Querer saber tudo o que acontece em tempo real gera ansiedade, afeta a saúde e a qualidade de vida. Aprenda a ser mais seletivo para evitar o estresse e conviver melhor com as novas tecnologias.
Por Fabiana Fontainha
A designer Natalia Zapella, 27 anos, possui características de quem sofre com isso. Ela trabalha em casa e fica on-line 24 horas por dia, não desliga o computador nem na hora de dormir. "Tenho um sistema que avisa quando chegam e-mails. Vejo do que se trata e, se for importante, respondo na hora. Caso contrário, tento manter a concentração na outra coisa que estou fazendo", conta Natalia.
Ela relata que, ao acordar, ainda na cama e antes de tomar café da manhã, olha os e-mails que recebeu pelo telefone. "Vejo se tenho de levantar ou se posso dormir mais", diz. Para se distrair, na pausa entre um trabalho e outro, Natalia lê quatro ou cinco portais de notícias, além de se atualizar sobre o que os amigos postam nas redes sociais, especialmente no Facebook.
A jovem diz que recebe centenas de mensagens por dia. "Às vezes me sinto atrapalhada com tanta informação e tenho de parar para entender uma coisa de cada vez. Tento criar um processo para responder os e-mails porque se fico olhando penso em tudo o que tenho para fazer."
Provavelmente, você recebe em um mês mais informação do que o seu tataravô teve acesso durante toda a vida
Informar e compreenderAssim como Natalia, muitas pessoas podem estar vivendo o que se convencionou chamar ansiedade de informação. O termo é novo. Foi criado há cerca de 10 anos pelo designer e arquiteto norte-americano Richard Saul Wurman, autor do livro Ansiedade da informação: como transformar informação em compreensão (Ed. Cultura).
Aprenda a identificar as "doenças" da era digital CYBERCONDRÍACOS São aquelas pessoas reconhecidas como hipocondríacas que pesquisam o tempo todo sobre doenças na internet e começam a acreditar que estão doentes. DATAHOLICS São os fissurados por informação, que precisam checar o mesmo dado em diversas fontes para estarem seguros. Mas sentem-se ansiosos por não preencherem essa busca desenfreada por informação. BULIMIA INFORMACIONAL É a necessidade compulsiva de coletar informações em grande quantidade, sem critério, seleção ou preocupação com a qualidade e confiabilidade dos dados. OBESIDADE INFORMACIONAL Pode ser uma consequência da bulimia informacional e ocorre quando se tem excesso de informações desnecessárias e irrelevantes que, quando acumuladas, prejudicam o aprendizado que poderia ser útil. |
Os sintomas mais comuns
são frustração por não conseguir manter-se atualizado, saber pouco ou
com atraso; necessidade de checar a mesma coisa em diversas fontes
Usar ou ser usadoApesar de ainda não ser classificada como uma patologia, especialistas são unânimes em dizer que essa ansiedade afeta a saúde e a qualidade de vida das pessoas, principalmente devido ao ritmo acelerado e à abundância de dados proporcionados pelas novas tecnologias. "Nossa capacidade de seleção tem de fazer parte do nosso aprendizado. Temos de perguntar: eu uso a tecnologia ou é ela que está me usando? Se ela não trouxer conforto então fizemos alguma coisa errada, não ao inventá-la, mas em como lidamos com ela", analisa o médico Roberto Cardoso, coordenador de medicina comportamental do Femme Laboratório da Mulher (SP).
Quem sofre com isso
Ainda não existem estatísticas sobre o tema, mas os especialistas avaliam que a ansiedade de informação acontece com mais frequência em adolescentes e jovens adultos, principalmente os homens. "Aqueles que precisam ficar conectados o tempo inteiro, que usam smartphones para checar e-mails do trabalho, estão mais vulneráveis, pois não conseguem se desligar", diz a psicóloga Juliana Bizeto, coordenadora do Ambulatório de Dependências Não Químicas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp-EPM).
