Número de médicos não segue crescimento de infraestrutura de saúde.
Dados do Ministério da Saúde mostram que, nos últimos cinco
anos, total de equipamentos teve alta de 72,3%, leitos subiram 17,3% e
unidades de atendimento, 44,5%, enquanto a oferta de profissionais
cresceu apenas 13,4%; entidades de classe discordam.
13 de julho de 2013 | 16h 18
Bruno Deiro e Rodrigo Burgarelli - O Estado de S.Paulo Online
Nos últimos cinco anos, a infraestrutura de saúde no
Brasil cresceu em ritmo mais acelerado do que o número de médicos que
atendem a população. No período, o total de equipamentos de saúde
registrados pelo governo federal teve alta de 72,3%. O número de leitos
hospitalares subiu 17,3% e o de estabelecimentos de saúde, 44,5% no
Brasil. A oferta de médicos, porém, cresceu apenas 13,4% - ou seja,
menos do que os principais índices de infraestrutura de saúde.
Os dados dizem respeito às redes pública e privada e foram compilados
pela reportagem com base no sistema DataSUS, banco de dados oficial do
Ministério da Saúde que contém as informações de todos os
estabelecimentos registrados no órgão, como hospitais, consultórios,
clínicas e postos de saúde. Entre os equipamentos relacionados no
levantamento, constam qualquer tipo de aparelho de saúde existente nos
locais, como raio X e endoscópio.
Para o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, os números mostram que a
falta de médicos é hoje o principal gargalo para que várias novas
unidades de saúde comecem a funcionar. "No começo do ano, fizemos uma
chamada nacional para médicos brasileiros irem para a periferia das
grandes cidades e para o interior. Havia 13 mil vagas em unidades de
saúde já estruturadas, mas faltavam médicos para abrir. E foram obtidos
apenas 4 mil profissionais", afirmou Padilha ao Estado.
Os números do DataSUS mostram que, de fato, os equipamentos de saúde
continuam concentrados nos Estados mais ricos - São Paulo, por exemplo,
tem três vezes mais equipamentos por habitante do que o Maranhão.
Entretanto, os locais onde houve o maior crescimento nos equipamentos de
saúde registrados pelo DataSUS foram os Estados do Norte - Roraima,
Rondônia, Acre e Pará mais do que dobraram a quantidade de aparelhos
desde 2008.
Como esses são os locais em que hoje há um menor número de médicos, é
na Região Norte que há mais equipamentos por profissional. Isso,
entretanto, não significa que não falte infraestrutura nesses locais. Já
em cidades como São Gonçalo do Rio Baixo, a 84 km de Belo Horizonte
(MG), apesar do programa de médico de família, moradores precisam viajar
para ir a um hospital.
Críticas. As entidades médicas, no entanto, defendem
que não há falta de profissionais. O principal problema, segundo os
representantes de classe, é a falta de uma carreira estruturada para os
médicos na rede pública, além da necessidade de melhoria nas condições
de trabalho nos locais mais remotos.
Cid Célio Jayme Carvalhaes, presidente do Sindicato dos Médicos de
São Paulo (Simesp), afirmou que o aumento numérico verificado não
significa uma infraestrutura mais desenvolvida nessas regiões. "Um dos
principais problemas, que vale tanto para número de médicos quanto para a
estrutura, é a distribuição desigual", disse. "Os hospitais entre a
região da Avenida Paulista até o Jabaquara têm mais tomógrafos do que a
França inteira. Enquanto isso, em alguns bairros na zona leste da cidade
não há nenhum."
O dirigente, um dos líderes do protesto realizado por associações
médicas que reuniu cerca de 5 mil em São Paulo no dia 3, manteve a
posição da entidade de que o problema não é a carência de médicos.
"Quase um terço dos médicos do País está em São Paulo, e isso não
garante a qualidade de atendimento no Estado", afirmou Carvalhaes.
