2013, o ano dos concursos públicos!
Devem entrar em disputa
120.000 vagas nas esferas federal, estadual e municipal. Candidatos
devem se preparar: a concorrência é grande.
Nathalia Goulart
Para os 'concurseiros', 2013 promete ser cheio de oportunidades
(Renato Araújo/ABr
)
Estima-se que existam atualmente cerca de 12 milhões de brasileiros
interessados em ingressar em carreiras públicas. O número recorde é o
dobro do registrado há cinco anos, segundo estudo da Agência Nacional de
Proteção e Apoio ao Concurso Público (Anpac). Para quem sonha com um
colocação no setor, 2013 se apresenta como um ano pródigo em
oportunidades. Mais de 120.000 vagas devem ser preenchidas neste ano nas
esferas federal, estadual e municipal em todo o Brasil. Somente no
Executivo federal, a expectativa é de 37.000 vagas, um incremento de
115% em relação a 2012, segundo dados do Ministério do Planejamento.
Somem-se a isso postos no Legislativo e Judiciário e mais outros em
estados e municípios e constrói-se a perspectiva de um ano de
oportunidades de trabalho. Mas é preciso estar preparado, pois a
concorrência é grande.
"Em 2010 e 2011, houve uma diminuição no ritmo de contratações, como
fica claro no caso da União. Em 2012, houve a retomada dos grandes
concursos, que oferecem milhares de vagas, e a expectativa para 2013 é a
melhor possível", diz Ricardo Ferreira, especialista na área de
concursos e autor de vários livros sobre o assunto. Outra boa notícia é a
percepção dos especialistas de que o bom momento para os "concurseiros"
não para por aqui. Os próximos anos também devem oferecer muitas
oportunidades. As projeções apontam que há 2 milhões de vagas a serem
preenchidas. "É uma demanda que não será atendida em apenas um ano. O
que significa que este ano deve ser o primeiro de uma série cheia de
processos seletivos", afirma Ernani Pimentel, especialista que se dedica
há cinco décadas a concursos e ex-presidente da Anpac.
Esse cenário favorável é explicado em parte pelo fluxo de
aposentadorias na área pública, que se intensificou nos últimos anos. Na
esfera federal, por exemplo, mais de 10.000 servidores se aposentaram
em 2010, o dobro do registrado cinco anos antes, segundo dados do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Há também indicadores
do envelhecimento do pessoal. Entre 2000 e 2012, a parcela de
funcionários com idade entre 51 e 60 anos cresceu 75%, ao mesmo tempo em
que a taxa daqueles com mais de 60 anos aumentou 157%. Hoje, quatro em
cada dez servidores tem mais de 50 anos. "Isso faz com que concursos que
não eram realizados há muitos anos sejam retomados", diz Alexandre
Gialluca, coordenador do curso preparatório LFG. Exemplo disso é o
processo seletivo para o cargo de delegado da Polícia Federal, que não é
realizado há oito anos e que deve ocorrer no primeiro semestre de 2013.
A análise da pirâmide etária dos servidores revela outro dado
importante. Os novos servidores estão mais jovens. Ainda na esfera
federal, o número de funcionários com menos de 30 anos de idade acresceu
113% nos últimos 12 anos. "Existe uma percepção muito clara de que os
jovens estão mais interessados em trabalhar em algum posto
governamental", diz Bruna Tokunaga, gerente de orientação de carreira da
Cia. de Talentos, consultoria especializada em recrutamento. "No último
ano, segundo nossas pesquisas, o porcentual de interessados em
concursos públicos dobrou entre os profissionais em início de carreira."
Pesa a favor da carreira pública, sem dúvida, o salário. Dados do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que o
setor paga, em média, 93% mais do que a iniciativa privada. Em cargos
que exigem nível superior, o salário inicial de um jovem recém-formado
pode superar os 10.000 reais. "Nenhuma empresa paga tanto a uma pessoa
com pouca ou nenhuma experiência profissional", diz Ricardo Ferreira.
Mas não é só o contracheque que leva essa turma a empenhar meses ou até
anos de estudos em preparação para as provas de concursos públicos em
busca da tão sonhada vaga. "Existe nessa geração a redescoberta do bem
público. Até alguns anos atrás, trabalhar para o governo era quase
nocivo, coisa para burocratas sem aspirações profissionais. Foi preciso
subverter essa lógica para atrair a mão de obra qualificada", diz Marco
Antônio Carvalho Teixeira, vice-coordenador do curso de administração
pública da Fundação Getúlio Vargas (FGV).
De fato, até meados da década de 1990, era quase impossível para um
servidor progredir na carreira, e os salários eram em média 30% menores
do que os pagos pela iniciativa privada. Isso começou a mudar na
administração Fernando Henrique Cardoso, que deu início a uma reforma na
administração do estado – com ganhos para o próprio estado e para o
cidadão. O primeiro passo foi a valorização salarial. Hoje, um delegado
da Polícia Federal em início de carreira ganha 76% mais que há 12 anos.
Já o incremento no rendimento de um técnico do Banco Central foi de nada
menos do que 317%.
Concursos mais cobiçados em 2013
Para Teixeira, da FGV, trata-se de uma quadro bastante animador. "Tudo
passa pelo bom funcionamento do estado. Quanto mais profissionais de
alto quilate zelando pelo bem comum tivermos, mais eficiente será o
nosso estado." As reformas impostas até agora no setor público não
eliminaram, é claro, desperdícios e mau uso da máquina. Mas é inegável
que, nas funções em que o estado é indispensável, é vital que haja um
servidor competente de plantão.O segundo passo, não menos importante,
foi no sentido de estruturar as carreiras. Extinguiram-se as
gratificações por tempo de serviço e instituíram-se aumentos salariais
de acordo com o desempenho individual em mais de quarenta carreiras.
Para atrair gente qualificada, incrementos salariais robustos se
tornaram acessíveis a profissionais com mestrado e doutorado. A paulista
Vanessa Vieira, 29 anos, retrata os novos tempos do funcionalismo
público. Formada pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
(USP), uma das mais conceituadas do país, ela foi aprovada pela primeira
vez em concurso público durante a graduação. Há três anos, atua como
defensora pública do estado de São Paulo, carreira com rendimento mensal
bruto superior a 20.000 reais. Mas ela não se acomoda e já se prepara
para uma pós-graduação.
Quem quiser conquistar as joias da coroa, as melhores posições da
administração pública, precisa estar muito bem preparado. Em média, os
candidatos dedicam um ano inteiro aos estudos antes das provas de
seleção. Em alguns casos, é preciso mais. Formado geógrafo pela
Universidade Federal Fluminense, Leonardo Carlos Barreto, de 24 anos,
entra em seu terceiro ano de preparação para o Instituto Rio Branco,
onde busca uma vaga de diplomata. "Passei dois anos estudando até 12
horas por dia, mas ainda não consegui meu objetivo", conta. No ano
passado, o Instituto realizou seleção de 30 diplomatas. Inscreveram-se
6.423 interessados, uma concorrência de 214 candidatos por vaga. Também
em 2012, a Petrobras anunciou o preenchimento de 1.521 postos de
trabalho, para os quais se inscreveram 330.568 pessoas. São 217
candidatos para cada posto. "Não existe aprovação sem perseverança
quando se trata de concurso público", resume o especialista Ernani
Pimentel. "A prova é o funil do qual o governo dispõe para selecionar
apenas os melhores para seus quadros." Melhor assim.
* Com reportagem de Lecticia Maggi e Renata Honorato
Em: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/2013-o-ano-dos-concursos-publicos
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