Dieta das emoções.
O que comemos pode influenciar no comportamento e no humor. Saiba o que colocar no prato em variadas situações do seu dia a dia.

Por Ivonete Lucirio / Fotos: Danilo Tanaka / Produção: Janaina Resende




A gente não quer só comida. Pois é, o que ingerimos é mais que isso mesmo. Claro, praticamente tudo o que entra pela nossa boca transforma-se em calorias que geram energia, gasta ou estocada ao bel-prazer do metabolismo. Mas muitos alimentos fazem mais do que simplesmente alimentar. Eles interferem, com maior ou menor intensidade, no metabolismo cerebral, alterando sua função e, consequentemente, deixando você mais calmo, mais agitado, feliz ou disposto. Entre os primeiros pesquisadores a fazer esse tipo de relação estão Richard e Judith Wurtman, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT - EUA), no final da década passada. Eles descobriram que o açúcar e o amido dos carboidratos aumentam a produção de uma substância chamada serotonina, que age no cérebro causando a sensação de bem-estar e relaxamento. Ou seja, comer pães, cereais, frutas e vegetais com amido como batata e milho ajuda a sentir-se mais relaxado, calmo. Já alimentos ricos em proteínas como queijo cottage, iogurte e soja têm o efeito contrário: nos deixam mais alertas e energizados.

Os alimentos – ainda mais se forem combinados – podem ajudar a intensificar uma característica importante nos dias em que você mais precisa dela

É claro que não dá para ser muito simplista. Não é porque você toma um copo de iogurte de manhã que vai passar o dia todo sem se sentir cansado. Mas os alimentos – ainda mais se forem combinados – podem ajudar a intensificar uma característica importante naquele dia. Ou, pelo menos, não atrapalhar o seu desempenho. As pesquisas nessa área ainda são preliminares, e há muito a ser descoberto. O fato é que nem todos os alimentos que – empiricamente – se sabe ter efeito sobre o cérebro já passaram pelo crivo da comprovação científica. Porém, muitos deles já estão consagrados pelo uso. Vale aqui a regra: se determinado prato pode ajudá-lo em certa situação, por que não tentar? É claro, não precisa comer buchada de bode se você odeia. Aliás, buchada não parece fazer bem algum à química cerebral. Mas vale a pena tentar frutas secas, castanhas, chá e até uma pecaminosa barra de chocolate. Veja o que comer quando...

COMIDAS QUE DÃO CONFORTO Quando as coisas vão mal, as pessoas procuram os alimentos que as fazem sentir-se melhor. Uma pesquisa realizada por Brian Wansik, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, baseada no censo americano, mapeou o que as pessoas preferem em cada situação: Quando estão FELIZES, 32% tendem a escolher PIZZA ou CARNE Quando estão INFELIZES, 39% vão em busca de SORVETE e BISCOITO Quando estão ENTEDIADAS, 36% abrem um pacote de BATATAS FRITAS

ESTÁ ABSOLUTAMENTE ESTRESSADO E PRECISA RELAXAR

Comece por pães, frutas e vegetais com amido, como batata e milho. Esses alimentos aumentam a produção de serotonina, que ajuda a acalmar. Depois, saque aquele chocolatinho escondido no fundo da despensa para momentos especiais. O chocolate, principalmente o amargo, ajuda a reduzir a produção dos hormônios do estresse. Um estudo, realizado em 2011 e publicado no Journal of Proteome Research, afirma que comer somente 40 g de chocolate tem o poder de reduzir o cortisol e as catecolaminas no organismo – substâncias que inundam o corpo em situações de estresse. Coma os tais 40 g ou uma barra pequena para sentir seus efeitos.

TEM UMA REUNIÃO IMPORTANTE À TARDE

Tudo o que você não quer é ficar relaxado e calmo demais, correndo o risco de cair no sono, certo? Então, opte por alimentos ricos em proteínas de fácil digestão como duas colheres (sopa) de queijo cottage, um pote de iogurte ou 100 g de soja um pouquinho antes. Bebidas que dão energia também podem ajudar. Coloque no copo ou na xícara uma dose de café, guaraná ou chá-verde. Os dois primeiros contêm cafeína, que ajuda a manter o sistema nervoso alerta. O chá-verde acelera o metabolismo e o extrato da folha contém antioxidantes como as catequinas e os polifenóis, que potencializam o efeito da cafeína. Uma dose de um deles já promove o efeito desejado.

