ENERGIA EÓLICA
Motivado por fatores como a alta dos preços do petróleo e o combate ao aquecimento global, o crescimento da busca por energias limpas já é uma realidade em muitos países. De acordo com um relatório divulgado em 2008 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), os investimentos em energia renováveis no mundo em 2007 foram ampliados em 60% (US$ 148 milhões), se comparados ao ano de 2006. Neste cenário, a energia eólica liderou os esforços globais, concentrando US$ 50,2 bilhões de investimentos.
A expansão mundial da energia eólica se apóia especialmente no fato de ser produzida a partir de uma fonte inesgotável. Ela permite diversificar as matrizes energéticas sem causar danos ao meio ambiente, já que o processo de geração é totalmente limpo e não envolve a emissão de gases poluentes que contribuem para o aquecimento global. “No nosso parque, evitamos a emissão de 148 mil toneladas de dióxido de carbono na atmosfera por ano”, informa Telmo Magadan, presidente da Ventos do Sul Energia, empresa que está à frente do Parque Eólico de Osório (RS), o maior da América Latina, com potência instalada de 150 MW e capacidade de abastecer uma cidade de 750 mil habitantes.
Outro ponto importante na questão da energia eólica é o fato de que as usinas não causam impactos negativos nas regiões onde são instaladas, contrastando, por exemplo, com as hidrelétricas, que demandam intervenções na natureza, trazendo uma série de conseqüências danosas para o meio ambiente e o homem. “Não tivemos uma transformação na área de instalação de nossa usina. As fazendas e as propriedades continuam normalmente suas atividades de agropecuária e suinocultura”, explica Telmo.
“As áreas onde funcionam os parques eólicos mantêm as suas atividades originais“, confirma Eduardo Lopes, gerente do departamento de desenvolvimento de negócios da Wobben Windpower, empresa brasileira de capital alemão que fabrica aerogeradores de grande porte e trabalho com projeto, construção, montagem, operação e manutenção de usinas eólicas. “A energia eólica não tem contra-indicação e utiliza um combustível de custo zero. Além de tudo, é estratégica. Ninguém controla o vento. Ele não tem fronteiras, não tem país”, complementa.
O caráter complementar desse tipo de energia também é ressaltado pelos especialistas, especialmente se combinado com fontes hídricas, já que os ventos ganham mais força justamente nos períodos de escassez de chuvas. “Recentemente, tivemos problemas de seca no Rio Grande do Sul e, coincidentemente, o Parque de Osório estava funcionando a plena potência”, conta Telmo Magadan.
NA CONTRAMÃO DOS VENTOS
Contrariando a tendência mundial, o desenvolvimento da energia eólica no Brasil ainda se mostra tímida, especialmente quando se constata o enorme potencial do País. Segundo o Atlas Eólico, a capacidade a ser explorada está no patamar de 143 mil MW e a produção e a produção, ao longo dos últimos anos, alcançou apenas 247 MW. “Esse Atlas foi feito em 2001. Na época, as torres trabalhavam com uma medição de 50m de altura. Hoje, elas são mais altas e, se o Atlas for refeito, provavelmente veremos que o potencial é ainda maior”, explica Eduardo Lopes.
O Brasil conta com usinas em operação espalhados pelo NE e S, principalmente, e destacamos: Ceará (Taíba, Prainha e Mucuripe), Paraíba (Millennium), Paraná (Palmas), Santa Catarina (Bom Jardim da Serra, Horizonte e Água Doce), Rio Grande do Norte (Macau e Rio do Fogo) e Rio Grande do Sul (Osório, Sangradouro e Índios). Envolvida na instalação de todos os parques eólicos em operação no País, a Wobben elevou a produção no setor a 340 MW, nos últimos anos, com a conclusão de novos projetos.
Com um vasto campo a ser explorado, o potencial eólico brasileiro encontra ótimas condições naturais em locais como o Nordeste – especialmente Ceará e Rio Grande do Norte e interior da Bahia – e em Estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina. “Entre as virtudes do vento no Brasil, o Nordeste se destaca, porque os ventos são sempre a mesma direção. Tecnologicamente, isso simplifica muito a construção dos parques eólicos”, explica Lauro Fiúza Junior, presidente da ABEEólica (Associação Brasileira de Energia Eólica).
