóson de Higgs.
LHC
O Grande Colisor de Hádrons (do inglês Large Hadron Collider, LHC) é o maior acelerador de partículas do mundo, com 27 quilômetros de circunferência. Ele pertence ao CERN, o centro europeu de pesquisas nucleares e está instalado na fronteira franco-suíça. Em seu interior, partículas são aceleradas até 99,9% da velocidade da luz. Os experimentos ajudam a responder questões sobre a criação do universo, a natureza da matéria e fenômenos exóticos observados no espaço.
Sempre foi uma obsessão da ciência encontrar uma única teoria que explicasse todos os fenômenos da natureza, desde a constituição das partículas da matéria até as forças que as relacionam. Não porque isso pudesse resolver os problemas imediatos da humanidade, mas pelo desafio do conhecimento.
Até o início da década de 1970, o conhecimento humano do mundo subatômico era uma baderna. Havia muitas teorias – modelo quark, teoria Regge, de Calibre, Matriz-S, entre outras –, prevendo centenas de partículas e complexas relações entre elas. Mas elas só conseguiam explicar pequenos pedaços da realidade. "Não estava claro qual modelo era o correto", escreveu o físico britânico Stephen Wolfram na revista americana Wired. "Algumas teorias pareciam vazias, outras eram profundas e filosóficas. Algumas eram sofisticadas, e outras, entediantes."
As peças do modelo — No início da década de 1970, contudo, uma teoria se destacou. Nessa época os cientistas confirmaram a existência dos quarks, partículas que constituem os prótons e os nêutrons, elementos que formam o núcleo dos átomos. Essa descoberta deu força a uma teoria que viria a ser conhecida como Modelo Padrão da Física de Partículas — que previa a existência de 12 tipos de partículas elementares, suportadas por um campo que confere massa a algumas delas (como o elétron), mas não a outras (como o fóton).
O pontapé inicial para a confecção do Modelo Padrão foi dado em 1960, quando o físico americano Sheldon Glashow descobriu uma forma de combinar a força eletromagnética e as interações fracas dos átomos, duas das quatro forças fundamentais (as outras são as interações fortes dos átomos e a gravidade).
Sete anos mais tarde, Steven Weinberg e Abdus Salam afundiram as ideias de Glashow às do físico escocês Peter Higgs. Em 1964, Higgs propôs a existência de um campo com o qual as partículas interagem. Essa interação confere massa às partículas. As que não interagem com o campo de Higgs não possuem massa e estão fadadas a viajar para sempre na velocidade da luz, como os fótons, a unidade básica da luz. A unidade básica desse campo foi batizada com o nome do físico: bóson (nome dado às partículas que ‘transportam’ energia) de Higgs.
Entre 1972 e 1974 experimentos confirmaram a teoria da interação forte entre as partículas (mais uma das quatro forças fundamentais). A descoberta deu ao Modelo Padrão sua forma atual e valeu a Glashow, Salam e Weinberg o Nobel de Física de 1979.
A teoria de 'quase tudo' — Os cientistas usaram o Modelo Padrão para prever a existência de várias partículas que ainda não haviam sido verificadas na prática, e ele não decepcionou. A um custo de bilhões de dólares, foram construídos aceleradores de partículas, como o Fermilab, nos Estados Unidos e o LHC, na fronteira franco-suíça. A descoberta do quark bottom em 1977, o quark top em 1995 e o tau neutrino em 2000 deram ainda mais crédito ao Modelo Padrão, fazendo dele a melhor teoria para explicar ‘quase tudo’. Com ele, é possível explicar com sucesso uma grande variedade de resultados experimentais, exceção feita ao comportamento da gravidade, da matéria e da energia escuras e da antimatéria.
David Noir/Reuters
Peter Higgs na Universidade de Edimburgo, na Escócia
Peter Higgs, o 'pai' do bóson de Higgs, na Universidade de Edimburgo, na Escócia
 
A partícula derradeira — De todas as partículas previstas pelo Modelo Padrão, apenas uma não havia sido verificada em experimentos: o bóson de Higgs. Sua verificação tornou-se, portanto, uma questão de honra para os teóricos. Mas não foi fácil. Os primeiros aceleradores de partícula não foram capazes de encontrá-lo. Nem os de segunda geração. Foi preciso investir 10 bilhões de dólares para a construção do Large Hadron Collider, um gigantesco anel de 27 quilômetros de diâmetro na fronteira franco-suíça, potente o suficiente para esmagar prótons a uma velocidade próxima a da luz e oferecer as condições para procurar o bóson de Higgs em regiões energéticas desconhecidas até então pela ciência. Embora não fosse seu único objetivo, a busca pelo bóson de Higgs é a principal vitrine do LHC e o principal argumento para convencer governos a gastar dinheiro público em um empreendimento de ambições puramente teóricas.
A próxima jornada – A longa espera chegou ao fim nesta quarta-feira. Isso explica o entusiasmo com que cientistas ao redor do planeta programaram encontros festivos para receber o anúncio do pesquisadores do LHC. O próprio Peter Higgs foi convidado para o anúncio. Após os resultados, disse aliviado. “Acho que o encontramos”. Em uma coletiva de imprensa na Escócia, nessa sexta-feira, disse algo que estava engasgado há mais de 40 anos. “É muito bom estar certo.”
No Brasil, a Universidade Estadual Paulista (Unesp) organizou uma espécie de 'café da madrugada', com suco e salgadinhos para professores, estudantes e jornalistas na sala de computação do campus da Barra Funda, em São Paulo. Um telão exibia ao vivo o anúncio dos cientistas do LHC. Físicos brasileiros, como Sérgio Novaes e Hélio Takai, um em Genebra e outro em Nova York, vibraram com os resultados. "É, sem dúvida, o resultado mais importante dos últimos 30 anos na Física de Partículas", disse Novaes, emocionado, por teleconferência. Líder de um grupo de pesquisa da Unesp, Novaes trabalha em um dos experimentos que detectaram o bóson de Higgs e publicou — no início da década de 1980 — um dos primeiros artigos que descreviam como encontrar a partícula.
A verificação experimental do bóson de Higgs não significa a vitória completa da ciência sobre a natureza, ainda. Embora o Modelo Padrão seja a melhor descrição do mundo subatômico, ele diz respeito a apenas 4% do universo visível. O restante (96%) corresponde à matéria escura e à energia escura. Alguns cientistas ainda consideram o modelo pouco elegante por omitir a natureza da gravidade, considerada uma das forças fundamentais. São questões que ocuparam e ocupam as mentes dos mais brilhantes cientistas, como Albert Einstein, que perseguiu uma teoria unificadora até o fim de seus dias, e Stephen Hawking, que ainda luta pelo mesmo objetivo a despeito de sua condição física paralisante. Talvez o Modelo Padrão seja parte de um modelo ainda maior que inclui uma física ainda desconhecida, como propõe a Teoria de Cordas, escondida no mundo subatômico ou nos remotos e obscuros confins do universo. A incrível saga do bóson de Higgs parece ter chegado ao fim. Mas a jornada científica para entender os outros 96% do universo ainda está longe de acabar.

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/a-incrivel-saga-do-boson-de-higgs

América foi inicialmente povoada por três ondas migratórias da Ásia, diz estudo.

Durante muito tempo havia dúvida sobre a origem dos habitantes do continente americano. Segundo os pesquisadores, este estudo põe fim ao dilema.

Índios Aharaibus, norte do Rio Negro, Amazonas – 1971
Índia Aharaibus, norte do Rio Negro, Amazonas – 1971: seus antepassados chegaram à América pelo Estreito de Bering, há 15.000 anos (Claudia Andujar)
 
Os primeiros habitantes da América chegaram ao continente há mais de 15.000 anos, em três ondas migratórias vindas da Ásia, segundo o estudo de uma equipe internacional de cientistas publicado nesta quarta-feira pela revista Nature.
O estudo do genoma de uma ampla seleção de tribos indígenas americanas, do Canadá à Terra do Fogo (no extremo sul do continente americano), demonstra que a população procede de pelo menos três ondas migratórias de habitantes asiáticos que teriam chegado ao novo continente através do Estreito de Bering, na Sibéria. Durante as eras glaciais — há mais de 15.000 anos —, o Estreito permaneceu congelado e serviu como ponte entre os continentes asiático e americano.
Embora os analistas calculem que tenham ocorrido pelo menos três grandes migrações, a maioria das tribos descende da primeira delas, conhecida como os 'Primeiros Americanos', já que as outras duas se limitaram à América do Norte. "Durante anos se debateu se os habitantes da América procediam de uma ou mais migrações através da Sibéria, mas nossa pesquisa põe fim a este dilema: os nativos americanos não procedem de uma só migração", disse o cientista colombiano Andrés Ruiz-Linares, do University College de Londres, e autor principal do estudo (veja no quadro ao lado as principais hipóteses sobre a ocupação da América).

De onde vieram os índios?