Outras pessoas suscetíveis a isso são as mais solitárias e tímidas, que usam a internet como um "ambiente seguro" para se relacionar com os amigos virtuais. "Indivíduos mais retraídos, que não gostam de convívio social, estão mais propensos a esse tipo de ansiedade, principalmente nas faixas dos 30 e 40 anos de idade", comenta o neurocientista Renato Sabatini, presidente do Instituto Edumed para Educação, Medicina e Saúde (SP).
Os sintomas mais comuns são frustração por não manter-se atualizado, saber pouco ou com atraso; necessidade de checar a mesma coisa em diversas fontes; e estresse pela difi- culdade de lidar com tanta informação. Essa ansiedade prejudica o desempenho. "Você fica distraído, agitado, não para de balançar o corpo, tem lapsos de memória e pode até ter problemas de concentração", diz Cardoso. Para a psicóloga Juliana, trata-se de um comportamento de dependência. "É como se a pessoa precisasse daquilo para sobreviver".
Ela explica que três pontos mostram que algo está errado. "A primeira coisa é quando a pessoa só gosta de estar conectada. Não lê, não conversa com ninguém, só fica ligada, como se isso fosse a única fonte de prazer", diz. A segunda coisa é quando o indivíduo começa a ter perdas no trabalho e nas relações. "A pessoa deixa de sair de casa para entrar na internet, perde o horário, não dorme porque se conecta às duas horas da manhã, perde o tempo que tinha de estar trabalhando para ficar on-line", analisa. Já o terceiro ponto é querer parar com o comportamento, mas não conseguir. "Existem pessoas que acordam no meio da noite para ver se tem alguma atualização e não conseguem dormir", observa.
Tem jeito?
A mudança de estilo de vida é a melhor maneira de prevenir e tratar o problema, aprendendo a colocar limites e priorizar as informações. Mas se você percebeu que a ansiedade está afetando a sua vida, vale a pena procurar a ajuda de um profissional de saúde, como de um psicólogo, psicoterapeuta ou psiquiatra, que orientará sobre a intervenção mais adequada. Nos casos em que o nível de ansiedade está bastante elevado, o psiquiatra pode indicar o uso de medicamentos ansiolíticos ou até antidepressivos, sempre com acompanhamento médico.
5 DICAS PARA PREVENIR E CONTROLAR O PROBLEMA
1 Seja seletivo
Selecione somente as informações que são essenciais, úteis ou curiosas para a sua vida. "Quando você não seleciona fica com um problema, pois tem informação demais. Ao invés de lhe tranquilizar, ela te estressa. Outro passo é escolher as fontes de informação, utilizando um número menor, útil e confiável", diz Roberto Cardoso, coordenador de medicina comportamental do Femme Laboratório da Mulher (SP).
2 Faça pausas
Aprenda a fazer pausas com duração de 10 a 15 minutos entre uma atividade e outra, principalmente se seu trabalho requer criação e inovação. Você pode tomar um cafezinho, conversar com alguém ou descansar.
3 Relaxe a mente
Pratique atividades que ajudem a reduzir o seu nível de ansiedade, como meditação, exercícios físicos, cozinhar, passear com o cachorro e ler um livro. O importante é você se desligar dos agentes causadores de ansiedade para relaxar a mente por alguns minutos.
4 Limpe sua mesa
Crie o hábito de limpá-la regularmente. Se você é daqueles que junta vários papéis, principalmente anúncios e ofertas de produtos para, um dia, ler com calma, criando uma pilha em cima da mesa, pegue uma lata de lixo e jogue tudo fora, sem olhar.
5 Tenha amigos reais
Estabeleça várias fontes de relação. Para a psicóloga Juliana Bizeto, coordenadora do Ambulatório de Dependências Não Químicas da Unifesp, quem conversa com os amigos somente on-line, está mais propenso a desenvolver ansiedade. "Nossa vida é como se fosse um leque. Se fechamos esse leque e estabelecemos relações exclusivas temos um problema, então devemos mantê-lo aberto, tendo amigos, se relacionando, pois somos seres sociais, isto é, precisamos do contato físico, do olhar do outro."
Em http://revistavivasaude.uol.com.br/saude-nutricao/118/muita-informacao-para-a-sua-cabeca-querer-saber-tudo-277174-1.asp
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