Seja bem-vindo para conhecer e aprender. Hoje é

quarta-feira, 11 de abril de 2012

Energia
Stephen Thompson

O combustível do futuro é a eficiência.

Daniel Yergin é autor de um livro de leitura obrigatória para quem quer entender o mundo moderno. Lançado em 1991, O Prêmio: a Busca Épica por Petróleo, Dinheiro e Poder já foi traduzido para dezessete idiomas e rendeu a Yergin o Pulitzer, o prêmio de maior prestígio da literatura americana. À frente de uma empresa de pesquisas com sede em Washington, a Cera, ele é hoje o mais influente consultor na área de energia do mundo.

-  A  A  +
Gabriela Carelli

Dois meses atrás, Yergin voltou ao tema com o lançamento de The Quest: Energy, Security and the Remaking of the Modern World (A Busca: Energia, Segurança e a Reconstrução do Mundo Moderno, ainda sem tradução para o português). O livro, que na primeira semana chegou à quarta posição na lista dos mais vendidos do The New York Times, é um colosso de 800 páginas atualizado até o momento de ser impresso. Dessa forma, Yergin teve tempo para avaliar o impacto de eventos recentíssimos - como o terremoto de Fukushima e a primavera árabe - em um planeta faminto de energia. A seguir, um resumo das ideias expressas no livro

A FOME DOS NOVOS RICOS A renda per capita de 2 bilhões de pessoas, mais de um quarto da população mundial, que hoje está em torno de 10 000 dólares, triplicará até 2031. Composto principalmente de chineses e indianos, esse contingente terá o padrão de consumo de carros, geladeiras, computadores e celulares equivalente ao de um americano hoje. Em termos de energia, isso representa um enorme desafio. Pegue-se o exemplo do petróleo: o novo padrão de vida levará cada asiático a queimar catorze barris diários, em lugar dos três atuais. Para suprir a demanda energética com o acréscimo dessa legião de novos abastados da Ásia e, em menor escala, da América Latina, a produção mundial de energia terá de crescer pelo menos 30% nos próximos dez anos. Um estudo da Cera prevê um aumento de 75% na demanda mundial de energia para os próximos vinte anos.

O PETRÓLEO NÃO VAI ACABAR
Já anunciada em 1880, ao fim da II Guerra e novamente nos anos 1970, a morte do petróleo está longe de se tornar realidade. A produção cresceu cinco vezes desde o fim dos anos 1950 e continua a aumentar. As reservas atuais são estimadas em 5 trilhões de barris. Para se ter uma ideia do que isso significa, extraiu-se 1 trilhão de barris desde o início da indústria petrolífera, no século XIX. Novas tecnologias não apenas permitiram a exploração de jazidas já dadas como esgotadas. Também tornaram economicamente viável o aproveitamento de reservas cuja exploração antes era considerada cara demais para valer a pena. O crescimento do setor de extração de óleo em águas profundas é um exemplo. Desde 2000, a produção no fundo dos oceanos subiu de 1,5 milhão de barris diários para os atuais 5 milhões. Nem o acidente com a plataforma Deepwater Horizon no ano passado, no Golfo do México, abalou o entusiasmo com esse tipo de exploração. A maior preocupação não deve ser com o esgotamento das reservas petrolíferas, mas com o aumento da demanda. Neste ritmo de crescimento, o petróleo não vai dar conta de abastecer o mundo sozinho.

O TROPEÇO DA ESPERANÇA NUCLEAR
O terremoto que atingiu o Japão, provocando vazamentos e incêndios na usina de Fukushima, teve efeito devastador no renascimento da indústria nuclear. Fukushima foi o pior incidente no setor desde a explosão de Chernobyl, na Ucrânia, um quarto de século atrás, e esmaeceu a esperança depositada nessa fonte energética. Na crise do petróleo de 1973, a energia nuclear representava 1% da matriz energética mundial. Atualmente, responde por 5,8%. Até o incidente no Japão, a estimativa era que o porcentual ultrapassaria rapidamente os dois dígitos. Mas já não será assim. Isso não significa, contudo, que a energia produzida pela fissão dos átomos será abandonada ou que a maioria das usinas acabará desativada. Os 58 reatores em operação são responsáveis por 80% da energia consumida na França, por exemplo - e isso não vai mudar de uma hora para a outra. O problema é o aumento do receio em relação a acidentes. Isso cria um freio à disseminação da tecnologia para países que poderiam se beneficiar dela. Há também uma preocupação política. Construir novos reatores significa ampliar o acesso ao material e à tecnologia nuclear. É grande o risco de que esse conhecimento caia em mãos erradas.