As teses sobre a ocupação da América

50.000 ANOS
Algumas evidências apontam uma colonização mais antiga para a América, de até 50.000 anos. Esse é o dado obtido pela brasileira Niède Guidon na Serra da Capivara, no Piauí. A datação não foi feita com ossos humanos, mas com carvão vegetal associado ao que a arqueóloga considera antigas fogueiras. Essa hipótese é aceita por poucos pesquisadores, que acreditam que o carvão usado na datação pode ser resultado de um incêndio natural. A pesquisadora também identificou pedras que teriam sido usadas para cortar há 50.000 anos. Data posterior (40.000 anos) foi obtida num sítio do México pela arqueóloga Silvia González, a partir de cinza vulcânica associada a antigas pegadas humanas – mas outros pesquisadores, analisando os mesmos dados, dizem ter havido erro no procedimento. Fonte: Revista Aventuras na História

15.000 ANOS
É a tese defendida pelos autores da pesquisa descrita nesta reportagem, com base na análise genética dos índios americanos, do Canadá ao extremo sul do continente. É igual à tese defendida pelo antropólogo brasileiro Walter Neves, com base no esqueleto de Luzia, de 11.000 a 12.000 anos, encontrada no sítio arqueológico de Lagoa Santa, na Grande Belo Horizonte, Minas Gerais. Para Neves, Luzia é a evidência de que os antepassados dos índios vieram pelo Estreito de Bering há 15.000 anos e aos poucos ocuparam o continente. É a tese mais aceita.
11.400 ANOS
É a data defendida por parte dos arqueólogos americanos (chamados de Clovistas), com base em objetos como pontas de flechas e de lanças encontradas em um sítio arqueológico do Novo México. Essa tese sustenta que houve apenas uma entrada pelo Estreito de Bering.
Maior pesquisa genética — É a maior pesquisa genética de nativos americanos até o momento, e nela os cientistas analisaram mais de 364.000 variações, detectadas no DNA de 52 tribos indígenas americanas e de 17 grupos siberianos.
A análise foi dificultada pela presença de material genético procedente de migrações posteriores, principalmente dos europeus e africanos que chegaram à América a partir de 1492. Por isso, os pesquisadores se centraram apenas nas seções do genoma que procediam totalmente dos nativos americanos. "Tecnicamente, o estudo dos povos nativos americanos representa todo um desafio devido à presença generalizada de traços europeus e africanos nos grupos nativos", disse Ruiz-Linares.
Em ondas — A primeira onda migratória — os 'Primeiros Americanos' — teria se deparado com um continente desabitado e seguiu rumo ao sul pela costa do Pacífico, deixando povoações em sua passagem, um processo que teria durado cerca de mil anos e cujas linhagens podem ser rastreadas no presente.
No entanto, o DNA de quatro tribos da América do Norte demonstra que houve pelo menos duas outras ondas migratórias: a segunda percorreu a costa do Ártico até a Groenlândia, e a terceira se dirigiu rumo às Montanhas Rochosas. Essas duas levas teriam sido protagonizadas por indivíduos mais próximos à etnia han, predominante na China, do que os 'Primeiros Americanos'.
Ao avaliar o material genético da tribo dos aleútes e dos inuítes, habitantes do leste e oeste da Groenlândia, os pesquisadores constataram que metade de seu DNA procedia dos integrantes da segunda migração.
No caso dos membros da tribo canadense chipewyan, que viviam entre as Montanhas Rochosas e a baía de Hudson, os especialistas descobriram que tinham 10% do material genético em comum com os protagonistas da terceira leva migratória.
O DNA dessas quatro tribos do Norte – aleútes, inuítes do leste, inuítes do oeste e chipewyan – contém material das três ondas migratórias, mas a maior parte corresponde à primeira. Isso significa que os habitantes asiáticos da segunda e terceira ondas teriam se relacionado com os primeiros que chegaram à América.
Segundo Ruiz-Linares, isso fica demonstrado pela menor diversidade genética dos nativos da América do Sul, cujo DNA é mais próximo ao dos 'Primeiros Americanos'. "O povoamento do México rumo ao sul parece ter sido relativamente simples, com poucas misturas após a separação dos povos (até a chegada dos europeus em 1492)", disse o pesquisador.
(Com Agência EFE)

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/america-foi-inicialmente-povoada-por-tres-ondas-migratorias-da-asia-diz-estudo

Perda de habitat deve acelerar extinção na Amazônia.

Estudo publicado na revista 'Science' localiza regiões em que espécies de mamíferos, aves e anfíbios estão fadadas à extinção nas próximas décadas.

Marco Túlio Pires e Elida Oliveira
O desmatamento na região amazônica e a falta de chuvas poderá transformar, permanentemente, parte da floresta em savana
Impacto do desmatamento da Amazônia não é sentido imediatamente, mas representa ameaça para o futuro dos animais vertebrados da região (iStockphoto)
 
O desmatamento é uma bomba-relógio para o futuro dos animais vertebrados da Amazônia, de acordo com uma pesquisa publicada nesta quinta-feira na revista Science. Pesquisadores da Universidade Rockfeller, nos Estados Unidos, e do Imperial College London, da Inglaterra, criaram um método que prevê o impacto da perda de habitat para espécies de mamíferos, anfíbios e aves.
O grupo de pesquisadores liderado por Oliver Wearn dividiu a Amazônia em áreas de 50 x 50 quilômetros quadrados e estudaram o impacto do desmatamento em cada local, com dados de 1978 a 2008, sobre 204 mamíferos, 332 aves e 214 anfíbios. Como resultado, os cientistas conseguiram apontar quantos animais podem desaparecer em cada área, conforme o avanço do desmatamento.
Quando uma espécie desaparece de uma localidade, ela ainda pode se refugiar em outro local, mas a biodiversidade já estará comprometida. Caso a espécie tenha somente aquela região por área de vida, sua extinção já pode ser esperada. Isso cria o que os pesquisadores chamam de "débito de extinção". Essa "dívida" ocorre quando as espécies de plantas e animais perdem seu hábitat, mas não desaparecem. A extinção da espécie às vezes leva várias gerações, mesmo após a perda de seu ambiente natural.
Espécies perdidas Amazônia
A estimativa dos pesquisadores é de que cada região da Amazônia perca, em média, nove espécies de vertebrados e que outras 16 entrem na fila da extinção até 2050. O estado que mais acumula "débito de extinção" é Tocantins, com 28 espécies; seguido pelo Maranhão, com 20 espécies; Rondônia, com 16; e Mato Grosso, com 11 espécies.
Calote — "Ou tomamos uma medida para dar um calote nesse débito ou vamos perder espécies nessas localidades”, diz o ecólogo Thiago Rangel, professor e pesquisador da UFG (Universidade Federal de Goiás), revisor do artigo da Science (leia entrevista abaixo). O "calote" que ele propõe é ampliar medidas de preservação e recuperação de áreas degradadas para que a fauna e a flora se reestabeleçam.
Os pesquisadores britânicos concluem que os próximos anos oferecem uma janela de oportunidade. “É preciso concentrar esforços em áreas com o maior 'débito de extinção'. Isso poderia reduzir a dívida a ser paga", escreveram. "Assim seria possível ajudar as espécies que ainda persistem, antes que elas desapareçam para sempre."


Thiago Rangel, ecólogo, professor e pesquisador da Universidade Federal de Goiás
 

"Podemos reverter a extinção"

Thiago Rangel
ecólogo, professor e pesquisador da Universidade Federal de Goiás. Foi revisor do artigo publicado na Science e publicou, ao lado dos resultados da pesquisa britânica, um texto analítico sobre o tema no Brasil


O que esse estudo adiciona ao que já se sabe sobre o desmatamento da Amazônia? Os autores britânicos desenvolveram uma análise estatística inovadora, com base em dados preexistentes, para chegar ao número do 'débito de extinção', conceito que já existia há cerca de dez anos, mas que nunca havia sido calculado na região amazônica. O estudo não trata da extinção total e final de uma espécie, mas do desaparecimento dela em uma localidade. Se houver representantes da espécie em outro local, elas não serão extintas totalmente. Mas se ocorrem somente na Amazônia, será a extinção final.
O que é o débito de extinção? O débito de extinção é um conceito para medir quantas espécies serão afetadas pelo desmatamento já realizado, mas que ainda não foram extintas. É como se a gente “devesse” algumas espécies por causa do desmatamento. Isso acontece porque, ao devastar uma área, as espécies não deixam de existir imediatamente. Levam-se alguns anos para que o impacto seja sentido. O método mostra quantas espécies serão extintas, mas não quais delas.

Como os pesquisadores chegaram a esses números? Eles dividiram a Amazônia em localidades (quadrados de 50 x 50 quilômetros). Depois, pegaram dados de bancos já existentes, como a distribuição de aves, mamíferos e anfíbios que existem em cada região da Amazônia. No Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), analisaram dados de desmatamento dos últimos 30 anos. O que fizeram a partir daí foi estimar quantas espécies devem ser perdidas em função da proporção de desmatamento que já ocorreu em cada localidade.

