Não há receita para a juventude eterna. Mas algumas medidas simples, aliadas a um acompanhamento médico eficiente e em sintonia com o perfil do paciente, podem garantir o bem-estar na melhor idade.
Por Cristina Almeida e Diego Benine
"É ter o menor número possível de limitações, preservar as funções do organismo (renal, cardíaca, pulmonar, entre outras) e manter a capacidade de executar tarefas, como coordenar as compras da casa, pagar as contas no banco ou tomar uma condução para deslocar-se pela cidade. "O idoso pode até ter doenças. Mas que sejam enfermidades que não o impeçam de realizar as atividades cotidianas", completa Roberto Miranda, vice-chefe da disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e diretor clínico do Instituto Longevità (SP).
O segredo está na prevenção
O geriatra adianta: "Não existe fórmula ou pílula mágica. Quem está buscando isso deve desistir. O envelhecimento saudável está relacionado à forma como tratamos o nosso corpo ao longo da vida e da maturidade. As pessoas devem ter essa consciência e planejar-se, de modo que, quando essa fase da vida chegar, elas possam lidar com os problemas decorrentes dela de maneira adequada". De acordo com Sonia Martins Fontes, médica geriatra da Clínica Sainte-Marie Hospice e Cuidados Paliativos (SP), a prática de exercícios físicos como forma de evitar o sedentarismo é essencial, assim como ter uma alimentação balanceada. "Não é bom ter uma dieta excessivamente rica em gorduras e açúcar. Se você fugir dos excessos ou, pelo menos, fazer com que eles sejam esporádicos, na verdade estará fazendo um bem para a sua saúde como um todo. Procure consumir álcool em pequenas quantidades e priorize a ingestão de vegetais, legumes, frutas, grãos integrais, carnes magras e peixes", afirma.
Envelhecimento saudável
está relacionado à forma como tratamos o nosso corpo ao longo da vida e
da maturidade. As pessoas devem ter essa consciência e planejar-se
Menos estresse!
A médica ressalta a necessidade de combater o estresse e a ansiedade, e estimular o cérebro com atividades que desenvolvam o raciocínio lógico, a memória e também a linguagem. Assim, cria-se uma reserva cognitiva que poderá ser usada no futuro e que ajuda na prevenção de quadros de demência. Acompanhamento médico é importante para identificar problemas de saúde crônicos que podem agravar-se na velhice. É o caso da hipertensão, que, por ser assintomática, acaba sendo descoberta em consultas de rotina. "O problema de pressão alta piora com o avanço da idade. Não tratada, haverá alto risco de derrame e infarto. Com a detecção precoce, esse risco é minimizado", alerta Miranda.
A saída do sedentarismo
Com o passar dos anos, é necessário adaptar as atividades físicas às restrições impostas pelas mudanças físicas. Sonia enfatiza que, nesta fase, as pessoas devem ser orientadas pelo médico e, quando possível, por um educador físico. Se o idoso não tiver acesso a nenhum tipo de orientação, 30 minutos de caminhada diária, cinco vezes por semana, é o suficiente para que ele deixe de ser considerado um sedentário.
Segundo a especialista, os exercícios são ainda mais benéficos quando feitos sob a luz do sol. "A deficiência de vitamina D é um fenômeno mundial, pois ninguém tem o hábito de tomar sol. Um pouco de exposição solar, com os devidos cuidados, garante alguma produção dessa substância tão importante para o equilíbrio da saúde".
Dieta sob controle
Para não agravar quadros clínicos e evitar desnutrição, a dieta também precisa de supervisão médica. No caso de o paciente não possuir nenhum problema de saúde específico, recomenda-se uma redução no consumo de sal e um aumento no de líquidos, frutas, assim como no de vegetais. Manter uma rede de relacionamentos interpessoais é outra medida que contribui para o bem-estar na terceira idade. "Quanto melhor a rede de suporte social do sujeito, ele envelhece melhor. Amigos, família, comunidade em que está inserido, poder público... Se ele tiver qualquer necessidade, poderá contar com essas pessoas", destaca Miranda.
Como gostaria que fossem os cuidados para com você no futuro? Hospitais de ponta, medicamentos de última geração estão entre as coisas que você gostaria de ter acesso? Num tempo no qual os avanços tecnológico e científico prometem prolongar a vida de modo eficaz, há quem entenda que o cuidado de pacientes idosos deve ser suave e lento. Essa é a opinião do geriatra americano Dennis MacCullough, consultor do Darmouth Centers for Health and Aging, de New Hampshire (EUA) e mentor de uma filosofia batizada de Slow Medicine [Medicina lenta]. Saiba mais sobre suas ideias na entrevista exclusiva concedida à VivaSaúde. |
Remédios, quais remédios?