Para o dirigente, a grande diferença entre o crescimento no número de
equipamentos disponíveis e o de novos profissionais não sugere que haja
um excedente de estrutura parada. "O aumento impressionante no número
de equipamentos revela apenas uma maior exploração comercial em lugares
onde já há atendimento."
Cidade no Pará tem apenas 1 médico para 29 mil pessoas
Gurupá,
no Pará, é a cidade brasileira que registra o menor número de médicos
por habitantes do País, segundo o DataSUS. Apenas um médico atende no
município, que tem cerca de 29 mil habitantes. Uma cidade no interior de
São Paulo revela o tamanho da disparidade regional - Águas de São Pedro
tem uma população dez vezes menor do que Gurupá, mas 15 médicos para
atendê-la. O município com mais médicos por habitante é Niterói, na
Região Metropolitana do Rio. Lá, há um profissional para cada 176
moradores. A média brasileira é de um médico para cada 658 habitantes. /
R.B.
Breves comentários:
Rapaz...veja que coisa...todos sabemos que a estrutura do SUS é precaríssima, números são coisas estáticas e a realidade é mais cruel do que isto nos mostra. Para comprovarmos isto é só irmos a vários postos de saúde nas periferias das grandes cidades, e olha que nem estou falando das inúmeras cidades do interior deste país.
Sabemos que o povo sofre para marcar consultas, para fazer exames é uma eternidade, cirurgias então...ufa..loucura, faltam médicos qualificados, que estejam bem dispostos a realmente trabalharem, e para tanto têm que ter boas remunerações, mas também serem mais presos aos respectivos bairros, municípios, estados, pois os médicos também gostam de mordomias das grandes cidades.
Lógico que o tema é polêmico, afinal o contaponto de que estamos carecas de saber que há muitos profissionais que atendem seus pacientes como números para alcançarem a meta daquele posto, sem o mínimo necessário, ou seja, o tal do atendimento humanizado, médicos que sempre querem ganhar salários exorbitantes sem muito desgaste, ou seja, o amor à profissão está cada vez mais ficando mercantilizado. Agora, bem verdade é que não podemos generalizar, pois muitos profissionais gostam do que fazem e procuram fazê-lo da melhor forma possível, e por muitas vezes, mesmo em grandes centros, esbarram em falta de tudo - infraestrutura, medicamentos, exames básicos, aparelhagem básica, materiais insumos básicos, etc, e isto somado ao excesso de pessoas (por uma falta de política de saúde e quantitativo de hospitais) a serem atendidas, e à falta de muitos médicos (especialistas pelo menos), surge então o caos atual.
A ideia de aplicar o revalida já nos últimos anos acadêmicos é muito boa, pois outro batente é o número cada vez mais elevado de faculdades de medicina, onde, sem o devido controle, formam, por vezes, profissionais não tão qualificados e preparados como se deviam, aumentando vertiginosamente os casos de erros e problemas médicos de todas as esferas, que podem gerar pequenos contratempos ou óbitos. Na mesma toada a ideia de aumentar o tempo especialmente das residências é primordial, pois a prática acompanhada é importante (desde que realmente acompanhada e não substituída), especialmente em hospitais públicos e na própria localidade do formando.
Qualificar melhor os profissionais em geral (médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem, odontólogos, etc) é fundamental, assim como melhorar o quantitativo per capta, a distribuição equitativa, as especializações, planos de carreira bem estruturados, jornadas compatíveis, incentivos à pesquisa, melhorar e ampliar as infraestruturas, distibuindo-as equitativa e proporcionalmente, controle e fiscalizações sérios dos Ógãos competentes do Governo, entre outros, são pontos a serem buscados para que saiamos deste abismo propiciado também pela pressão dos grandes empresários da área particular, pois igual aos da educação, vivemos um momento diverso de antigamente, ou seja, já nascemos com a ideia premissa de que o serviço particular é o melhor e está tudo bem.