Em que isso pode ajudar na preservação da Amazônia? Ele mostra quantas extinções ainda não aconteceram em cada localidade e o que acontecerá até 2050 diz que se nada for feito. Com este indicador, podemos tomar as medidas necessárias e evitar a extinção local das espécies. 
Como é possível reverter essa extinção? Podemos estabelecer unidades de conservação na região, fortalecer a fiscalização e aumentar a conectividade entre as áreas por meio de corredores ecológicos. Tudo isso vai aliviar a pressão do impacto sobre as espécies que habitam a região. A regeneração florestal tem a maior capacidade de reverter os danos do desmatamento. A floresta tem capacidade de, ela mesma, recuperar uma área degradada pela agricultura ou desmatamento. Não precisa de investimento: é só cercar a área e deixar que ela se recupere. Em 20 anos, em média – dependendo dessa conectividade entre a área preservada e a devastada – ela já recupera 50% da biodiversidade original. Em 40 anos, teremos de 70 a 80% dessa biodiversidade recuperada. É uma medida até mais econômica que fazer as unidades de conservação.

Por que chegamos a esse ponto? Os mapas do avanço do desmatamento mostram duas frentes. Primeiro houve devastação gradual ao redor dos centros urbanos, como Belém, Manaus, Rio Branco. Depois, após 1970, houve o avanço da agricultura. Criou-se a Transamazônica e as demais rodovias para ocupar aquele grande “oceano verde”. Mas também neste mesmo período, durante o governo militar, houve muito incentivo para a agricultura no cerrado – e lá já perdemos 90% desta vegetação para a soja ou o pasto. O Brasil precisa decidir: já que pagamos pela preservação da Amazônia com a devastação do cerrado, vamos pensar agora em agricultura mais eficiente e moderada ou vamos optar pelo caminho mais fácil, que é expandir a fronteira agrícola para a Amazônia? 
A devastação na Amazônia tem diminuído nos últimos anos. Isso deve se manter? O Brasil tem feito a lição de casa. Nos últimos dez anos, a taxa de desmatamento anual caiu de 30.000 quilômetros quadrados para 6.000 quilômetros quadrados. Isso aconteceu porque aumentou o monitoramento via satélite das queimadas e da devastação. Mas a medida mais efetiva foi cortar o crédito rural para o agricultor que fizesse desmatamento ilegal.

A extinção deve ocorrer mesmo com o desmatamento em baixa? Com certeza. As espécies entrarão em extinção nessas localidades se nada for feito. Não tem jeito de frear o débito de extinção. Ou tomamos uma medida para dar um calote nesse débito ou vamos perder espécies nessas localidades.

A construção de usinas como Belo Monte contribuem para essa extinção? Não existe medida científica para o efeito que essas construções causam, mas de fato são empreendimentos de grande impacto. Represar o rio bloqueia a migração de peixes durante anos. Uma barragem certamente vai impactar na sobrevivência das espécies da região. É o que ocorre quando se desloca unidades de preservação para construir barragens. Há cerca de dois meses, a Câmara alterou cerca de oito unidades de preservação para poder liberar área para alagamento. Como pensar na preservação desses locais se eles não são feitos para serem permanentes?
Existe uma estimativa de quantas espécies amazônicas já desapareceram recentemente? São poucas e pontuais, porque o desmatamento começou nos últimos 30 anos e, comparativamente, a região ainda é bastante preservada. Mas os cálculos dos pesquisadores britânicos mostram que, em Tocantins, por exemplo, três espécies de mamífero já foram perdidas. No Maranhão e em Rondônia, uma espécie em cada Estado.

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/perda-de-habitat-deve-acelerar-extincao-na-amazonia

Quase humanos.

Neurocientistas publicam manifesto afirmando que mamíferos, aves e até polvos têm consciência e esquentam debate sobre direitos dos animais.

Marco Túlio Pires
Chimpanzé alimenta um filhote de tigre dourado, em mini zoológico na cidade de Samutprakan, Tailândia
Chimpanzé alimenta um filhote de tigre dourado, em mini zoológico na cidade de Samutprakan, Tailândia: percepção de sua própria existência e do mundo ao seu redor (Rungroj Yongrit/EFE)

Os seres humanos não são os únicos animais que têm consciência. A afirmação não é de ativistas radicais defensores dos direitos dos animais. Pelo contrário. Um grupo de neurocientistas — doutores de instituições de renome como Caltech, MIT e Instituto Max Planck — publicou um manifesto asseverando que o estudo da neurociência evoluiu de modo tal que não é mais possível excluir mamíferos, aves e até polvos do grupo de seres vivos que possuem consciência. O documento divulgado no último sábado (7), em Cambridge, esquenta uma discussão que divide cientistas, filósofos e legisladores há séculos sobre a natureza da consciência e sua implicação na vida dos humanos e de outros animais.

Apresentado à Nasa nesta quinta-feira, o manifesto não traz novas descobertas da neurociência — é uma compilação das pesquisas da área. Representa, no entanto, um posicionamento inédito sobre a capacidade de outros seres perceberem sua própria existência e o mundo ao seu redor. Em entrevista ao site de VEJA, Philip Low, criador do iBrain, o aparelho que recentemente permitiu a leitura das ondas cerebrais do físico Stephen Hawking, e um dos articuladores do movimento, explica que nos últimos 16 anos a neurociência descobriu que as áreas do cérebro que distinguem seres humanos de outros animais não são as que produzem a consciência. "As estruturas cerebrais responsáveis pelos processos que geram a consciência nos humanos e outros animais são equivalentes", diz. "Concluímos então que esses animais também possuem consciência."

O que é consciência?

PARA A FILOSOFIA
Filosoficamente, é o entendimento que uma criatura tem sobre si e seu lugar na natureza. Alguns atributos definem a consciência, como ser senciente, ou seja, sentir o mundo à sua volta e reagir a ele; estar alerta ou acordado ou ter consciência sobre si mesmo (o que, para a filosofia já basta para incluir alguns animais “não-linguísticos” entre os seres com consciência). Fonte: Enciclopédia de Filosofia de Stanford
PARA A CIÊNCIA
A ciência considera como consciência as percepções sobre o mundo e as sensações corporais, junto com os pensamentos, memórias, ações e emoções. Ou seja, tudo o que escapa aos processos cerebrais automáticos e chega à nossa atenção. O conteúdo da consciência geralmente é estudado usando exames de imagens cerebrais para comparar quais estímulos chegam à nossa atenção e quais não. Como resumiu o neurocientista Bernard Baars, em 1987, o cérebro é como um teatro no qual a maioria dos eventos neurais são inconscientes, portanto acontecem “nos bastidores”, enquanto alguns poucos entram no processo consciente, ou seja, chegam ao “palco”.
Estudos recentes, como os da pesquisadora Diana Reiss (uma das cientistas que assinaram o manifesto), da Hunter College, nos Estados Unidos, mostram que golfinhos e elefantes também são capazes de se reconhecer no espelho. Essa capacidade é importante para definir se um ser está consciente. O mesmo vale para chimpanzés e pássaros. Outros tipos de comportamento foram analisados pelos neurocientistas. "Quando seu cachorro está sentindo dor ou feliz em vê-lo, há evidências de que no cérebro deles há estruturas semelhantes às que são ativadas quando exibimos medo e dor e prazer", diz Low.

Personalidade animal - Dizer que os animais têm consciência pode trazer várias implicações para a sociedade e o modo como os animais são tratados. Steven Wise, advogado e especialista americano em direito dos animais, diz que o manifesto chega em boa hora. "O papel dos advogados e legisladores é transformar conclusões científicas como essa em legislação que ajudará a organizar a sociedade", diz em entrevista ao site de VEJA. Wise é líder do Projeto dos Direitos de Animais não Humanos. O advogado coordena um grupo de 70 profissionais que organizam informações, casos e jurisprudência para entrar com o primeiro processo em favor de que alguns animais — como grandes primatas, papagaios africanos e golfinhos — tenham seu status equiparado ao dos humanos.

O manifesto de Cambridge dá mais munição ao grupo de Wise para vencer o caso. "Queremos que esses animais recebam direitos fundamentais, que a justiça as enxergue como pessoas, no sentido legal." Isso, de acordo com o advogado, quer dizer que esses animais teriam direito à integridade física e à liberdade, por exemplo. "Temos que parar de pensar que esses animais existem para servir aos seres humanos", defende Wise. "Eles têm um valor intrínseco, independente de como os avaliamos."

Questão moral - O manifesto não decreta o fim dos zoológicos ou das churrascarias, muito menos das pesquisas médicas com animais. Contudo, já foi suficiente para provocar reflexão e mudança de comportamento em cientistas, como o próprio Low. "Estou considerando me tornar vegetariano", diz. "Temos agora que apelar para nossa engenhosidade, para desenvolver tecnologias que nos permitam criar uma sociedade cada vez menos dependente dos animais." Low se refere principalmente à pesquisa médica. Para estudar a vida, a ciência ainda precisa tirar muitas. De acordo com o neurocientista, o mundo gasta 20 bilhões por ano para matar 100 milhões de vertebrados. Das moléculas medicinais produzidas por esse amontoado de dinheiro e mortes, apenas 6% chega a ser testada em seres humanos. "É uma péssima contabilidade", diz Low.