O PREÇO DA PRIMAVERA ÁRABE A repercussão das revoltas no Egito, na Líbia e na Tunísia que eclodiram no decorrer deste ano deve ser avaliada em dois patamares.
No curto prazo, a primavera árabe provocou aumento no preço do petróleo. Em março, com a rebelião na Líbia, o barril subiu para 107 dólares, o maior preço em dois anos e meio. E a Líbia é responsável por apenas 1,5% da produção mundial. Mais complicado é o abalo no equilíbrio de forças que predominou nos últimos quarenta anos no Oriente Médio, região responsável por 40% do suprimento e por dois terços das reservas mundiais. Quando o Iêmen e a Síria também foram engolfados por distúrbios, ficou evidente que o processo de desestabilização está longe de ter terminado. Não há como prever as repercussões de todas essas mudanças políticas para o setor petrolífero.

A AMEAÇA DOS AIATOLÁS DO IRÃ
A vulnerabilidade do setor energético é sempre motivo de preocupação. O temor de tempos difíceis aumenta com a possibilidade real de o Irã construir uma bomba atômica. A probabilidade de o Irã desfechar um ataque à Arábia Saudita, o maior produtor mundial de petróleo, se torna cada vez maior. Se isso ocorrer, dezenas de países poderão ficar sem combustível. Um Irã fortalecido também aumentaria o risco de ataques terroristas cibernéticos às redes de energia, hoje totalmente digitalizadas. Em menos de um centésimo de milissegundo, um hacker pode interromper a rede de energia de vários países. "Apagar um sistema elétrico causa bem mais danos do que um blecaute. Pode imobilizar uma sociedade inteira", escreve Yergin.

A FÓRMULA PARA SALVAR O MUNDO 
Nenhuma das energias renováveis conhecidas é capaz de suceder ao excremento do diabo, apelido que o venezuelano Juan Pablo Pérez Afonso, o fundador da Opep, deu para o petróleo. Apenas algo muito inovador, uma espécie de Google do setor energético, e que ainda não existe, conseguiria desbancar a hegemonia do petróleo. Enquanto isso, Yergin sugere a adoção de uma receita óbvia: a economia de energia. "Só carros, aviões, computadores, prédios e celulares mais eficientes, que consumam menos combustível e eletricidade, serão capazes de salvar o mundo", escreve. A síntese da mensagem de Yergin pode ser encontrada nesta frase de seu novo livro: "Energia é um bem precioso demais para ser desperdiçado".

TERMELÉTRICA OCIOSA FATURA MAIS
O sistema brasileiro de geração de energia elétrica abriga uma peculiaridade: as usinas termelétricas dão mais lucro quando ficam paradas do que quando produzem - e essa remuneração pela ociosidade é paga pelo contribuinte. Para entender por que ocorre essa contradição, é preciso saber como a eletricidade é produzida no Brasil. Com pequenas variações que dependem das estações do ano, 88% dela vem das usinas hidrelétricas, 9% das termelétricas, 2% das nucleares e 1% das eólicas. A operação das usinas é controlada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), cuja atribuição é garantir que o consumo seja atendido sempre ao menor custo. Como o menor custo é sempre das hidrelétricas, já que elas não usam combustível, as termelétricas entram em ação apenas nos períodos em que os reservatórios das hidrelétricas estão muito baixos, em razão da falta de chuva. Ocorre que o contrato feito pelo ONS com as termelétricas prevê duas modalidades de remuneração. A primeira paga as despesas operacionais e com combustível que elas têm ao gerar energia. A quantia é calculada com base na expectativa de geração futura da usina. A segunda modalidade é uma espécie de taxa de aluguel - a usina é remunerada apenas por estar a postos sempre que o ONS precisar de seus serviços. O dinheiro entra nos cofres da empresa dona da termelétrica sem que uma única turbina seja acionada. Nos períodos em que está paralisada, como não tem despesas operacionais, tudo o que entra é receita. Algumas termelétricas cobram mais caro pelos períodos ociosos a fim de diminuir o preço cobrado pela energia que efetivamente produzem. "Não se trata de mamata, mas de uma segurança necessária para o país em caso de falta de água nos reservatórios das hidrelétricas", diz Walter Fróes, diretor da CMU, uma das maiores empresas de comercialização de energia do Brasil.

Fonte: http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/energia/daniel-yergin-combustivel-futuro-eficiencia-655587.shtml?func=1&pag=1&fnt=9pt

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Quer ver algo?