O melhor remédio.
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
Em tese, têm os mesmos deveres para com as pessoas - espantadas ou não -, mas esta é outra parte da história.
Se a realidade não combina com nossas expectativas, de duas, uma: ou aceitamos ou nos movimentamos para evitar tais dissabores. Berrar, insultar, esbravejar contra os absurdos alivia, mas não resolve.
Manifestos via internet fora do período eleitoral, tampouco. Vale lembrar que o projeto que resultou na Lei da Ficha Limpa para candidatos chegou ao Congresso em setembro de 2009.
Dormiu em berço esplêndido até abril de 2010, quando suas excelências foram instadas a acordar devido à proximidade das eleições gerais de outubro, boa parte confiando que a lei seria declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal.
O trabalho, portanto, é mais árduo. Começa pela consciência de que quanto mais longe da política o cidadão estiver, quanto mais rejeição ele manifestar por esse ambiente, acreditando que a exibição de repúdio o exime de responsabilidades, pior ficará.
O historiador britânico Arnold Toynbee resume a ópera em uma frase: "O maior castigo para aqueles que não se interessam por política é que serão governados pelos que se interessam".
É isso. Se as pessoas ficarem no conforto do nojinho inconsequente e sem compromisso com coisa alguma a não ser com a conversa que se joga fora, vale pouco ou quase nada gritar que o pastor apontado como homofóbico não pode presidir a Comissão de Direitos Humanos da Câmara, que o suspeito de ter recebido dinheiro indevido quando secretário de Educação não pode se sentar na presidência da Comissão encarregada da área, que o deputado condenado não pode assumir mandato, que o réu não pode comandar a Comissão de Constituição e Justiça, que o denunciado pelo Ministério Público não deveria presidir o Senado.
Uma vez contados os votos, legitimada a eleição, mandatos empossados, senhoras e senhores, Inês é morta.
O jeito que se pode dar é antes. Votando bem? Fundamental, mas não suficiente. O interesse pelo que se passa no País é o primeiro passo. O hábito de usar de discernimento para avaliar o que se vê e ouve é outro.
Informar-se, essencial. Chamar o parente, o amigo, o colega de trabalho a perceber que da junção de forças individuais é que se movimenta o coletivo, providencial.
Compreender o básico sobre a importância e o funcionamento das instituições, indispensável.
É difícil? O cidadão tem mais o que fazer? O assunto não é interessante? Pois, então, os que se interessam por ele desde já e para sempre penhorados, agradecem.
São nunca. A presidente Dilma Rousseff já não está com essa popularidade toda entre o empresariado. Ficará entre a cruz e a caldeirinha se realmente levar concretizar a promessa feita às centrais sindicais de "examinar" a redução da jornada de trabalho sem diminuição de salário.
Sendo obviamente a primeira a ter plena consciência da sinuca, o mais provável é que a presidente deixe o assunto para o Congresso, catedrático na arte do empurra.
Mau sinal. Deixa um desagradável aroma de tutela no ar a declaração do ministro da Defesa da Venezuela exortando a população e as Forças Armadas a cumprirem a "missão" de eleger Nicolás Maduro como sucessor de Hugo Chávez.
Diferentemente do Brasil, lá o ministro da Defesa é militar, almirante Diego Molero.
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