Contudo, a pesquisa com animais ainda é necessária. O endocrinologista americano Michael Conn, autor do livro The Animal Research War, sem edição no Brasil, argumenta que se trata de uma escolha priorizar a espécie humana. "Conceitos como os de consentimento e autonomia só fazem sentido dentro de um código moral que diz respeito aos homens, e não aos animais", disse em entrevista ao site de VEJA. "Nossa obrigação com os animais é fazer com que eles sejam devidamente cuidados, não sofram nem sintam dor — e não tratá-los como se fossem humanos, o que seria uma ficção", argumenta. "Se pudéssemos utilizar apenas um computador para fazer pesquisas médicas seria ótimo. Mas a verdade é que não é possível ainda."

Fonte: vejaonline

EUA aprovam Truvada, 1ª pílula de prevenção ao vírus da aids.

Antes só usado no tratamento, Truvada pode agora ser utilizado para evitar a doença. No Brasil, a droga já foi registrada e, portanto, pode ser comercializada.

Medicamento Truvada
Truvada: medicamento poderá ajudar pessoas com alto risco de contrair o vírus HIV a evitar a doença (Divulgação)

O FDA, órgão do governo americano que controla drogas e alimentos, anunciou nesta segunda-feira a aprovação do Truvada, fabricado pelo laboratório Gilead Sciences, como primeira pílula para ajudar a prevenir a contração do HIV em grupos de alto risco. O órgão ressalta, porém, que o medicamento é incapaz de evitar a doença sozinho: deve ser usado com outros meios, como a camisinha.

Saiba mais

TRUVADA
O Truvada, comercializado desde 2004, é a combinação de outras duas drogas, mais antigas, usadas no combate ao HIV: Emtriva e Viread. Os médicos normalmente receitam a medicação como parte de um coquetel que dificulta a proliferação do vírus, reduzindo as chances de a aids se desenvolver.

A capacidade de prevenção do Truvada foi anunciada pela primeira vez em 2010 como um dos grandes avanços médicos na luta contra a epidemia de aids. Um estudo de três anos descobriu que doses diárias diminuíam o risco de infecção em homens saudáveis em 44%, quando acompanhados por orientação e pelo uso de preservativo.
O Truvada costuma provocar, como efeito colateral, vômitos, diarreia, náuseas e tontura.  Há casos também de intoxicação do fígado, perda óssea e alteração da função renal.

O remédio já está no mercado para tratar a doença. A aprovação do FDA permite que a empresa Gilead Sciences, fabricante da medicação, venda a droga formalmente nas condições estabelecidas pelo órgão.
"O Truvada é para ser utilizado na profilaxia prévia à exposição, em combinação com práticas de sexo seguro, para prevenir as infecções do HIV adquiridas por via sexual em adultos de alto risco. O Truvada é o primeiro remédio aprovado com esta indicação", afirmou o FDA.
Com a decisão do FDA, médicos estão autorizados a prescrever o Truvada nos Estados Unidos a grupos como prostitutas ou casais em que um dos parceiros é soropositivo. Ricardo Shobbie Diaz, infectologista da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), porém, afirma que, como os estudos mais conclusivos até o momento dizem respeito a homens que fazem sexo com homens, a droga deve inicialmente ser indicada para esse grupo. José Valdez Madruga, infectologista e coordenador de Pesquisa em Novos Medicamentos do Centro de Referência e Tratamento de Aids (CRT), de São Paulo, também afirma que, por enquanto, os estudos com resultados mais fortes analisaram grupos homossexuais.
A posição definitiva do FDA veio dois meses após o órgão ter se mostrado favorável a um estudo que indicou que o medicamento pode reduzir de 44% a 73% o risco de contração do HIV em homens homossexuais. Na mesma semana, um comitê do FDA se reuniu e os especialistas se posicionaram a favor do uso do Truvada para esses fins.
O Truvada é encontrado no mercado americano desde 2004 como tratamento para pessoas infectadas com HIV. O medicamento é usado em combinação com outros remédios antirretrovirais. Agora, com a aprovação do FDA, a droga passa a ser recomendada também para pessoas não infectadas.
Apesar de comemorada por grande parte da comunidade científica, a nova indicação para o Truvada foi rejeitada por alguns grupos de prevenção a aids, como a Aids Healthcare Foundation, dos Estados Unidos. De acordo com a organização, o uso contínuo do medicamento pode induzir a uma falsa sensação de segurança. Isso levaria, segundo a organização, a um menor uso de métodos preventivos mais eficazes, como a camisinha.
Leia também:
Sem vacina ideal, aids deve se tornar uma doença crônica
França testa tratamento preventivo contra o HIV
Drogas contra HIV podem reduzir risco de nova infecção
Antirretrovirais reduzem risco de infecção pelo HIV

Brasil — Em maio, logo após o primeiro sinal verde do FDA em relação ao uso do Truvada para a prevenção do HIV, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) registrou o medicamento no Brasil. A droga, no entanto, não passou a ser utilizada automaticamente no país. De acordo com o Ministério da Saúde, a inclusão do medicamento no coquetel distribuído no país foi analisada há dois anos e não foi encontrada a necessidade na troca das drogas.
Segundo Diaz, o Truvada é uma alternativa mais cara para o coquetel que já é distribuído pelo Ministério da Saúde. "Ele encarece o tratamento sem necessidade, já usamos medicamentos similares e mais baratos", diz. Mas, como a droga é devidamente registrada no país, ela pode ser receitada e comercializada.
(Com agência France-Presse)

Fonte: http://veja.abril.com.br/noticia/saude/eua-aprovam-truvada-primeira-pilula-de-prevencao-ao-virus-da-aids

domingo, 8 de julho de 2012

ONU quer taxar ricos e países poluidores para combater pobreza.

Estudo divulgado aponta possível arrecadação de US$ 375 bilhões.
Auxílio a países pobres foi um dos temas principais da Rio+20, em junho.

Do Globo Natureza, com agências*

Em meio à crise econômica mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) busca mecanismos para reduzir a dependência que os países em desenvolvimento têm de ajuda humanitária. Em estudo divulgado nesta semana, a ONU propõe uma série de taxas que pode arrecadar até US$ 375 bilhões por ano para a cooperação internacional.
Fica proposta uma taxação internacional composta de cobranças sobre emissões de carbono (US$ 250 bilhões), transações financeiras (US$ 75 bilhões), tráfego aéreo (US$ 10 bilhões) e também sobre as operações com quatro principais moedas - dólar americano, euro, yen e libra esterlina. A taxação sobre essas moedas, por exemplo, seria de apenas 0,005%, podendo render US$ 40 bilhões em benefício da cooperação internacional.

"Os países doadores têm reduzido a pequenas quantias suas contribuições e a assistência para o desenvolvimento teve um declínio no último ano por causa dos cortes de orçamento, causando uma queda de US$ 167 bilhões," afirma Rob Vos, que liderou o estudo.
A ONU vê ainda a possibilidade também de uma "taxa bilionário", com cobrança de 1% sobre os ativos pessoais iguais ou superiores a US$ 1 bilhão. Isso atingiria apenas 1.226 pessoas no mundo, sendo 425 nos EUA, 90 em outros países das Américas, 315 na Ásia-Pacífico, 310 nos Europa e 86 na África e no Oriente Médio. Juntos, eles tem US$ 4,6 trilhões em ativos.

O relatório da Pesquisa Econômica e Social Mundial 2012 conclui que os recursos atuais de financiamento têm se concentrado no combate a doenças específicas em países pobres, sem dar a devida atenção aos sistemas de saúde. O estudo aponta a necessidade de criação de um "fundo global para a saúde".
foto oficial da rio+20 (Foto: globonews) 
Chefes de Estado reunidos para foto oficial da Rio+20. Combate à pobreza foi um dos temas principais da conferência realizada no Rio de Janeiro. (Foto: globonews)

Erradicação da pobreza
Reduzir os índices de pobreza no mundo foi um dos temas debatidos na Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, realizada no Rio de Janeiro entre 13 e 22 de junho.

