Não sei se vou ou se fico?
Outro dia, em
uma conversa à toa em um restaurante da cidade, observava ao longe um casal de
amigos tecendo diálogo caloroso sobre a querela de sair ou não do Brasil para viver
em países tidos como desenvolvidos (EUA, UE, Canadá, até Chile, mesmo passando por
momentos ruins).
Ao término de meu
almoço, fui chamado para ajuizar a situação, e que situação que fiquei!
Entretanto, especialmente neste momento de diversas crises que nosso país
passa, e com perspectivas negativas para um futuro próximo, os argumentos de um
dos lados parecia se sobressair, e talvez minha tarefa mediadora não fosse se
complicar tanto como presumira. Ledo engano, quando o debate sadio e lógico se
pauta entre pessoas que sabem argumentar criticamente com fatos bem delineados,
pois teoricamente fazem parte de uma pequena parcela da sociedade que conseguiu
adquirir um pouco mais de cultura geral (ambos eram Doutores nas suas
respectivas profissões, a saber, ele em Biomedicina, e ela em Neurociência),
com vivência já consagrada em outros países (fizeram seus Doutorados no
exterior, além de viagens a passeio ou a negócio), fica mito complexo opinar
pendendo para um lado.
Vejamos que há
argumentos sólidos para ambos os lados, fora os que se pautam na esfera
emocional, familiar, afinal temos uma vida familiar fora da profissional, e
dinheiro e sucesso também devem estar atrelados ao sucesso na vida pessoal e
familiar.
Ante a lide
soberba, com meus modestos prólogos, afinal não me enquadro, ainda, na paleta
cultural deles, teci contra-argumentos para ambos os lados. Estamos versando
sobre pessoas que são empresárias de médio a grande porte, e construíram
exatamente seus patrimônios (intelectual e material) com a caminhada nas
condições internas do país, que, mesmo árduas em alguns momentos, o propiciaram
o crescimento.
Resumi a
querela com dois pontos, um tomando a referência das pessoas, e possivelmente
dos profissionais liberais, onde uma tentativa de vida em países desenvolvidos
nas suas respectivas áreas pudesse render bons frutos (a eles e ao país
desenvolvido que os acolhia). Estas circunstâncias de vislumbre próspero na
vida profissional e qualidade de vida emocional para a família (reduzidíssima
violência, estrutura maravilhosa, educação em alto nível para os filhos, saúde,
transporte, etc.) pesam muito na hora da decisão, quem não queria unir o útil
ao agradável?
Já o ponto
pautado nos profissionais empresários, aí a figura talvez mude um pouco, pois mesmo
com elevados tributos, excesso de burocracia e entraves diversos, falta de
incentivos do governo, aliados à crise econômica, fiscal, política e social,
não necessariamente, dependendo do ramo de negócio e da qualificação e preparo
atrelada ao capital disponível para investir, representa uma ameaça. O ramo
médico é crescente em nosso país, e profissionais de alto gabarito se destacam,
pois quem não busca o melhor em se tratando de saúde? Lógico que me refiro ao
nicho de mercado adequado, afinal o empreendimento deles já era voltado para as
classes média-alta e alta. Confessaram-me que mesmo na crise cresceram muito, e
devido ao povo brasileiro estar acostumado a pagar altos custos por produtos
e/ou serviços que nem sempre são compatíveis com o investimento (carros, planos
de saúde, serviços de telefonia, TV, internet, SUS, educação, etc.), viram que
oferecendo serviços realmente justos e de alto nível, poderiam cobrar
tranquilamente um custo compatível, que os clientes entenderiam que pagavam
caro, mas obtinham em troca exatamente o que queriam em qualidade e quantidade,
que por vezes até superavam as expectativas.
Nesta toada,
recentemente abriram um setor para apoiar as classes inferiores. Não se tratava
de medicina populista, mas uma forma de colaborar com o povo, pois os mesmos profissionais
que atuavam de um lado A, vinham para o E, com os mesmos qualitativos de
tratamento. A diferença residia entre os opostos no fato da quantidade e serviços
VIPs, bem como de exames complexos não cobertos neste lado mais humilde. O
sucesso foi inevitável!
Lógico que de
quebra lucraram como nunca, pois o SUS não funciona em muitos casos, e os
planos privados de grande porte estão inchados e quase iguais ao SUS.
Ao final do papo
de restaurante, todos saíram satisfeitos, eu pela mediação sem comprometimento
(???), eles por terem decidido ficar e tentar mais um pouco a vida em nosso
país, mas mantendo os olhos abertos para as oportunidades externas.