Se o volume de investimentos ainda não é o ideal, os representantes do setor já começam a vislumbrar um horizonte mais promissor para o mercado da energia eólica. “Está tendo uma aceitação melhor. O governo brasileiro já entendeu que não dá pra ir na contramão do que está acontecendo no mundo inteiro”, opina Eduardo Lopes.
Um dos fatores que contribuíram para o aquecimento do setor foi o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia). Criado em 2002 e regulamentado em 2004, o programa previa um investimento de R$ 8,6 bilhões para a geração de 3.300 MW de energia, que seria gerada por fontes eólicas, biomassa e pelas PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas), cada uma produzindo 1.100 MW.
A primeira fase do Proinfa seria finalizada em 2006, porém, essa primeira etapa acabou sendo prorrogada e foi concluída em 2009. Apesar de algumas distorções na execução do programa, Eduardo Lopes vê pontos positivos no Proinfa. “O que o projeto trouxe de bom foi a garantia de compra e a definição de uma tarifa atrativa para o mercado, o que motivou o interesse de vários investidores, principalmente do exterior”, afirma.
O fator econômico é justamente o alvo principal das críticas à utilização da energia eólica, que seria extremamente cara e, por esse motivo, não justificaria investimentos. “Energia cara é aquela que você não tem”, afirma Eduardo Lopes, ressaltando que, ao contrário de fontes como o gás, a energia eólica não está sujeita a problemas estratégicos, como variação cambial, corte de fornecimento e flutuação de mercado. “É uma das poucas formas de energia que o custo de geração é debitado exclusivamente no investimento. Depois disso, você sabe exatamente quanto ela vai custar. Todas as demais fontes dependem de outros fatores”, concorda o presidente da ABEEólica, Lauro Fiúza Junior, acrescentando: “A energia eólica tem um grande crédito pelo custo evitado. Ela deve ser vista dentro de um contexto global. Não pode ser pensada isoladamente, mas, sim, num sistema interligado, contribuindo para a queda do preço da energia. Antes de ser barata, qualquer fonte tem que ser farta, permanente e confiável”.
Com o objetivo de derrubar a ideia de que a energia eólica seria supérflua, cara e desnecessária, a ABEEólica vem trabalhando para comprovar a viabilidade econômica dessa fonte. “Fizemos um estudo considerado o maior custo das fontes energéticas versus o custo operacional de cada uma delas. A energia eólica começa a ser equivalente à energia térmica a partir de 12 dias. Em 60 dias, em média, ela se mostra mais viável do que qualquer tipo de energia”, diz Lauro Fiúza Junior.
O presidente da Ventos do Sul, Telmo Magadan, também destaca o fator tecnológico na questão do custo da energia eólica. “A tecnologia vem crescendo muito no setor. Hoje, já existem máquinas que otimizam a capacidade de geração com a mesma quantidade de ventos”, revela.
PRESTES A DECOLAR
Sinalizando uma mudança de postura, o governo brasileiro através do Ministério de Minas e Energia, confirmou a realização de mais leilões específicos para a compra de energia eólica que ocorrem desde 2009. A iniciativa vai ao encontro das reivindicações dos representantes do setor. “O mercado está pedindo que esses leilões sejam realizados regularmente. O que mais atrapalha são os espasmos, a falta de continuidade”, diz Eduardo Lopes, que destaca ainda outras medidas possíveis para estimular o mercado, como programa de incentivo, metas de inserção na matriz, tarifas que viabilizem os empreendimentos e uma política específica e de longo prazo.
Um projeto de grande alcance também é necessário, segundo Lauro Fiúza. “Para que realmente nasça uma indústria forte e um parque eólico robusto, o mais importante é um programa que sinalize a quantidade de energia a ser comprada ou que garanta essa compra. A energia eólica agrega muita segurança ao sistema energético brasileiro, além de ser um gerador de empregos qualificados”, afirma.
COMO FUNICONA
Para produzir energia elétrica, a energia eólica utiliza turbinas, ou aerogeradores, cujas pás são acionadas quando o vento atinge uma determinada velocidade, colocando em movimento, no sentido rotacional, um gerador de eletricidade instalado no topo de uma torre. Uma vez produzida a energia elétrica, seu transporte é feito por uma rede de cabos subterrâneos até uma subestação coletora, que permanece interligada à rede elétrica de uma concessionária. Assim, a energia acaba indo diretamente para o abastecimento de residências, indústrias e comércios.
Fonte: Revista Online – aquecimento global, ano 1, nr 7.