O propósito da Rio+20 era formular um plano para que a humanidade se desenvolvesse de modo a garantir vida digna a todas as pessoas, administrando os recursos naturais para que as gerações futuras não fossem prejudicadas.
Mas os 188 governos reunidos no Riocentro, que se tornou território internacional durante o evento, não conseguiram chegar a um documento forte, com mecanismos suficientes para o desenvolvimento do mundo sem as crises econômica, ambiental e social.
O texto "O futuro que queremos" estabelece a erradicação da pobreza como o maior desafio global do planeta e recomenda que “o Sistema da ONU, em cooperação com doadores relevantes e organizações internacionais”, facilite a transferência de tecnologia para os países em desenvolvimento.
Esse sistema atuaria para facilitar o encontro entre países interessados e potenciais parceiros, ceder ferramentas para a aplicação de políticas de desenvolvimento sustentável, fornecer bons exemplos de políticas nessas áreas e informar sobre metodologias para avaliar essas políticas.
Por atender restrições de países com visões muito diferentes, o texto da Rio+20 foi criticado por avançar pouco: não especifica quais são os objetivos de desenvolvimento sustentável que o mundo deve perseguir, nem quanto deve ser investido para alcançá-los, e muito menos quem coloca a mão no bolso para financiar ações de sustentabilidade. O que o documento propõe são planos para que esses objetivos sejam definidos num futuro próximo.

*Com informações da Agência Estado e do Valor

 

Deixar a cama desarrumada logo ao acordar tira a umidade do colchão.

Tempo indicado é de até 3h; faça rodízio do colchão e observe desgaste.
Especialistas também alertam para terror noturno, comum em crianças.

Do G1, em São Paulo

Para garantir uma boa noite de sono, é importante ter um bom colchão, um bom travesseiro e uma boa postura. A ausência de um desses fatores pode prejudicar a qualidade do sono, então é importante observar sinais de desgaste nos produtos e tomar alguns cuidados.
Além disso, a especialista e personal do sono Silmara Bueno recomenda que a cama fique desarrumada de 2 a 3 horas após a pessoa acordar para eliminar o odor e a umidade adquiridos ao longo da noite. Isso ajuda na preservação do colchão e pode aumentar sua durabilidade.
Outro problema que pode atrapalhar na hora de dormir é o tempo seco. A pediatra Ana Escobar mostrou que, quando o ar seco entra pelo nariz, ele resseca as mucosas de dentro. Para tentar deixar o nariz mais úmido, o corpo se defende produzindo mais secreção, o que dificulta o trabalho dos cílios.
Fica mais difícil respirar pelo nariz, então a boca passa a ser alternativa e o ar seco entra e resseca também toda a mucosa da boca e da garganta. Isso causa pequenas rachaduras, que funcionam como "porta de entrada" para vírus e bactérias.
Arte Terror Noturno Bem Estar VALENDO (Foto: Arte/G1)
 
Colchão
Segundo a personal do sono e fisioterapeuta Silmara Bueno, não existe um colchão ideal. É importante experimentar o produto e verificar se o colchão está de acordo com o peso e o tamanho de cada um. Além disso, a coluna precisa estar alinhada e confortável, moldada de maneira eficiente no colchão.
A maioria dos colchões dura até 10 anos, mas a validade vai depender de fatores externos como umidade e sobrecarga além, claro, da qualidade do produto. Para aumentar a durabilidade, é aconselhável fazer o rodízio pelo menos uma vez por mês, ou seja, fazer a rotação alternando a posição dos pés e da cabeceira e trocar também as faces do colchão de um lado para o outro.
 
É importante também deixar o colchão “respirar” por, pelo menos, quatro horas por semana. Isso ajuda a eliminar a umidade.
Outro problema dos colchões é que acumulam muitos ácaros, bactérias, fungos e vírus. Quase metade de todas as doenças pode ter como causa os colchões deteriorados.
 
Xixi na cama
No caso das crianças que sofrem com o xixi na cama, a solução para o colchão é a capa impermeável. Caso a urina vaze, é recomendável colocar um papel absorvente em cima da região molhada para retirar toda a umidade. Depois, só utilizar um produto para remover o odor da urina.

Polvilhar bicarbonato de sódio com algumas gotas de água e deixar agir por algumas horas também é uma boa solução. Depois, só usar o aspirador de pó, secar com o secador de cabelo ou ventilador e, por fim, colocar em local arejado e ventilado. Vinagre também ajuda a remover as manchas de urina.
É importante que o colchão seque totalmente, pois a umidade cria condições ideais para o crescimento de fungos e bactérias e também odores desagradáveis.

Arte Terror Noturno Bem Estar (Foto: Arte/G1)
 
Terror noturno
Assim como o sonambulismo e as crises inconsoláveis de choro do bebê, o terror noturno faz parte de um grupo de distúrbios do sono chamados de parassonias.
São distúrbios benignos, associados à maturação dos mecanismos do sono e, por isso, mais comum em crianças.
Esses distúrbios não trazem nenhuma seqüela ao cérebro futuramente.
Segundo a pediatra Ana Escobar, essa maturação está associada à neuroplasticidade, um processo que nos ajuda a aprender sempre.
Funciona como um quebra cabeças com capacidade de remapeamento das conexões das nossas células nervosas.
Nas crianças esse processo é muito rápido, pois elas estão desenvolvendo capacidades cognitivas, motoras, a fala, ou seja, tudo ao mesmo tempo.
O infográfico ao lado mostra o que fazer durante as crises de terror noturno e como evitar acidentes. Portas abertas e objetos cortantes à vista podem ser perigosos.
É importante também não acordar a pessoa durante a crise de terror noturno porque isso pode piorar e prolongar o episódio.

Ações humanas pré-industriais impactaram clima, diz estudo

Desmatamento para avanço agrícola teria provocado emissões de carbono.
Efeito é prolongado e ainda é sentido, embora seja relativamente pequeno.

Do Globo Natureza, em São Paulo

As emissões de carbono, apontadas hoje como principais agentes da mudança climática, têm como principal fonte a queima de combustíveis fósseis – como o carvão e o petróleo. No entanto, um estudo publicado na última edição da revista científica “Environmental Research Letters” indica que o homem começou a provocar essas emissões antes mesmo de montar as primeiras indústrias.
Uso do solo aumentou em mais de 4 mil hectares e focos de incêndio diminuíram em dez anos (Foto: Divulgação/IBAMA) 
Brasil de hoje em dia ainda tem problemas com as emissões causadas pelo desmatamento (Foto: Divulgação/IBAMA)
A origem dessas emissões pré-industriais está na agricultura. Assim como ainda acontece hoje em dia, as sociedades mais antigas abriam espaço na floresta para abrir espaço para o cultivo. O corte e a queima de árvores leva à emissão de gás carbônico.
Mesmo anos – e até séculos – após a retirada das árvores, as raízes e a madeira continuam emitindo carbono na atmosfera. Por isso, esse desmatamento ainda provoca efeitos sobre o clima da Terra.
Os autores do estudo, Ken Caldeira e Julia Pongratz, do Instituto Carnegie, em Washington, nos Estados Unidos, calcularam esse impacto. Se as emissões contínuas forem incluídas na conta, as emissões de carbono dos países industrializados sobem em até 3%. Na Índia, o número pode chegar a até 7%.
“As quantidades relativamente pequenas de dióxido de carbono emitidas muitos séculos atrás continuam afetando as concentrações atmosféricas de dióxido de carbono e nosso clima hoje, embora apenas em uma extensão relativamente pequena”, explicou Pongratz, que hoje trabalha no Instituto Max Planck de Meteorologia, na Alemanha.

Histórico, Anderson Silva massacra Chael Sonnen e vence 'luta do século'.

Spider perde o primeiro round, mas se recupera no segundo, nocauteia o americano e confirma a posse do cinturão da categoria pela décima vez

Por SporTV.com Las Vegas, EUA

Mini header anderson silva e Chael sonnen luta do século 2 (Foto: Editoria de Arte / Globoesporte.com)

Espanha, 1605. Um cavaleiro conhecido como Don Quixote cruzava o país buscando aventuras heroicas e vitórias impossíveis. Nunca conseguiu. Las Vegas, 2012. Um lutador chamado Chael Sonnen buscava a maior das vitórias, contra um inimigo tão poderoso quanto os moinhos que Quixote, 407 anos antes, ousou enfrentar. Como o personagem da obra-prima de Miguel de Cervantes, Sonnen também descobriu, da pior maneira, que sua missão era impossível. Diante de si havia não um moinho, mas um gigante: Anderson Silva, o brasileiro que, pela 15ª vez seguida venceu no UFC, defendendo seu cinturão de campeão dos pesos-médios pela décima vez consecutiva. Com um nocaute rápido e preciso a 1m55s do segundo round, o brasileiro escreveu com letras de ouro mais um capítulo da sua história. Essa sim, vitoriosa e heroica.

anderson silva mma (Foto: Agência Getty Images)Anderson Silva comemora a vitória por nocaute contra Chael Sonnen no UFC 148 (Foto: Getty Images)