Passar por consultas médicas regularmente é imprescindível. Um idoso saudável deve fazer uma consulta por ano, no mínimo. O ideal é que, na ocasião, ele apresente seu histórico de saúde e antecedentes familiares. Além disso, deve levar os últimos exames e a relação completa de medicamentos que usa. Esta última recomendação deve ser seguida à risca para que não haja interação medicamentosa. "Remédios para dormir ou para o intestino são tomados há tanto tempo que não são relatados na consulta", lembra Wilson Jacob Filho, diretor do Serviço de Geriatria do Hospital das Clínicas da FMUSP. "O médico até pergunta, mas o paciente não sabe as dosagens com exatidão. Aí ele sai da consulta com uma nova receita que pode não combinar com os remédios que está tomando", acrescenta a médica Sonia.
A pressão alta piora com o
avanço da idade. Se não foi tratada, haverá alto risco de derrame e
infarto. Com a detecção precoce, esse risco é minimizado
Novo ponto de vista
Dependendo da idade e da saúde do idoso, terapias invasivas podem ser mais danosas do que as doenças ou complicações. Isso porque os efeitos dos remédios podem ser modificados por conta das alterações metabólicas próprias da velhice.
Há ainda os efeitos colaterais e os riscos decorrentes de cirurgias. Essa é a razão pela qual alguns geriatras adotam posturas mais suaves, como a Slow Medicine, uma abordagem que ajuda a entender que envelhecer é uma fase da vida que não precisa ser amarga.
Um ritmo que se dança vagarosamente Dennis MacCullough é autor do livro My Mother, Your Mother: embrancing Slow Medicine, the compassionate Approach to Caring for your aging loved ones [Minha mãe, sua mãe, adotando a medicina lenta, um jeito compassivo de cuidar de seus parentes idosos, Ed. Harper Perennia, sem trad.]. Na opinião do médico, geralmente, pacientes idosos são expostos a muitas terapias medicamentosas que, a longo prazo, podem não ser benéficas. A saída, então, é decidir antes, e com a família, como se deseja ser cuidado nessa fase da vida. |
Dennis MacCullough - Médicos e familiares teriam uma melhor compreensão do que é ser idoso. Todos se tornam diferentes (e especiais) ao envelhecer. E cada pessoa merece ser entendida em sua individualidade nesse particular momento da vida. Além disso, as doenças são diferentes em cada idoso e os protocolos para os tratamentos devem adequar-se a essa realidade. Idosos e seus familiares, juntos, tornam-se, então, capazes de manter o "controle" de suas vidas.
Como funciona na prática?
MacCullough - Primeiro, ouve-se mais o paciente para que ele possa ser compreendido. Abre-se então um diálogo que permite ter perspectiva e entendimento de onde ele se situa e quais serão as consequências para ele e para a sua família das decisões que forem tomadas. Essa é a razão por que, em segundo lugar, é preciso dar tempo ao paciente para que ele possa decidir melhor. Em terceiro lugar, vem a família e os amigos que ajudam na aceitação do processo. Com o avanço da idade, as melhores decisões serão tomadas por meio de longas conversas, entre aqueles que mais se confia.
O que esperar depois?
MacCullough - A qualidade de vida dos pacientes e seus familiares melhorará se as decisões forem tomadas vagarosamente e fora dos consultórios e dos hospitais, onde tudo acontece rapidamente. Ansiedade e pressa faz que todos, incluídos os médicos, pensem menos clara e profundamente. E mesmo simples decisões sobre medicamentos e exames podem ser perigosos. O valor de muitos deles diminui de acordo com a idade e ainda acarretam mais efeitos colaterais.
E se os pacientes estiverem gravemente doentes?
MacCullough - Nesse caso, é preciso tratá-los moderadamente. Excesso de tratamento indicado muito rapidamente pode debilitar corpo e mente. Terapias intensivas são bem toleradas por pacientes mais jovens, mas muitas vezes levam à piora do quadro em idosos.
Quando é a hora de falar sobre o assunto?
MacCullough - Idosos e seus familiares devem entender que envelhecer requer mais interdependência e confiança recíprocas. Devemos dançar essa música cuidadosamente para ter equilíbrio. O melhor é começar por volta dos 60, 70 anos, seja por iniciativa do idoso, seja por seus familiares.
Mas como falar de um tema tão delicado?
MacCullough - Quanto mais cedo iniciar as conversações, melhor. Mudanças precisam de tempo para serem implementadas. Não comece com o tema "fim da vida." Comece com diálogos que permitam uma maior aproximação, mesmo após anos julgando saber o que seus pais pensam. Uma família unida sempre ajuda os médicos a darem conselhos melhores. Mas uma família que tem dificuldades para se comunicar, fatalmente enfrentará mais problemas durante esse processo.
Fonte: http://revistavivasaude.uol.com.br/saude-nutricao/115/artigo272621-1.asp
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