É PRECISO TOMAR UMA DECISÃO

Neste caso, você deve ficar alerta. Então, o melhor é optar por alimentos que estimulem a função cerebral. “A castanha-do-brasil, rica em selênio e zinco, carnes e semente de girassol e gergelim, que também contêm zinco, cumprem essa função”, diz a nutricionista Inty Davidson (SP). Duas castanhas bastam, assim como 30 g de semente de girassol ou gergelim acrescentada na salada. Se optar pela carne, um bife de 100 g é suficiente ou vai recarregar seu sistema digestório. Em casos em que estamos pressionados a tomar uma decisão, é comum que a digestão dos alimentos fique comprometida. “Por isso, não custa nada facilitar o trabalho da vesícula biliar. Alimentos ricos em gordura devem ser evitados, dando lugar aos de fácil digestão, como sopas de vegetais”, diz a nutricionista funcional e fitoterapeuta Vanderli Marchiori, da Associação Paulista de Nutrição (Apan).

VAI FAZER UMA APRESENTAÇÃO EM PÚBLICO

Em primeiro lugar é preciso combater a timidez. “O açúcar simples, a sacarose, leva à liberação de endorfinas no organismo”, explica a nutricionista Cristiane Ruiz Durante, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. A substância aumenta a sensação de bem-estar e de segurança. “Isso explica a preferência por doces nos períodos de estresse”, completa. Então, antes da apresentação, coma um docinho: um quindim, um brigadeiro. Mas não vá exagerar e terminar com uma dor de barriga. Tratada a timidez, é hora de melhorar a voz. “Para isso, tome uma xícara de chá de casca de maçã com canela, que garante cordas vocais mais lubrificadas.

 TEM UMA PROVA IMPORTANTE “A ingestão de carboidratos abre caminho para a entrada de maior quantidade de triptofano no cérebro. Lá, essa substância é transformada em serotonina, neurotransmissor com substâncias químicas calmantes”, diz Cristiane. Então, coma um bom prato de macarrão antes. Ou, se for pela manhã, um pãozinho com manteiga tem o mesmo efeito. “E se a prova for longa, leve uvas-passas para garantir a energia durante sua execução”, fala Vanderli. A fruta seca é mais fácil de consumir e fornece energia extra, porque seus açúcares estão mais concentrados. Duas colheres (sopa) são suficientes.

ESTÁ MUITO MAL-HUMORADO

Mau humor constante pode ser sinal de pouco ômega-3 no prato. “O representante oficial dessa gordura é o salmão”, diz Cristiane. Mas há também outros peixes, como atum, arenque e sardinha, que melhoram o ânimo porque aumentam os níveis de serotonina, dopamina e noradrenalina, responsáveis pela sensação de bem-estar e, consequentemente, amigas do humor. Coma ao menos um filé. “O gérmen de trigo é especialmente indicado como calmante, já que melhora a qualidade de impulsos nervosos, evitando a irritabilidade”, diz Cristiane. Acrescente quatro ou cinco colheres a um bolo ou farofa. Quatro damascos secos também podem ajudar, porque são ricos em triptofano, um aminoácido que traz energia e melhora o humor.

ESTÁ TRISTE SEM SABER POR QUÊ

Ok, o ex passou por você e falou apenas “bom-dia”, e seu cartão de crédito está estourado, nem dá para fazer uma comprinha. Realmente há motivos para ficar triste. Mas se nada disso aconteceu e você chora ao ver cachorrinho atravessando a rua, pode ser carência de vitamina D. Esse nutriente tem uma série de papéis no organismo, um deles é trabalhar na produção de serotonina, o neurotransmissor que faz você se sentir bem. Essa vitamina é sintetizada quando tomamos sol, mas está presente principalmente em peixes como sardinha e atum.

SENTE-SE FRACO E SEM ENERGIA

Um pote de açaí fornece vigor ao corpo com rapidez, porque tem alto teor de gorduras insaturadas, além de carboidratos e açúcar. A banana também é ótima por vários motivos. Primeiro, contém três açúcares naturais – glicose, frutose e amido –, todos fornecedores de energia. A fruta com cara de Brasil melhora ainda o estado geral de ânimo, segundo uma pesquisa publicada pelo jornal Mind, da Universidade de Oxford (EUA). Isso porque é rica em triptofano, uma proteína convertida em serotonina pelo organismo. Finalmente, a fruta tem grande quantidade de ferro, que estimula a produção de hemoglobina, auxiliando.

Fonte: http://revistavivasaude.uol.com.br/saude-nutricao/114/artigo270961-1.asp