- Esse esporte é o melhor esporte do mundo. Nós trabalhamos duro por vocês. Nessa luta, eu lutei contra Chael, e ele contra mim. Ele desrespeitou meu país. Mas é isso aí. Um segundo - disse o campeão, ao chamar Chael Sonnen para cumprimentá-lo - Vamos mostrar que o nosso país tem um povo educado. Chael, Se você quiser fazer um churrasco lá em casa, eu te convido. Minha mulher vai cozinhar pra gente. Vamos lá - disse Anderson diante de um constrangido Chael Sonnen.
Chael, Se você quiser fazer um churrasco lá em casa, eu te convido. Vamos lá!"
Anderson Silva, lutador de MMA
Sonnen não manteve a postura arrogante e falastrona após a derrota. Olhando para baixo, o americano respondeu secamente a Joe Rogan ao ser perguntado como se sentia após a luta.
- Ninguém entrou aqui comigo. Me deram uma oportunidade, e eu agradeço pela chance. Ele me acertou com uma joelhada, e tenho que ver o vídeo. Mas ele é o campeão - disse Sonnen, claramente decepcionado.
Após a entrevista, Anderson Silva deu uma espécie de volta olímpica no octógono do UFC e recebeu a faixa de campeão da Taça Libertadores da América do Corinthians.
- O coração está bem. Dá pra mais cinco anos nessa adrenalina. Na verdade, ele tem os méritos dele, ele fez bem o jogo dele, de botar para baixo. Mas eu estava sem lesão, e tinha uma responsabilidade de honrar o povo brasileiro. É um esporte e estou feliz de poder dar alegria ao povo brasileiro. Nunca serão, jamais serão. Agora é férias, dar um tempo, cuidar da família e rever os conceitos para ser melhor no dia seguinte. Verás que um filho teu não foge à luta, Brasil! - disse o campeão ao canal Combate.
 
A luta
UFC 148 Anderson Silva; Chael Sonnen (Foto: Agência Getty Images) 
Chael Sonnen começou a luta levando Anderson Silva
para o chão, como na primeira luta (Foto: Getty Images)

Antes da luta, como foi prometido pelos atletas, eles não se cumprimentaram no centro do octógono, ao receberem as orientações finais do árbitro Yves Lavigne. O combate começou com Chael Sonnen partindo para encurtar a distância e levando Anderson Silva para o chão. O brasileiro manteve Sonnen na guarda, mas recebia golpes no rosto e nas costelas. Na meia-guarda, o americano acertava o rosto do brasileiro com os cotovelos e com a palma da mão. Mantendo a calma, Anderson seguia com o desafiante na guarda, sem conseguir desvencilhar-se do wrestling do americano, a exemplo do que aconteceu na primeira luta entre os dois, no UFC 117, em 2010.

UFC 148 Anderson Silva; Chael Sonnen (Foto: Agência AP) 
Anderson Silva golpeia Chael Sonnen e força o árbitro a
interromper a luta no segundo round (Foto: Agência AP)

A cerca de um minuto do fim do round, Sonnen conseguiu passar a guarda de Anderson Silva e manteve o brasileiro em desvantagem, sem conseguir reagir ao domínio imposto por Sonnen.
No segundo round, Sonnen novamente encurtou a distância para o brasileiro e travou-o na grade, em pé. Anderson Silva manteve a calma e aproveitou um erro em uma cotovelada rodada do americano, quando Sonnen caiu, e partiu para o ataque. Uma joelhada e uma sequência de socos potentes fizeram Sonnen deitar no solo do octógono, sem reação. O árbitro Yves Lavigne encerrou a luta faltando cerca de dois minutos para o fim do combate, mantendo o título dos médios com o maior de todos.
 
Confira todos os resultados do UFC 148:
Anderson Silva venceu Chael Sonnen por nocaute técnico no segundo round
Forrest Griffin venceu Tito Ortiz por decisão unânime dos juízes
Cung Le venceu Patrick Côté por decisão unânime dos juízes
Demian Maia venceu Dong Hyun Kim por nocaute técnico no primeiro round
Chad Mendes venceu Cody McKenzie por nocaute no primeiro round
Mike Easton venceu Ivan Menjivar por decisão unânime dos juízes
Melvin Guillard venceu Fabrício "Morango" Camões por decisão unânime dos juízes
Khabib Nurmagomedov venceu Gleison Tibau por decisão unânime dos juízes
Costa Philippou venceu Riki Fukuda por decisão unânime dos juízes
Shane Roller venceu John Alessio por decisão unânime dos juízes
Rafaello Oliveira venceu Yoislandy Izquierdo por decisão unânime dos juízes

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Independente de quaisquer disfarsatez tanto dos países latinos, quanto das potências oprimentes, e ainda das certezas que se podem dar à "liberdade de imprensa" brasileira, e ainda aos interesses diversos dos paraguais elitistas (ou de brasileiros que imputam pseudo-informações na net), mesmo com a esmagadora massa popular brasileira não conhecendo nada ou quase nada da história paraguaia (quiçá a do Brasil), para os que conseguem ver alguma coisa no horizonte sombrio da "democracia" brasileira, não nos parece em diversos pontos da narrativa de Avalos que descreve a nossa situação?

