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sábado, 5 de fevereiro de 2011

O SERASA ecológico.

Uma solução para a Amazônia.

Como Paragominas, uma das campeãs de desmatamento ilegal, saiu da lista suja e virou uma esperança para a região.
Aline Ribeiro (texto) e Rogério Cassimiro (fotos), de Paragominas
“P...” É com essas palavras que o pecuarista Pércio Barros de Lima descreve como deixou o prédio do banco que lhe emprestava dinheiro em dezembro de 2008. Alto, cabelos brancos, jeito bonachão, Lima, de 53 anos, cria e engorda boi há 30. Também planta milho, soja e arroz para incrementar a renda. Suas terras, uma área do tamanho de 1.500 campos de futebol, mantêm de pé 50% da floresta nativa – menos que a reserva legal exigida hoje pelo governo, bem mais que os vizinhos costumam preservar.

Rogério Cassimiro
CONFIANÇA
Pércio de Lima em sua fazenda. Graças à mobilização dos fazendeiros, os bancos voltarão a conceder crédito rural no município
  Reprodução
Ao lado do rio que banha sua fazenda, a mata continua intacta. Isso evita a erosão e garante água ao gado. A despeito desses cuidados, naquele dia de dezembro o financiador negou crédito a Lima. A justificativa? A propriedade de Lima fica em Paragominas, sudeste do Pará, um dos 43 municípios enquadrados na época na relação dos campeões de desmatamento da Amazônia.
Criada pelo Ministério do Meio Ambiente, essa lista tem como função castigar quem derruba floresta. A punição é o embargo ao crédito. Na prática, é como se uma cidade inteira estivesse com o nome sujo na praça. Na próxima semana, uma boa notícia deverá aliviar os produtores da região. Paragominas será o primeiro município do Brasil a sair da lista suja. O desmatamento caiu 43% em 2008 e 86% no ano passado. Lima voltará a ter crédito no banco. A reação do município, que já foi o maior polo madeireiro do país (quase todo ilegal), é um exemplo de solução econômica para a Amazônia.
Paragominas já foi síntese de tudo o que existe de pior na região. Erguida em 1965, às margens da futura vizinha Belém-Brasília, a cidade atraiu colonos de vários cantos do Brasil. Era conhecida como Paragobala, uma referência a pistoleiros que resolviam as disputas de terras à bala. No auge da exploração madeireira, o município ganhou dinheiro. Mas a retirada de floresta sem planejamento deu o troco, num processo que os economistas chamam de “boom-colapso”, marcado pelo aumento dos recursos e pela queda repentina. As madeireiras quebraram, os empregos sumiram. A herança desse ciclo econômico insustentável foi cruel. Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da cidade era 0,69, menor que a média do Pará e do Brasil.
Além de anunciada, a tragédia era evitável. Paragominas, assim como outros municípios amazônicos, não precisava ter optado pela predação. Um estudo do Instituto Imazon, um dos maiores centros de conhecimento sobre a Amazônia, mostra como é contraproducente retirar floresta sem critério. Para cada árvore derrubada, outras 27 são danificadas. Metade das copas é removida. O volume de material que deixa de ser aproveitado na indústria madeireira chega a 85% do total retirado. A alternativa seria investir no manejo florestal, um sistema que permite usar a floresta sem destruí-la. A prática, adotada em madeireiras certificadas, retira árvores selecionadas num volume que a mata consegue repor. Segundo estudos que comparam o rendimento das duas práticas, o manejo gera mais renda, de forma sustentada. Em Paragominas, porém, a colonização foi marcada pela derrubada da mata para criar pasto. Em parceria com os pecuaristas, os madeireiros limpavam as áreas e deixavam o caminho livre para a pastagem.

Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI143945-16270,00-UMA+SOLUCAO+PARA+A+AMAZONIA.html

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