Brasil precisa triplicar investimentos para melhorar logística.
Infraestrutura
País tem pior situação entre concorrentes emergentes: Rússia, Índia e China. Mais de 60% da produção é escoada via transporte rodoviário.
Renato Jakitas
Infraestrutura deficiente: buracos tomam conta de rodovias como esta, no Maranhão (Cristiano Mariz)
A possibilidade de o movimento ganhar dimensão nacional cresceu nos últimos dias. Levantamento do site de VEJA mostra que caminhoneiros de pelo menos cinco estados - e não apenas motoristas de caminhões-tanque - estão dispostos a paralisar suas atividades. Se isso acontecer, o cenário que se desenhará inevitavelmente será de caos: o escoamento da produção nacional é calcado sobretudo no transporte rodoviário.
O gargalo não é de hoje. Para equacioná-lo, apontam especialistas, seria preciso triplicar os investimentos atuais. Mesmo assim, só em quinze ou vinte anos o país alcançaria os patamares de competitividade de seus concorrentes emergentes diretos, notadamente China, Rússia e Índia.
Não à toa, a infraestrutura brasileira é uma das protagonistas do que o mercado convencionou chamar de "risco Brasil" – termo que enumera o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem os investimentos no país.
Na comparação direta com mercados como Rússia, China e Índia, o Brasil tem a pior malha – seja em extensão, seja em qualidade – em quatro dos principais canais logísticos estabelecidos: rodoviário, ferroviário, hidroviário e de dutos (veja tabela).
"Perdemos de todas as formas possíveis", diz João Guilherme de Araújo, diretor de desenvolvimento de negócios do Instituto Ilos de Logística e Supply Chain. "Somos absolutamente dependentes do transporte rodoviário e, mesmo assim, nossa infraestrutura rodoviária é inferior. Para lançar um padrão de alto nível no transporte rodoviário, seria preciso algo como 8,6 trilhões de reais.”
Segundo o consultor, o Brasil investe ao ano 0,6% do PIB em infraestrutura logística. A proporção é a maior desde o final da década de 1970 e início dos anos 80, quando se verificou gastos na ordem de 1,86% do PIB. Para recuperar o tempo perdido, contudo, o especialista alerta para a necessidade de, pelo menos, retomar a antiga disposição. "Pelo menos três vezes mais do que hoje em dia”, diz.
Ferrovias - De tudo o que é transportado no Brasil, 62% segue dentro de caminhões. O segundo canal de distribuição é o ferroviário, com 30% de participação. O trem, aliás, é apontado como a alternativa mais adequada tanto na relação custo e benefício, quanto à geografia e ao produto transportado. “É mais barato e mais adequado ao transporte de grãos. O problema é que nosso sistema ferroviário é ultrapassado e mal conservado”, destaca Araújo.
Dados da Associação Brasileira da Indústria Ferroviária (Abifer) mostram que nos últimos nove anos o investimento em ampliação e modernização das ferrovias, além da construção de novas instalações fabris e em tecnologia, somou R$ 1,1 bilhão. Essa parcela do mercado prevê a aplicação de mais R$ 250 milhões até o final de 2013.
“O governo tem priorizado a malha ferroviária. Estão previstos mais de mil quilômetros de lançamento para os próximos anos. Mesmo assim, a configuração do que está em operação é muito aquém do satisfatório. As estradas têm troncos abandonados, linhas sem manutenção, desvios inúteis”, destaca um graduado analista de um banco internacional, que não quis se identificar.
O problema é que o governo não tem e nem terá tão cedo condições de ampliar exponencialmente os investimentos públicos em infraestrutura logística. Com orçamento engessado e ênfase nos gastos com pessoal e custeio, não há margem para uma alta expressiva na taxa de investimentos. Sinal de que nem tão cedo sairemos do fim da fila.
Veja a situação do Brasil e de seus concorrentes:
Logística brasileira perde de longe para concorrentes
Na comparação com Rússia, China e Índia, Brasil tem a pior malha – seja em extensão, seja em qualidade – em quatro canais logísticos: rodoviário, ferroviário, hidroviário e de dutos.
Extensão (km quadrados) | Rodovias (km) | Ferrovias (km) | Hidrovias (km) | Dutos (km) | |||||
Rússia | 17 milhões | 1 milhão | 87 mil | 100 mil | 247 mil | ||||
China | 9,3 milhões | 1,6 milhão | 77 mil | 110 mil | 58 mil | ||||
Brasil | 8,5 milhões | 212 mil | 29 mil | 14 mil | 19 mil | ||||
Índia | 3 milhões | 1,5 milhão | 63 mil | 15 mil | 23 mil |
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