Att,

Alexander Von Humboldt



26/06/2012
às 19:33 \ Feira Livre

‘A Guarânia do Engano’, por Chiqui Avalos


CHIQUI AVALOS
“A história do Brasil, vista do Paraguai, é outra”
(Millôr Fernandes)
Como num verso célebre de meu inesquecível amigo Vinicius de Moraes, “de repente, não mais que de repente”, alguns governos latino-americanos redescobrem o velho e sofrido Paraguai e resolvem salvar uma democracia que teria sido ferida de morte com a queda de seu presidente. Começa aí um engano, uma sucessão de enganos, mentiras e desilusões, em proporção e intensidade que bem serve a que se componha uma melodiosa guarânia, mas de gosto extremamente duvidoso.
Sucedem-se fatos bizarros na vida das nações em pleno século XXI. Uma leva de chanceleres, saídos da espetaculosa e improdutiva Rio+20, desembarca de outra leva de imponentes jatos oficiais no início da madrugada de um incomum inverno, e ─ quem sabe estimulados pela baixa temperatura ─ se comportam com a mesma frieza com que a “Tríplice Aliança” dizimou centenas de milhares de guaranis numa guerra que arrasou a mais desenvolvida potência industrial da América Latina.
Surpresos? Não é para menos. Éramos ricos, muito ricos, industrializados, avançados, educados, cultos, europeizados, amantes das artes, dos livros, das óperas, do desenvolvimento. Nossos antepassados brilharam na Sorbonne e assinaram tratados acadêmicos, descobertas científicas ou apurados ensaios literários. A menção de nossa origem não provocava o deboche ou ironia tão costumeiros nos dias tristes de hoje, mas profunda admiração e curiosidade dos que acompanhavam nossa trajetória como Nação vencedora. Não ficamos célebres como contrabandistas ou traficantes, mas como povo empreendedor e progressista. A organização de nossa sociedade, a intensa vida cultural, o progresso econômico irrefreável, a bela arquitetura de nossas cidades, nossos museus e livrarias, a invulgar formação cultural de nossa elite, a dignidade com que viviam nossos irmãos mais pobres (sem miséria ou fome) impressionavam e merecem o registro histórico.
A rainha Vitória, que não destinou ao resto do mundo a mesma sabedoria com que governou e marcaria para sempre a história do Reino Unido, armou três mercenários e eles dizimaram a potência que, com sua farta e boa produção e espírito desbravador, tomava o mercado da antiga potência colonial do lado de baixo do Equador. Brasil, Argentina e Uruguai nos arrasaram. Nossos campos foram adubados pelos corpos de nossos irmãos em decomposição, decapitados à ponta de sabre e com requintes de sadismo. O Conde D’Eu, marido de quem libertaria os negros da escravidão e entraria para a história do Brasil, comandava pessoal e airosamente o massacre. Os historiadores, essa gente bisbilhoteira e necessária, registraram seu apurado esmero e indisfarçável prazer. O nefasto delegado Sérgio Fleury teve um precursor com quase um século de antecedência…
Nossas cidades terminaram por ser habitadas por populações majoritariamente compostas de mulheres e crianças. Poucos homens restaram do genocídio perpetrado. Pedro II, que marcaria a história do Brasil por sua honradez, comportou-se de forma impressionante nessa obscura página da história do Brasil, mas inversamente conhecidíssima na história de meu país: não moveu uma palha ou disse palavra acerca do sadismo de seu genro criminoso. Documentos por mim revirados no Arquivo Nacional, no Rio de Janeiro, mostram a assinatura do velho Imperador autorizando a compra de barcos, chatas, cavalos e tudo o que fosse necessário para uma caçada de vida ou morte (mais de morte, certamente) a Lopez. Não bastava derrotar o déspota esclarecido, o republicano que os humilhava, o que havia desafiado os impérios da Inglaterra, do Brasil, da Espanha… Era preciso assinar seu epitáfio e esculpir sua lápide. E assim foi feito.
Derrotados, nunca mais fomos os mesmos. Passamos a ser conhecidos por uma República já bicentenária, mas atrasada em comparação aos vizinhos. Enfrentamos uma guerra cruel com a Bolívia na primeira metade do século passado. Roubaram-nos importante faixa territorial do Chaco, região paradoxalmente inóspita e riquíssima. Ganhamos a guerra. Nossos soldados mostraram a valentia e o patriotismo que brasileiros, uruguaios e argentinos haviam conhecido  mais de meio século antes. Nossa incipiente aviação militar e seus jovens pilotos assombraram os experts norte-americanos pela refinada técnica e pelo sucesso de suas ações contra o agressor. Mas, numa história prenhe de ironias, vencemos a guerra e… jamais recuperamos as terras! Os bolivianos, que jamais olham nos olhos nem das pessoas nem da história, certamente se rejubilam em sua “andina soledad” e, como os argentinos depois da inexplicável Guerra das Malvinas, sabem-se “vice-campeones”…
Mal saímos da Guerra do Chaco e experimentamos a mesma e usual crônica tão comum a rigorosamente todos os outros países latino-americanos. Golpes e contra-golpes, instantes de democracia e hibernações em ditaduras ferrenhas. Presidentes  se sucederam despachando no belíssimo Palácio de Lopez e vivendo na vetusta mansão de Mburuvicha Roga (“A casa do grande chefe”, em guarani). Uns razoáveis, outros deploráveis. Nenhum deles, entretanto, recuperou a glória perdida dos anos de riqueza, opulência e fartura. Um herói da Guerra do Chaco tornou-se ditador e nos oprimiu por mais de três décadas. Homem duro, mas de hábitos espartanos e por demais interessante, o multifacético Alfredo Stroessner não recusou o papel menor de tirano, mas construiu com o Brasil a estupenda hidrelétrica de Itaipu, a maior obra de engenharia de seu tempo, salvando o Brasil de previsível hecatombe energética. Foi parceiro e amigo de todos os presidentes do Brasil de JK a Sarney. Com os militares pós-64 deu-se às mil maravilhas, mas foi de suas mãos que o exilado João Goulart recebeu o passaporte com que viajaria para tratar sua saúde com cardiologistas franceses. Deposto, o velho ditador morreu exilado no Brasil. Nós que o combatíamos (nasci em Buenos Aires, onde meu pai, empresário de sucesso mas adversário da ditadura, curtia seu exílio) jamais soubemos de ação qualquer, uma que fosse, do Brasil em seus governos democráticos contra a ditadura do general que lhes deu Itaipu.
A vez de Fernando Lugo
Depois de duas décadas da derrubada de Stroessner, nos aparece Fernando Lugo. Sua história é peculiar. Era bispo de San Pedro, simpaticão e esquerdista, pregava aos sem-terra e parecia não incomodar ninguém, nem aos fazendeiros da área. Pelos idos de 2007 o então presidente Nicanor Duarte Frutos, um jovem jornalista eleito pelos colorados, resolve seguir o péssimo exemplo de Menem, Fujimori e Fernando Henrique, e deixa clara sua vontade de mudar a Constituição e permanecer na presidência, valendo-se do instituto inexistente da reeleição. Seu governo era mais que sofrível e ─ desculpem-nos a imodéstia lastreada em nossa história ─ nós, os paraguaios, não somos dados ao desfrute de mudar nossa Carta Magna ao sabor da vontade de presidente algum.
O país se levantou contra a aventura e ele, o bispo bonachão, justamente por não ser político e garantir que não alimentava qualquer ambição de poder, é escolhido para ser o orador de um grande ato público, com dezenas de milhares de pessoas reunidas no centro de Assunção. Pastoral, envolvente, preciso, o Bispo de San Pedro cativou a multidão, deu conta do recado e  catalisou a imensa indignação da cidadania. A aventura continuísta de Nicanor não foi bem-sucedida, mas, com a sutileza de um príncipe da Igreja nos intricados concílios que antecedem a fumacinha branca no Vaticano, nos aparece um candidato forte à presidência da República: ‘habemus candidatum’! A batina vestia mais que um pastor, escondia um homem frio, ambicioso, ingrato e profundamente amoral.
Seu primeiro problema foi com a Santa Madre Igreja. A Santa Sé, certamente por saber algo que nós não sabíamos, vetou sua disposição política. Não, ele jamais poderia ser candidato. A igreja católica combateu a ditadura do general Stroessner com imensa coragem e ações firmes, mas não queria ocupar a presidência do país. “Roma locuta, causa finita” (“Roma falou, questão decidida”). Mas não para Lugo, que deixou seu bispado, despiu a batina e virou as costas a quem o educou e  acolheu em seu seio. Poucos e corajosos colegas, bispos e padres, ousaram apoiá-lo abertamente. Na última sexta-feira, depois de três anos sem vê-lo ou serem por ele procurados, esses mesmos amigos e apoiadores foram até a residência presidencial pedir ─ em vão ─ que Lugo renunciasse à presidência do Paraguai para que se evitasse derramamento de sangue. Com frieza, o homem seduzido pelo poder disse não, levantou-se e despachou aqueles inoportunos portadores da palavra divina.
Candidato sem partido, favorecido pela simpatia da clara maioria do eleitorado, filiou-se ao centenário e respeitável PLRA, dos liberais, há mais de 60 anos fora do poder e com a respeitável bagagem de uma corajosa oposição à ditadura stroessnista. Como um Jânio Quadros, Lugo filiou-se ao Partido Liberal Radical Autêntico e usou sua bandeira, sua história e sua estrutura capilarizada em toda a sociedade paraguaia. E depois deu-lhe um adeus de mão fechada, frio e indiferente.
Eleito, desfez-se de todos os companheiros de jornada. Um a um. Stalin não apagou tantos nas fotos oficiais do Kremlin como o ex-bispo o fez. Por sinal, demitiu os mais qualificados. Restaram-lhe os cupinchas, os facilitadores de negócios e de festinhas íntimas, os “operadores” e alguns incautos esquerdistas para colorir com as tintas de um risível ‘socialismo guarani’ o governo de um homem que chegou como o Messias e terminaria como um Judas Escariotes.
Lugo poderia emprestar seu nome e sua vida política (e pessoal, também) ao mestre Borges e tornar-se uma das impressionantes personagens da “História Universal da Infâmia”. Um infame, não mais que isso! Mal foi eleito e empossado, sucedem-se escândalos e se revela seu procedimento moral. Filhos impensados para um Bispo supostamente casto. Vários. Todos jamais reconhecidos ou amparados, gerados com mulheres as mais pobres e sem instrução alguma, do meio rural, humilhadas depois de usadas, uma delas com apenas 16 anos quando engravidou. Se traíra a sua Igreja, por qual razão não nos trairia?
Durante seus três anos de governo, não passou um mês sequer sem viajar a um país qualquer. Com razão ou sem nenhuma, tanto fazia, lá se ia ele, o alegre viajante para conferências esvaziadas ou cerimônias de posse de mandatários sem importância para o Paraguai. As pompas do poder o abduziram como a nenhum déspota de república bananeira do Caribe. Os comboios de limusines com batedores estridentes, as festas e beija-mãos, os eternos e maviosos cortesãos do poder, as belas mulheres, as mesas fartas, os hotéis cinco estrelas, a riqueza, a opulência, os “negócios”. O despojado ex-bispo tornou-se grande estancieiro, senhor de terras, plantações e gado. O presidente que tomou posse calçando prosaicas sandálias, símbolo de humildade, revelou-se um homem vaidoso e fetichista. Como que a vestir a mentira em que ele próprio se tornou, passou a envergar elegantes e bem-cortadas túnicas encomendadas a alfaiates da celebérrima e caríssima Savile Row, templo londrino da moda masculina. No detalhe, o estelionato (mais um): colarinhos eclesiásticos. Afeiçoou-se a lindas e jovens, digamos, “modelos”, que floriram sua vida e a imensa banheira Jacuzzi que mandou instalar na austera e velha residência presidencial. Muitas delas o precediam mundo afora, esperando-o em hotéis fantásticos e palácios, nas vilegiaturas internacionais. Viajavam com documentos oficiais. Kaddafi proporcionava passaportes diplomáticos a terroristas, Lugo, a prostitutas.
O veto de Itaipu
Sua afeição pelos jatinhos e jatões chegou às raias do fetiche: passou boa parte de seu peculiar mandato a bordo deles. Fretados a empresas de táxi aéreo de outros países, mandados pelos amigões Hugo Chávez e Lula, outros emprestados por uns tais e misteriosos amigos. Chocou-se com o brasileiro Jorge Samek, fundador do PT e competente gestor, que na presidência brasileira da Itaipu resolveu vetar capricho juvenil do ex-bispo e delirante presidente: a poderosa binacional compraria um jato para seu uso. Um Gulfstream estaria de bom tamanho, quem sabe um Falcon, ou até um brasileiríssimo Legacy, mas ele precisava ardentemente de um jato para chamar de seu. Depois mandou que o comandante da Força Aérea negociasse um Fokker 100, adaptado com suíte e ducha. Nada feito, o raio de ação seria pequeno e ele precisava ganhar o mundo. Por fim, nos estertores de seu governo, entabulava a compra de um Challenger, usado mas chique, de um cartola do futebol paraguaio. O preço, como sempre, mais um escândalo da Era Lugo: pelo menos o dobro de um modelo novo, saído de fábrica…
Obras viárias? Imagine. De infraestrutura? Nenhuma. Modernização do país? Nem pensou nisso. Crescimento econômico? Sim, mas por obra de uma agricultura forte, de empresários jovens e ambiciosos, de uma indústria florescente e de um ministro da economia, Dionísio Borda, que destoou da regra geral do governo Lugo: competente e austero, imune às vontades do presidente e distante da escória que o cercava. A cada novo dia, no parlamento, nas redações, nos sindicatos, nos foros empresariais, nos encontros de amigos, um novo comentário, uma nova história de mais uma negociata dos assessores e companheiros de Lugo. Proporcionalmente, nem na ditadura de Stroessner (mais de três décadas) se roubou tanto quanto no governo pseudo-esquerdista de Fernando Lugo (menos de três anos).  Já com Lugo deposto, seu secretário mais forte, Miguel Lopez Perito, telefonou à diretoria da Itaipu solicitando a bagatela de US$ 300 mil para organizar uma manifestação em defesa do governo. Queria ao vivo e em cores, “na mala”, por fora, não contabilizado, no “caixa 2″. Que tal? O fato, relatado por um diretor da binacional, é revelador do modus-operandi da verdadeira quadrilha que comandava o país.
O impeachment
Seu processo de “Juízo Político” ─ algo como um processo de impeachment ─ está previsto na Constituição do Paraguai. Não foi uma travessura histórica de meia dúzia de líderes políticos ou parlamentares, tampouco um revide às descortesias de Lugo para com os partidos, os empresários, os paraguaios todos. Que tipo de presidente era esse que teve 73 deputados votando por sua queda contra apenas 1 solitário voto? Que espécie de chefe da Nação era esse que teve 39 votos contrários no Senado contra apenas 4 de senadores fiéis ao seu desgoverno? Não teve tempo, apenas duas horas para defender-se, dizem. Ora, a Constituição não determina tempo, apenas assegura o direito de defesa, exercido através de competentíssimos advogados, que fizeram exposições brilhantes na defesa do indefensável. Um deles, Dr. Adolfo Ferreiro, admitiu claramente que o processo era legal. De outro, Dr. Emilio Camacho, em imponente ironia da história, os magistrados da Suprema Corte extraíram em um de seus celebrados livros aqueles ensinamentos necessários e a devida jurisprudência para rechaçar chicana jurídica do já ex-presidente contra o processo legal, constitucional e moral que o defenestrou. C’est la vie, Monsieur Lugo!
Em Curuguaty, num despejo de terras ocupadas pelos “carperos” (os sem-terra daquí), houve dezenas de mortes de ambos os lados. Lugo e seu ministro do Interior, o belicoso senador Carlos Filizzola, foram avisados de que havia uma emboscada pronta para as forças militares. Com a empáfia e a absoluta irresponsabilidade que os caracterizaram do primeiro ao último dia, e fiéis aos amigos que manejam o MST daqui e infernizam a vida de nossos produtores rurais (entre os quais os 350 mil brasileiros que aqui plantam, colhem e vivem, nossos irmãos “brasiguaios”), ambos ordenaram a ação que se tornou uma tragédia na história de nosso país. Poderia citar, também, o EPP (Exército do Povo Paraguaio), guerrilha formada por terroristas intimamente ligados a Lugo em seus tempos no bispado de San Pedro. Jamais as forças de segurança puderam fazer nada contra eles. Mapeados, identificados, monitorados e livres! Lugo se manteve fiel aos bandidos pelos quais mostra clara e pública afeição. Como o respeitado Belaúnde Terry, no Peru, que permitiu com seu “democratismo” o crescimento do terror representado pelo Sendero Luminoso de Abimael Guzmán, o nada respeitável Lugo é o pai e a mãe do EPP.
Um hiato na história
Fernando Lugo foi um acidente em nossa história. Necessário, mas sofrido. Seus defeitos superaram suas virtudes. Aqueles eram muitos, essas muito poucas. Nós que nele votamos, sequiosos de um Estadista, nos deparamos com um sibarita. Seu legado é de decepção e fracasso. Não choraram por ele dentro de nossas fronteiras, e os que o defendem fora delas o fazem muito mais pensando no que lhes pode ocorrer do que por solidariedade ao desfrutável governante e desprezível homúnculo que cai.
O fim de seu governo dói mais a um já dolorido Chávez do que a nós. A senhora Kirchner, radical na condenação que nos impõe, se esquece de nossa parceria na importante e gigantesca usina hidrelétrica de Yaciretá, e amplia sua lucrativa viuvez acolhendo em seu seio choroso o decaído amigo. Solidária? Nem tanto, apenas oportunista, e ciente de que se abriu o precedente para que os parlamentos expulsem os incapazes. Na Bolívia, o sentimento popular em relação ao sectário e também bolivariano Evo Morales não é diferente do sentimento dos paraguaios por Lugo no outono de sua aventura presidencial. É pior. O relógio da história irá tocar as badaladas do fim de uma aventura improdutiva, raivosa, racista e liberticida.
A posição brasileira
Não compreendemos a posição do Brasil. Ou não queremos compreender, tamanho é o bem que lhe queremos. O Brasil nos arrasou como sicário da Rainha Vitória. Nós o perdoamos e juntos construímos o colosso de Itaipu. Nós o tratamos bem e ele defende a continuidade de uma das piores fases de nossa história. Em nome do quê? Nega-nos o direito à autodeterminação, mas se esquece do papelão ridículo que fez em defesa de um cretino como Zelaya, um corrupto ligado a grupos somozistas de extermínio e que era tão esquerdista como Stroessner e tão democrata quanto Pinochet.
Foi deplorável o papel do inexpressivo chanceler Patriota (que não se perca pelo nome), saracoteando pelas ruas de Assunção em desabalada carreira, pressionando os partidos Liberal e Colorado em favor de um presidente que caía. Adentrando o Parlamento ao lado do chanceler de Hugo Chávez, o Sr. Maduro, para formular ameaças em benefício de um presidente que o país rejeitava. Ou indo ao vice-presidente Federico Franco ameaçá-lo com imensa desfaçatez, desconhecendo seu papel constitucional e o fato de que ninguém renunciaria a nada apenas por uma ameaça calhorda da Unasul (que não é nada) e outra não menos calhorda do Mercosul (que não é nada mais que uma ficção). O Barão do Rio Branco arrancou seus bigodes cofiados no túmulo profanado pelo Itamaraty de hoje.
O que quer o governo Dilma? Passar pelo mesmo vexame de Lula na paupérrima Honduras? Nós temos imensa disposição de manter uma parceria que se revelou positiva e decente para ambos os países. Mas a austera presidente não nos inspira o mesmo terror-medo-pânico que infunde nos seus  auxiliares e ministros. Cara feia não faz história, apenas corrói biografias. Dilma chamou seu embaixador em Assunção, Cristina fez o mesmo. As matronas radicais só não sabiam que o embaixador brasileiro é um ausente total, passando mais tempo em Pindorama do que aqui. O embaixador Eduardo Santos é tido no Paraguai como alguém que acredita que as melhores coisas em nosso país são ar condicionado e passagem de volta. Recorda o ex-embaixador Orlando Carbonar, que foi pego de surpresa em fevereiro de 1989 pelo movimento que derrubou o general Stroessner. Até meus filhos, crianças naquela época, sabiam que o golpe se avizinhava e que estouraria a qualquer momento. Só não sabia disso o embaixador brasileiro, que descansava no carnaval de Curitiba, onde nasceu. Voltou às pressas, num jatinho da FAB, para embarcar Stroessner rumo ao Brasil. E a Argentina… Bem, a Argentina não tem embaixador no Paraguai faz alguns meses… Ocupadíssima, Dona Cristina não nomeou seu substituto. País de necrófilos (amam Gardel, Che, Evita e Maradona, entre outros defuntos), chamou um embaixador que não existe, um diplomata fantasma, para consultas na Casa Rosada.
O Paraguai fez o que tinha que fazer. Seguirá adiante, como seguem adiante as Nações, testadas e curtidas pelas crises que retemperam a cidadania e reforçam a nacionalidade. O religioso que não honrou seus votos de castidade e pobreza e traiu sua igreja foi por ela rejeitado. O presidente que não honrou nossos votos e nos traiu por nós foi deposto. Deposto por incapaz, por mentiroso, por ineficiente, por desonesto. Mas principalmente por ter traído as esperanças de um país e de um povo que precisaram dele e nele confiaram. Por isso, Lugo não voltará.
(*) Chiqui Avalos é um conhecido escritor e jornalista paraguaio. Combateu a ditadura de Stroessner e apoiou a candidatura de Fernando Lugo. É editor de “Prensa Confidencial”, influente boletim digital editado em Assunção.


Fonte: http://veja.abril.com.br/blog/augusto-nunes/feira-livre/a-guarania-do-engano-por-chiqui-avalos/

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